Como diria nosso Vinicius: “bolhas, melhor não tê-las, mas, se não tê-las, como sabê-las?”
A bolha é, na Economia, um sinal de que a confusão vem aí, mas o problema é que ela se confunde com a sensação de que tudo vai muito bem, melhor do que se esperava. Preços, lucros e ações sobem, o PIB desperta alegrias gerais – quem vai se preocupar em levar a sério qualquer sintoma de “exuberância irracional”, na enxurrada de números simpáticos que governos, empresários, corretores, analistas e até economistas em geral confiáveis espalham diariamente (minutariamente nestes tempos de internet)?
A bolha está por ali, disfarçada em papéis de várias naturezas – até dinheiro vivo – mas o real significado de suas letras e números deixa de ser buscado no meio da alegria geral. Alguém se lembra de dívidas durante o carnaval?
Por que se importar com problemas antigos e difíceis se temos soluções fáceis no estilo Chacrinha? Atraso tecnológico e ineficiência na gestão (“não estamos conseguindo exportar, é por causa da China, precisamos é de proteção”); dívidas de empresas médias e pequenas (“não faz mal, lá na frente a gente recupera”); dívidas pessoais com juros extorsivos (“o povo está consumindo mais”); mais analfabetos funcionais e educação deficiente em todos os níveis (“o número de matrículas é cada vez maior”).
Não pensem que me refiro apenas ao aqui e agora, ao Brasil de hoje. Várias peças desse joguinho “verdade/conversa fiada” recheiam o passado e o presente de muitos países. Grécia, Irlanda, Islândia, México, os países bálticos e vários outros são as estrelas do momento.
Em todos esses casos, a bolha do falso progresso estava ali, bem no meio da alegria, mas ninguém lhe prestou muita atenção.
O neoliberalismo morreu como definiu muito bem Paul Samuelson, prêmio Nobel de Economia:
Como todos sabemos, o dólar se desvaloriza porque os Estados Unidos se viram forçados a baixar o juro a zero e abrir a torneira produtora de dinheiro para salvar bancos, estimular a produção industrial, segurar a queda do emprego e aliviar o desespero dos pendurados em hipotecas. A Europa também fez isso em menor grau. O Brasil não abriu a torneira, preferiu reduzir impostos, abrir o guichê do BNDES para grandes empresas, estimular o consumo. Tudo isso sempre em nome de estancar a crise, mas sem ir fundo na correção das causas mais remotas.
Talvez a situação mereça a releitura de um sábio que ajudou a construir a saída de uma grande crise, mas decidiu, certamente tarde demais, dar um freio na ilusão de que dinheiro resolve tudo.
“A moeda vem sendo ameaçada substancialmente pelos gastos desmedidos do setor público. O aumento desenfreado dos gastos públicos aniquila qualquer tentativa de um orçamento equilibrado, leva as finanças públicas à beira da falência, apesar do aumento imenso da carga tributária. (...) Não há receita, por mais genial e refinada, nem sistema de técnica financeira e monetária, nem organização e medidas de controle que sejam suficientemente eficientes para deter efeitos arrasadores.”
Este é um pequeno trecho do comunicado (agosto de 1937) do presidente do Banco Central da Alemanha nazista, Hjalmar Schacht, ao ministro da Economia, Hermann Göring. Schacht havia sido o cérebro da luta contra a inflação e da restauração financeira do país desde agosto de 1934, nomeado por Adolf Hitler. Foi ele, quem através de medidas bem próximas a algumas adotadas pelo nosso Plano Real. Usou a moeda saneada para um gigantesco programa de obras de infra-estrutura. Mas começou a pisar no freio quando o governo decidiu investir pesadamente na indústria armamentista, propaganda do regime etc.
Schacht acabou preso em 1944, envolvido em atentado contra Hitler, sendo o único dos conspiradores não executados. Quando a guerra acabou, continuou preso – agora pelos americanos – e só foi solto quatro anos depois. Escapou de ser condenado à morte como Goering, que se suicidou minutos antes de ser levado à forca.
Ninguém quer que isso volte a acontecer com presidentes de BCs ou ministros da Economia.
