
Os números eram de tal dimensão que, em face da perplexidade em que me achava, preferi não enumerá-los, até para não contribuir à difusão de dados que poderiam ser inexatos. Levei a minha perplexidade a esse ponto, e a prudência me aconselhou a discrição. Passados os dias de Carnaval, porém, nada menos que o secretário do Tesouro foi além da Taprobana em declarações públicas e publicadas que não deixavam mais sequer o benefício da dúvida, envolvendo pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, que é uma fundação federal ligada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Pois bem, fechando os olhos para a suma gravidade que o fato abriga, basta dizer que os números são astronômicos e a prática que se estendeu nos oito anos do melhor governo de todos os tempos, são de fazer corar um frade de pedra. Disse-se, por exemplo, que a senhora presidente herdou um problema fiscal mais sério de que o desequilíbrio que forçou o governo a cortar R$ 50 bilhões nas despesas programadas para o ano em curso. Fala-se, às abertas, na “maquiagem das contas” e até em “orçamento paralelo”. O fato é que o secretário do Tesouro informou em publicações que correram o mundo pretender pagar somente R$ 41,1 bilhões este ano, quando são R$ 128,8 bilhões os “restos a pagar” acumulados. Não sei se será necessário prosseguir nesse formidável emaranhado entre dois orçamentos, o que foi publicado no Diário Oficial, promulgado e sancionado pela presidente, e o outro, elegantemente denominado de “paralelo”, que talvez fosse melhor chamá-lo de “clandestino” ou “fraudulento”, quem sabe de “clandestino e fraudulento”.
Desde estudante acompanho os assuntos públicos da nação, em vários pontos de observação, mas nunca vira coisa semelhante. De tudo resulta uma certeza certa, ao contrário do que foi apregoado e festejado, os oito anos do presidente Luiz Inácio não foram nem os maiores nem os melhores de todos os governos em todos os tempos...
Em meio a esse espetáculo inominável há um aspecto que se diria burlesco, o mesmo ministro de Estado que, no governo passado, engendrou o orçamento paralelo, sob o atual é de supor-se destinado a desenrolar a milagrosa operação, se não tiver perdido a chave do enigma.
*Jurista, ministro aposentado do STF
FONTE: ZERO HORA (RS)
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