terça-feira, 13 de outubro de 2009

Retorno de Zelaya trava pacto em Honduras

Ana Flor e Fabiano Maisonnave
Enviados Especiais a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Apesar de entendimentos pontuais entre emissários do governo interino e do deposto, divergência sobre restituição empaca acordo

Substituição de negociador no time de Zelaya indica que ele desistiu de Constituinte, mas grupo de Micheletti espera mostra mais enfática

Um dos principais negociadores do governo interino de Roberto Micheletti disse ontem que há poucas chances de que um acordo que dê fim à crise política seja concluído hoje, em contraste com o que esperam envolvidos nas conversas mais otimistas.

Segundo o negociador, o único ponto em que há poucas chances de acordo é o mais nevrálgico: o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder. A avaliação é que Zelaya continua pedindo muito, sem dar garantias. Entre as exigências consideradas descabidas está a volta à Presidência com poderes semelhantes ao de antes do golpe de 28 de junho.

O negociador também critica a falta de comprometimento do time de Zelaya com a ideia de descartar uma Constituinte. Oficialmente, o grupo do presidente deposto disse que não insiste mais no processo de mudança da Constituição.

Na sexta, quando as conversas entre os dois grupos foram suspensas para que, no feriado, houvesse consultas privadas, os negociadores se diziam otimistas. Chegaram a comemorar o consenso sobre 60% dos pontos do Acordo de San José, texto-base do diálogo. "Porcentagem é relativo", disse ontem um negociador de Micheletti.

Para ele, se não há acordo sobre o ponto principal -a volta de Zelaya- todo o resto fica comprometido. O grupo de Micheletti aposta que um processo prolongado de negociações possa desgastar a força -já reduzida- de Zelaya.

Um dos negociadores do presidente deposto, Victor Meza, disse ontem que os dois pontos finais do acordo devem ser negociados entre hoje e amanhã.

O prazo dado por Zelaya para um acordo termina na quinta. Mesmo assim, o deposto não afirmou o que fará caso não se chegue a um consenso até lá.

John Biehl, representante da OEA (Organização dos Estados Americanos) nas conversas, afirmou que não pode prever se haverá acordo, mas disse que outras formas para resolver a volta de Zelaya estão na mesa. Para o time de Micheletti, o ideal seria uma terceira pessoa assumir o poder. Segundo seus negociadores, poderia haver acordo se deposto voltasse sob um gabinete pré-definido.

Zelaya trocou ontem o delegado que representa a incipiente esquerda hondurenha da mesa de negociações com o governo interino. Com a decisão, que será formalizada hoje, sai o líder sindical esquerdista Juan Barahona, que nunca tira um boné do Che Guevara, para entrar o advogado e empresário Rodil Rivera Rodil, um moderado das filas do Partido Liberal fiéis ao presidente deposto.

A mudança mostra que Zelaya está disposto a ceder na convocação de uma Constituinte, um dos pontos mais importantes da crise, mas sem comprometer a Frente Nacional da Resistência (FNR), que reúne dezenas de organizações esquerdistas e planeja continuar impulsando uma nova Carta.

Zelaya tem adotado o discurso de que a convocação não foi feita por ele, mas "pelo povo", e que, portanto, o processo não está em suas mãos. Ou seja, mesmo que ele desista, a proposta continua via FNR, que se encaminha para se transformar em partido político.

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