sábado, 16 de outubro de 2010

FHC x Lula: aposta final de tucanos e petistas

DEU EM O ESTADO DE MINAS

PSDB acredita que poderá ganhar votos com possível debate entre o ex-presidente e o atual. Já PT reforça estratégia da comparação para conquistar eleitores pró-Dilma

Ivan Iunes

Brasília – Com a entrada em cena do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reta final de campanha, o marketing de José Serra (PSDB) decidiu utilizar como antídoto para a popularidade do petista exatamente o personagem menos previsível: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Se de um lado da mesa o governo aposta a eleição de Dilma Rousseff (PT) na popularidade de Lula, do outro os tucanos pretendem dissociar as falas do atual chefe do Executivo da corrida eleitoral. Esse afastamento seria possível exatamente com a polarização entre ele e FHC, em torno de uma discussão entre um ex-presidente e o atual, em final de mandato.

A saída do ex-presidente em defesa do espólio do seu governo faz eco na estratégia traçada pelos tucanos para que o discurso de Lula perca parte da força nas últimas semanas de corrida eleitoral. A intenção da campanha do PSDB passa por dissociar as críticas do petista ao governo FHC, da candidatura tucana à Presidência da República. Atualmente, essa comparação entre governos tem sido o mote principal de Dilma para tentar chegar ao Palácio do Planalto. Pelo planejamento riscado pela campanha de Serra, a tarefa de defender a gestão de FHC dos ataques diários ficará a cargo do ex-presidente. Para não passar a impressão de que foge do tema, Serra faz uma defesa tímida do colega de partido.

Com FHC saindo da coxia, o bate-boca capitalizaria o assunto para um debate entre o ex-chefe do Executivo e o atual, em final de mandato, segundo imaginam os tucanos. "A discussão sobre governos, essa comparação, não é uma discussão de campanha, só leva ao passado, não ao futuro. A verdade é que o Lula já está apartado do processo eleitoral, todo o capital político que ele podia já foi transferido no primeiro turno", aposta o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Os tucanos comungam da ideia de que o movimento de Lula, de forçar a comparação com o período tucano na Presidência, é uma forma de reeditar a tese de eleição plebiscitária, aposta petista no primeiro turno. O esforço seria necessário para que a campanha de Dilma reencontrasse um discurso eficiente para chegar até o eleitor. "O presidente quer trazer o plebiscito de volta, mas a eleição tomou outro rumo, não é possível forçar uma comparação com um governo que já terminou há quase uma década. A eleição é entre Dilma e Serra, e suas propostas, não tem jeito", aponta o deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR).

FICHAS EM ALIADOS Ontem, Lula e os coordenadores da campanha de Dilma – José Eduardo Cardozo, José Eduardo Dutra e Antônio Palocci – estiveram reunidos exatamente para traçar a estratégia a ser utilizada nos 15 dias antes das eleições. Ficou decidido que o petista não rebaterá FHC, mas deve forçar o discurso de comparação entre o atual governo e o do ex-presidente. "O presidente não vai ficar batendo boca", justificou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Lula ainda pediu na reunião que a campanha coloque o "bonde na rua", em apelo para que os aliados saiam para o corpo a corpo em busca de votos.

Pela avaliação dos petistas, o surgimento do ex-presidente no debate acaba por provocar uma perda de votos da candidatura tucana, ainda que se tente dissociá-lo da campanha de Serra. Por isso, o horário eleitoral do partido continuará mostrando as diferenças entre os dois governos e, principalmente, as contribuições de Serra e de Dilma nas duas gestões. "Toda vez que ele (FHC) aparece, tem sido negativo para o PSDB. Não fomos incentivar esse confronto, mas isso certamente nos favorece", aposta o secretário de Comunicação do PT, André Vargas.

Para as próximas duas semanas, a aposta de ambas as campanhas passa pela capacidade de aliados regionais em atrair prefeitos e deputados locais, para atuarem como cabos eleitorais dos dois candidatos. Com dificuldades em algumas regiões do país, como o Norte e o Nordeste, os tucanos tentam aproximar apoiadores de última hora. O PSDB conseguiu trazer para a chapa de Serra o PMDB do Rio Grande do Sul e ainda flerta com dissidentes do partido em outras regiões.
Já os petistas tiveram o apoio formal do PP anunciado – embora a oposição tenha conseguido atrair a parcela mineira da legenda. As duas campanhas centram força especial em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Rio Grande do Sul.

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