quarta-feira, 25 de agosto de 2010

'Eu vou fazer ajuste fiscal para quê?'

DEU EM O GLOBO

Dilma diz que medida só será aplicada em caso de necessidade; para petista, discutir o tema é armadilha

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, afirmou ontem que não é "virtude" fazer ajuste fiscal. Para ela, essa é uma medida aplicada só em caso de necessidade. Ela rebateu as afirmações do presidenciável tucano, José Serra, que no dia anterior insinuou que o PT adotaria um ajuste no caso de Dilma ganhar a eleição. Ela não admite necessidade de novo ajuste e, numa referência ao governo do ex-presidente Fernando Henrique, disse que não jogaria pedra nos que fizeram.

- Nós fizemos ajuste fiscal também. Não vou jogar pedra em ninguém porque fez ajuste fiscal. Fizemos quando foi preciso. Nem piscamos. Isso não significa que vou transformar uma necessidade em virtude. Quando há necessidade de fazer, se faz. Quando não se tem necessidade, não se faz. Não é virtude fazer ajuste fiscal. Só é quando é necessário - disse Dilma.

Afirmando que não há necessidade de um aperto fiscal no momento em que a economia está bem, lembrou que o governo Lula fez ajuste quando foi preciso, em 2003. E sugeriu como uma armadilha contra ela a discussão no momento sobre o assunto, inclusive o questionamento sobre novos aumentos para servidores:

- Quando eu digo que eu não sei o que o jabuti faz em cima da árvore é porque um país crescendo a 7%, com a inflação sob controle, com a queda da dívida pública, que tem US$255 bilhões de reserva, eu vou fazer ajuste fiscal para quê? - disse. - Acho essa pauta estranhíssima. O reajuste do funcionalismo é aquele que é o merecido. Não vou discutir se será maior ou menor em relação a que, em relação a quem e a que categoria. Não existe um princípio geral. Por que eu falar em tese geral: eu não vou dar ajuste para o funcionalismo? Vocês querem que eu fale isso por quê?

Na entrevista concedida na hora do almoço, após ter gravado para seu programa eleitoral em um templo da Legião da Boa Vontade (LBV), Dilma disse que seu compromisso é garantir a estabilidade e que a melhor receita, no momento, é manter as coisas como estão. Ainda acrescentou que não é possível reduzir a meta de inflação, que hoje é de 4,5% ao ano, por causa do cenário internacional.

- O Brasil não tem nenhum cenário de crise que tinha em 2002. O Brasil tem estabilidade, taxa de inflação sob controle. Uma coisa é manter a dívida caindo, e vou manter. Vou manter também sob controle a inflação. Para a gente reduzir meta de inflação, não se faz isso com o cenário internacional que a gente está, porque pode ser ainda de depressão. Você não tem uma recuperação de países, nem da Europa nem dos Estados Unidos. Então, é muito prudente manter as coisas como estão - disse Dilma. - Acredito que o Brasil, no período de 2011 a 2014, vai ser uma economia que vai poder crescer com estabilidade: controle da inflação, dívida caindo, juros convergindo para padrões internacionais.

Dilma criticou argumentos de que é necessário um ajuste fiscal sistemático:

- Não concordo que o Brasil tenha que ser submetido sistematicamente a cada fim de governo a ajuste fiscal. Acho que tem que ter o que se vê no governo Lula. No início do ano, o governo achou que podia haver problema. O que fez? Contingenciou R$10 bilhões do Orçamento e tomou a providência para ver se ia ser ou se não ia ser.

Ela admitiu fatiar a reforma tributária, caso não consiga aprová-la de uma única vez no Congresso Nacional. Defendeu uma reforma tributária para desonerar investimento, folha de salário, simplificar a tributação e acabar com a guerra fiscal.

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