sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Brasil em tom menor, parte 2 :: Roberto Freire

Há exatos quinze dias atrás, denunciamos o engodo do Programa Brasil Maior, auto proclamado projeto de desenvolvimento industrial do governo Dilma, mas na verdade um monumental e irresponsável improviso, como tudo na administração petista, aliás, movido apenas pelo brilho midiático de suas jogadas.

Não bastasse toda a embromação com a suposta desoneração da folha, agora é a própria indústria automobilista que, segundo matéria veiculada pelo Estado de São Paulo, descobriu que a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) prometido para as montadoras deve dar lugar à elevação do imposto para automóveis que não se enquadrarem nas novas regras.

Ou seja, o governo deve desistir de reduzir o IPI para os carros conforme previsto na nova política industrial, Brasil Maior, por conta da resistência das montadoras que não querem se comprometer com contrapartidas efetivas de inovação, agregação de conteúdo local e eficiência energética.

Beneficiada com redução do IPI para estimular a demanda no rastro da crise iniciada em2008, a indústria de automóveis no país, composta basicamente de empresas multinacionais, não repassou na mesma proporção tal benefício na redução dos preços de seus produtos, para os consumidores. Hoje, argumentam seus chefes, a desoneração visa melhorar a competitividade frente aos produtos importados, sobretudo dos carros chineses, e não para aumentar o consumo interno.

A questão centra-se na divisão de empresas mais antigas no país, como a Volkswagen, General Motors, Fiat e Ford, que já trabalham com 90% de peças produzidos aqui, e as novas empresas, como Nissan, Toyota, Renault e Citröen, que usam maciçamente peças importadas na confecção de seus carros e por isso, aquelas, precisam de outro tipo de política de incentivo, para serem competitivas.

Enquanto esse imbróglio prospera, de outro lado, fruto da desaceleração da venda de carros, por conta de uma maior restrição ao crédito e da feroz concorrência dos importados, as montadoras diminuem o ritmo de sua produção, buscando primeiro se livrar dos estoques em seus pátios, utilizando-se para tanto, entre outros expedientes, de férias coletivas.

O resultado disso é que as empresas automotoras encontram dificuldade de vender seus carros para uma massa de consumidores crescentemente indisposta a se endividar em um ambiente de incertezas. Não se deve esquecer que o nível da inadimplência no setor tem aumentado de forma consistente.

Segundo a Associação Nacional de Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), como revela o Globo, o índice de inadimplência pessoa física, com mais de 90 dias, passou de 3,4%, em agosto do ano passado, para 4,0% em agosto deste ano, um aumento de 15%.

Assim, fica fácil compreender por que o Partido dos Trabalhadores em seu IV Congresso, ocorrido recentemente, escolheu a imprensa para culpar por suas inúmeras malfeitorias, alegando uma perseguição, um complô da “imprensa golpista”, que com seu trabalho tem desnudado as nebulosas sendas do PT e a incapacidade de seu governo de enfrentar a trágica desindustrialização do país.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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