Jarbas de Holanda
Jornalista
Teve muita semelhança a avaliação econômica feita ontem pelos grandes veículos da imprensa sobre o anúncio do marco regulatório e das demais propostas do governo para a exploração das reservas de petróleo e gás da camada pré-sal. Avaliação evidenciada nos títulos e principais matérias a respeito do tema: do Valor – Pré-Sal reforça viés estatizante”, e “Petro-sal terá poder para vetar consórcios privados”, do Estadão – “Regras do pré-sal ampliam poder do Estado na exploração do petróleo”, do Globo – “Regras estatizantes para pré-sal assustam mercado. Ações da Petrobras caem 4,4%. Empresários podem contar investimentos” e “De volta ao passado. Reservas do pré-sal serão controladas pela União, como na época do monopólio da Petrobras”. Da Folha – “Lula lança pré-sal com ataque a tucanos. Tom político, nacionalista e estatizante, marca anúncio de propostas que irão ao congresso” e “Lula inaugura a desprivatização”.
Quanto aos objetivos propriamente políticos da iniciativa, com a tramitação dos projetos do pré-sal, sobretudo em regime de urgência, o Palácio do Planalto e o seu aliado básico, o PMDB, esperam - com boa chance de conseguirem – deixar para trás a crise do Senado, bem como esvaziar a CPI da Petrobras, trocando-as (de setembro em diante) pelo debate e pelas manchetes correspondentes a respeito do pré-sal. E o regime de urgência reforçará a predominância desse debate, o que explica porque o presidente Lula, que o havia dispensado, atendendo a pedido do governador José Serra, decidiu afinal utilizá-lo no encaminhamento dos projetos, acolhendo recomendação tática do senador Renan Calheiros.
Outro propósito importante buscado com a mudança da pauta das duas casas do Congresso é a alavancagem da candidatura de Dilma Rousseff, por meio de sua promoção como principal estrela do pré-sal. Alavancagem tornada indispensável com as avarias sofridas nos últimos meses pela imagem da ministra e candidata em decorrência de problemas gerenciais (como o precário andamento das obras do PAC) e de natureza política – o desgaste na polêmica com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, e a quebra da perspectiva da polarização Lula-PSDB na disputa presidencial, em face da emergência do cenário das candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes.
Foi justamente o desígnio de retomada dessa polarização que levou o presidente Lula a aproveitar o anúncio das propostas sobre o pré-sal para fazer fortes ataques ao governo do antecessor FHC. Postura assim tratada na reportagem de capa da Folha: “Numa continuação da retórica usada contra tucanos no segundo turno de 2006 e numa indicação de rumo para a campanha governista de 2010, Lula busca colocar seu governo como o oposto da gestão tucana no cada vez mais importante setor do petróleo”.
“Lição esquecida”
(Trechos de artigo de Rubens Ricupero,
na Folha de domingo último)
“Como reagiríamos se o coronel Chávez tivesse visitado o nosso presidente na campanha de 2006 para anunciar-lhe centenas de milhões de dólares e favorecimento nas importações a fim de ajudá-los na reeleição? Esse ato explícito de intervenção praticado (há pouco) pelo presidente Lula na política interna boliviana soma-se a outros de seus auxiliares em violação do princípio básico de diplomacia: a não ingerência”.
Sobre o recente encontro da Unasul: “A reunião do órgão em Bariloche se concentrou no acordo militar Colômbia-EUA, mas esse tema é inseparável de dois outros: a guerrilha e o narcotráfico, cada vez mais entrelaçados. Será razoável ver os colombianos condenados a bater às portas de Washington quando os vizinhos não escondem a simpatia ideológica pela guerrilha? E não conseguem (talvez nem tentem) evitar que seus territórios sejam usados pelos insurretos como santuário ou para obter armas?”. “Cem anos atrás, o barão do Rio Branco propunha à Argentina e ao Chile o pacto do ABC. Cada pais se comprometeria a impedir a organização em seu território de expedições armadas de exilados para promover guerra civil nos dois outros países. Em caso de insurreição, proibia-se qualquer comércio com insurgentes, que seriam desarmados ao passarem a fronteira”.
“Por que exigir garantia apenas da Colômbia (sobre o acordo com os EUA), sem cobrança análoga da Venezuela em relação às ameaças multiplicadas por Caracas e ao desvio para a guerrilha de armas pesadas importadas da Suécia? Nem do Equador no que se refere ao uso do seu território por líderes das Farc como os mortos em incursão colombiana?”