A bolha é, na Economia, um sinal de que a confusão vem aí, mas o problema é que ela se confunde com a sensação de que tudo vai muito bem, melhor do que se esperava. Preços, lucros e ações sobem, o PIB desperta alegrias gerais – quem vai se preocupar em levar a sério qualquer sintoma de “exuberância irracional”, na enxurrada de números simpáticos que governos, empresários, corretores, analistas e até economistas em geral confiáveis espalham diariamente (minutariamente nestes tempos de internet)?
A bolha está por ali, disfarçada em papéis de várias naturezas – até dinheiro vivo – mas o real significado de suas letras e números deixa de ser buscado no meio da alegria geral. Alguém se lembra de dívidas durante o carnaval?
Por que se importar com problemas antigos e difíceis se temos soluções fáceis no estilo Chacrinha? Atraso tecnológico e ineficiência na gestão (“não estamos conseguindo exportar, é por causa da China, precisamos é de proteção”); dívidas de empresas médias e pequenas (“não faz mal, lá na frente a gente recupera”); dívidas pessoais com juros extorsivos (“o povo está consumindo mais”); mais analfabetos funcionais e educação deficiente em todos os níveis (“o número de matrículas é cada vez maior”).
Não pensem que me refiro apenas ao aqui e agora, ao Brasil de hoje. Várias peças desse joguinho “verdade/conversa fiada” recheiam o passado e o presente de muitos países. Grécia, Irlanda, Islândia, México, os países bálticos e vários outros são as estrelas do momento.
Em todos esses casos, a bolha do falso progresso estava ali, bem no meio da alegria, mas ninguém lhe prestou muita atenção.
O neoliberalismo morreu como definiu muito bem Paul Samuelson, prêmio Nobel de Economia:
Como todos sabemos, o dólar se desvaloriza porque os Estados Unidos se viram forçados a baixar o juro a zero e abrir a torneira produtora de dinheiro para salvar bancos, estimular a produção industrial, segurar a queda do emprego e aliviar o desespero dos pendurados em hipotecas. A Europa também fez isso em menor grau. O Brasil não abriu a torneira, preferiu reduzir impostos, abrir o guichê do BNDES para grandes empresas, estimular o consumo. Tudo isso sempre em nome de estancar a crise, mas sem ir fundo na correção das causas mais remotas.
Talvez a situação mereça a releitura de um sábio que ajudou a construir a saída de uma grande crise, mas decidiu, certamente tarde demais, dar um freio na ilusão de que dinheiro resolve tudo.
“A moeda vem sendo ameaçada substancialmente pelos gastos desmedidos do setor público. O aumento desenfreado dos gastos públicos aniquila qualquer tentativa de um orçamento equilibrado, leva as finanças públicas à beira da falência, apesar do aumento imenso da carga tributária. (...) Não há receita, por mais genial e refinada, nem sistema de técnica financeira e monetária, nem organização e medidas de controle que sejam suficientemente eficientes para deter efeitos arrasadores.”
Este é um pequeno trecho do comunicado (agosto de 1937) do presidente do Banco Central da Alemanha nazista, Hjalmar Schacht, ao ministro da Economia, Hermann Göring. Schacht havia sido o cérebro da luta contra a inflação e da restauração financeira do país desde agosto de 1934, nomeado por Adolf Hitler. Foi ele, quem através de medidas bem próximas a algumas adotadas pelo nosso Plano Real. Usou a moeda saneada para um gigantesco programa de obras de infra-estrutura. Mas começou a pisar no freio quando o governo decidiu investir pesadamente na indústria armamentista, propaganda do regime etc.
Schacht acabou preso em 1944, envolvido em atentado contra Hitler, sendo o único dos conspiradores não executados. Quando a guerra acabou, continuou preso – agora pelos americanos – e só foi solto quatro anos depois. Escapou de ser condenado à morte como Goering, que se suicidou minutos antes de ser levado à forca.
Ninguém quer que isso volte a acontecer com presidentes de BCs ou ministros da Economia.
Mas, por favor, prestem atenção às bolhas, como diria Vinicius, se fosse poeta-economista.
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