quarta-feira, 30 de junho de 2010

PSDB salva aliança, mas vice ainda é incerto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Candidatura de Osmar Dias ao governo do PR inviabiliza Álvaro Dias como vice de Serra

Julia Duailibi, São Paulo, Paulo Scinocca, Marcelo de Moraes, Eugênia Lopes

BRASÍLIA - Após 48 horas de discussões, PSDB e DEM conseguiram avançar rumo a um acordo mínimo. A aliança entre os dois partidos em torno da candidatura do tucano José Serra está praticamente selada e será anunciada durante a convenção do DEM, que acontece hoje em Brasília, a partir das 8 horas. O impasse, porém, está nos termos desse acordo.

O DEM insiste na indicação do candidato a vice-presidente, mas está disposto a ceder. Setores do PSDB cogitam rever a indicação do senador Álvaro Dias (PR), cuja escolha, na última sexta-feira, foi o estopim da crise entre os dois partidos.

Diante das dificuldades para fechar o acordo, Álvaro Dias já havia adotado no início da noite postura de cautela. "Não posso desistir do que não existe. Não tem uma designação oficial do meu nome", afirmou o tucano. Ao contrário da véspera, quando disse que sua candidatura era irreversível, ele preferiu ser menos enfático: "Isso você tem de perguntar ao partido." A hesitação de Dias estimulou a bolsa de apostas para novo vice de Serra.

Em seu blog na internet, Brizola Neto, neto de Leonel Brizola - fundador do PDT -, garantia no fim da noite que o ministro Carlos Lupi, presidente licenciado do partido, o informara de que o senador Osmar Dias (PDT-PR) se decidira pela candidatura ao governo do Paraná, independentemente do destino político de seu irmão Álvaro Dias. Se confirmada, a decisão deixaria aberta a porta para o senador deixar o posto de vice na chapa de Serra.

Consenso. Para chegar a um consenso mínimo, as cúpulas do PSDB e do DEM fizeram diversas reuniões em São Paulo e Brasília, incluindo a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ajudou na operação política feita para reagrupar os dois lados. "Certeza, não se pode dizer que sim. Mas sou otimista", admitiu Fernando Henrique, ao deixar o encontro entre as cúpulas dos dois partidos, quando questionado sobre a manutenção da aliança.

Chamado para ajudar nas negociações, FHC deixou o encontro sem conseguir o recuo do partido aliado. Para os tucanos, a dobradinha PSDB-DEM já se mostrou desgastada do ponto de vista eleitoral. Acham que um quadro tucano daria um caráter mais progressista para a chapa.

A conclusão comum foi de que ninguém ganharia com o rompimento. Para o PSDB, a quebra da aliança retiraria tempo de propaganda na televisão e minaria o apoio político em Estados importantes onde o DEM tem forte base, como Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina, por exemplo.

Para o DEM, o fim da aliança representaria o enfraquecimento nacional da legenda, já que entraria na eleição sem ter um candidato majoritário e podendo ter de abrir mão de coligações com os tucanos, enfraquecendo seus candidatos a governos estaduais e suas chapas proporcionais.

Como a negociação corre contra o tempo, já que hoje termina o prazo para que o DEM homologue a chapa na sua convenção, ficou acertado que a reunião seria aberta em Brasília, nesta quarta, no Hotel Gran Bittar, a partir das 8 horas, e prosseguiria até a formatação dos termos do acordo. Se preciso, até a meia-noite de hoje.

Até dia 5. Sacramentada a aliança, o PSDB tem até o próximo dia 5 para formalizar o vice, intervalo para as costuras finais com o DEM. Em todo caso, a cerimônia de adesão do DEM a Serra será marcada pelo pouco entusiasmo dos militantes, que poderá deixar sequelas na campanha.

"Vamos trabalhar até o último minuto para encontrar uma solução", afirmou ao Estado o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), adotando já o tom mais brando, depois que as negociações avançaram entre os dois partidos.

"Acredito que a lógica e a racionalidade vão prevalecer", disse o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA), um dos coordenadores da campanha do presidenciável tucano. "Te garanto que vamos estar com Serra", resumiu o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC).

"Houve uma condução ruim do processo. É preciso consertar isso. Esse é que é o nó", declarou o senador José Agripino Maia (DEM-RN), presente no encontro. Na reunião de anteontem, na casa do prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM), o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, admitiu que houve um equívoco no processo de escolha de Dias. Os tucanos consultaram PPS e PTB, e a informação acabou vazando antes de o nome passar pelo crivo oficial do DEM.

Os dois partidos corriam contra o tempo ontem para resolver o impasse. "O DEM tem toda vontade de estar na aliança, agora o partido tem de estar unido. O nome não é importante, o importante é a tese", afirmou o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), em relação à participação de seu partido na chapa tucana.

Para Agripino, o jogo "tem de ser zerado". "Nossa preocupação é que aquilo discutido lá atrás se reproduza", disse.

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