Jornalista
Teve muita semelhança a avaliação econômica feita ontem pelos grandes veículos da imprensa sobre o anúncio do marco regulatório e das demais propostas do governo para a exploração das reservas de petróleo e gás da camada pré-sal. Avaliação evidenciada nos títulos e principais matérias a respeito do tema: do Valor – Pré-Sal reforça viés estatizante”, e “Petro-sal terá poder para vetar consórcios privados”, do Estadão – “Regras do pré-sal ampliam poder do Estado na exploração do petróleo”, do Globo – “Regras estatizantes para pré-sal assustam mercado. Ações da Petrobras caem 4,4%. Empresários podem contar investimentos” e “De volta ao passado. Reservas do pré-sal serão controladas pela União, como na época do monopólio da Petrobras”. Da Folha – “Lula lança pré-sal com ataque a tucanos. Tom político, nacionalista e estatizante, marca anúncio de propostas que irão ao congresso” e “Lula inaugura a desprivatização”.
Quanto aos objetivos propriamente políticos da iniciativa, com a tramitação dos projetos do pré-sal, sobretudo em regime de urgência, o Palácio do Planalto e o seu aliado básico, o PMDB, esperam - com boa chance de conseguirem – deixar para trás a crise do Senado, bem como esvaziar a CPI da Petrobras, trocando-as (de setembro em diante) pelo debate e pelas manchetes correspondentes a respeito do pré-sal. E o regime de urgência reforçará a predominância desse debate, o que explica porque o presidente Lula, que o havia dispensado, atendendo a pedido do governador José Serra, decidiu afinal utilizá-lo no encaminhamento dos projetos, acolhendo recomendação tática do senador Renan Calheiros.
Outro propósito importante buscado com a mudança da pauta das duas casas do Congresso é a alavancagem da candidatura de Dilma Rousseff, por meio de sua promoção como principal estrela do pré-sal. Alavancagem tornada indispensável com as avarias sofridas nos últimos meses pela imagem da ministra e candidata em decorrência de problemas gerenciais (como o precário andamento das obras do PAC) e de natureza política – o desgaste na polêmica com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, e a quebra da perspectiva da polarização Lula-PSDB na disputa presidencial, em face da emergência do cenário das candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes.
Foi justamente o desígnio de retomada dessa polarização que levou o presidente Lula a aproveitar o anúncio das propostas sobre o pré-sal para fazer fortes ataques ao governo do antecessor FHC. Postura assim tratada na reportagem de capa da Folha: “Numa continuação da retórica usada contra tucanos no segundo turno de 2006 e numa indicação de rumo para a campanha governista de 2010, Lula busca colocar seu governo como o oposto da gestão tucana no cada vez mais importante setor do petróleo”.
“Lição esquecida”
(Trechos de artigo de Rubens Ricupero,
na Folha de domingo último)
“Como reagiríamos se o coronel Chávez tivesse visitado o nosso presidente na campanha de 2006 para anunciar-lhe centenas de milhões de dólares e favorecimento nas importações a fim de ajudá-los na reeleição? Esse ato explícito de intervenção praticado (há pouco) pelo presidente Lula na política interna boliviana soma-se a outros de seus auxiliares em violação do princípio básico de diplomacia: a não ingerência”.
Sobre o recente encontro da Unasul: “A reunião do órgão em Bariloche se concentrou no acordo militar Colômbia-EUA, mas esse tema é inseparável de dois outros: a guerrilha e o narcotráfico, cada vez mais entrelaçados. Será razoável ver os colombianos condenados a bater às portas de Washington quando os vizinhos não escondem a simpatia ideológica pela guerrilha? E não conseguem (talvez nem tentem) evitar que seus territórios sejam usados pelos insurretos como santuário ou para obter armas?”. “Cem anos atrás, o barão do Rio Branco propunha à Argentina e ao Chile o pacto do ABC. Cada pais se comprometeria a impedir a organização em seu território de expedições armadas de exilados para promover guerra civil nos dois outros países. Em caso de insurreição, proibia-se qualquer comércio com insurgentes, que seriam desarmados ao passarem a fronteira”.
“Por que exigir garantia apenas da Colômbia (sobre o acordo com os EUA), sem cobrança análoga da Venezuela em relação às ameaças multiplicadas por Caracas e ao desvio para a guerrilha de armas pesadas importadas da Suécia? Nem do Equador no que se refere ao uso do seu território por líderes das Farc como os mortos em incursão colombiana?”
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