terça-feira, 17 de novembro de 2009

PT quer atrasar Rodoanel para atrapalhar Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Plano é afundar governo estadual em investigações sobre desmoronamento, para retardar obra e evitar que tucano tire proveito eleitoral dela em 2010

Clarissa Oliveira e Julia Duailibi

Depois de passar os últimos dias sob a mira dos tucanos por causa do apagão ocorrido na semana passada, o PT quer aproveitar o desabamento de três vigas nas obras do Trecho Sul do Rodoanel para dificultar os planos do PSDB para a corrida presidencial de 2010. A estratégia, aplicada pelo PT paulista com aval do comando nacional da sigla, é afundar a administração estadual em investigações, para evitar que o governador José Serra (PSDB) capitalize os dividendos eleitorais da obra.

O PT avalia que, se emplacar pedidos de análise técnica e vistorias, Serra não conseguirá entregar a obra na data prevista, em 27 de março, e pode até ter dificuldades para inaugurá-la em 2010. Cotado para concorrer ao Palácio do Planalto, Serra terá de se desincompatibilizar até abril, se decidir disputar. Pelo cronograma, ele entregaria a obra antes de sair. E a implantação do pedágio ficaria a cargo de seu substituto.

O PT tem batido de frente com o Tribunal de Contas da União (TCU) após a paralisação de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), bandeira eleitoral da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O plano é criar uma situação parecida em São Paulo.

A sigla pediu a instauração de auditoria especial ao Tribunal de Contas do Estado e entrou com representação no Ministério Público Estadual. Para completar, o presidente da Comissão de Serviços e Obras Públicas da Assembleia, deputado Simão Pedro (PT), tentará convocar o secretário de Transportes, Mauro Arce, para prestar esclarecimentos. Alguns deputados se movimentaram para ressuscitar um pedido de CPI. Mas o comando do PT já se dizia ciente de que não haverá tempo nem votos para aprovação.

RESPOSTA

Nos bastidores, petistas não disfarçavam a satisfação em usar o episódio para responder aos ataques que receberam após o apagão que atingiu 18 Estados na terça-feira passada. A partir de hoje, o PSDB deve levar o tema do blecaute para o rádio e televisão, nas inserções partidárias a que tem direito.

Mas dirigentes petistas procuraram baixar o tom. "O PT não pode se omitir. Mas não vamos partidarizar essa questão como fizeram conosco", disse o presidente PT-SP, Edinho Silva. Outros levantaram a suspeita de que o acidente do Rodoanel teria resultado da pressa em concluir as obras. "Você não pode imprimir ao cronograma de obras o calendário eleitoral", afirmou o líder do PT na Assembleia, deputado Rui Falcão.

Ciente de que a oposição na Assembleia tentará fazer "barulho", o Palácio dos Bandeirantes decidiu que vai "despolitizar" ao máximo a questão. O acidente deverá ser tratado como um fato "administrativo". Tucanos avaliam que o acidente no Rodoanel tem diferenças com o apagão. A primeira delas diz respeito ao investimento. O PSDB trará à tona a todo momento que a obra trata-se do maior investimento no sistema rodoviário do País, enquanto o apagão teria se dado pela falta de investimento.

Outra diferença está na comunicação. Enquanto o governo federal bateu cabeça para dar uma resposta sobre o blecaute, o governo do Estado teria sido claro. "O próprio governo foi prudente. Enquanto não definir as causas, a obra estará paralisada", disse o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal.

O governo avalia que a oposição na Assembleia não terá votos suficientes para instalar a CPI.
Tampouco conseguirá aprovar a convocação de Mauro Arce. A ida do secretário à Assembleia, no entanto, não está descartada. "Se for convocar apenas para mostrar a habilidade cênica dos deputados de oposição, aí é evidente que não", afirmou o líder do governo na Assembleia, deputado Vaz de Lima (PSDB) sobre a ida de Arce à Assembleia.

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