Representantes dos trabalhadores querem contrapartida das montadoras, com 80% de peças locais
Raquel Landim
Os sindicatos estão apoiando o pleito das montadoras de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os carros, conforme anunciado na política industrial Brasil Maior. A posição dos representantes dos trabalhadores aumenta a pressão sobre o governo, que ameaça desistir do benefício.
O governo federal está preocupado porque as montadoras resistem a assumir contrapartidas como metas para utilização de peças locais, redução de emissões e um porcentual fixo de investimento em pesquisa e tecnologia. Por isso, ao invés de reduzir o imposto, o governo avalia elevar o IPI para quem ficar fora do novo regime automotivo.
"Se apenas elevarem o IPI dos importados, não teremos geração de emprego aqui", disse Quintino Severo, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Segundo os sindicalistas, o governo adiou uma reunião com montadoras e sindicatos, marcada para ontem, para fechar o decreto sobre o tema. O encontro foi postergado depois que montadoras e governo chegaram a um impasse na terça-feira. O Ministério da Fazenda não confirma que a reunião com os sindicalistas estava agendada.
O apoio dos sindicatos, no entanto, não sai de graça. Eles também querem que as montadoras assumam "contrapartidas sociais". A principal delas é o aumento do conteúdo de peças locais exigido no novo regime automotivo. Os sindicatos defendem 80%, estabelecido por modelo.
A proposta hoje na mesa é de 60%. As montadoras querem que o porcentual seja fixado por empresa, já que modelos novos tem menos valor agregado local.
A posição dos sindicatos favorece as quatro grandes montadoras - GM, Volks, Ford e Fiat - que estão há mais tempo no País e, por isso, têm condições de utilizar mais autopeças locais.
Severo reconhece que a proposta beneficia algumas empresas, mas reforça que "não queremos maquiladoras" no País. Montadoras como Citroën, Toyota, Honda ou Nissan têm mais dificuldade para cumprir um porcentual de peças locais tão alto.
A Força Sindical defende a redução do IPI, mas gostaria que o governo elevasse também o imposto de importação dos carros. "Queremos as duas coisas. Defender o mercado dos importados, mas também elevar a nacionalização de peças", disse Miguel Torres, vice-presidente da Força e presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo.
Outro ponto importante para os sindicatos é que a eventual redução de IPI seja repassada ao consumidor. O governo também é a favor do repasse. As montadoras resistem.
A Força Sindical defende como contrapartidas jornadas semanal de 40 horas, rotatividade de trabalhadores não superior a 3% ao ano e o estabelecimento de um piso salarial nacional para o setor.
Torres disse que não está preocupado com as recentes paralisações das montadoras para baixar estoques. "É até estranho que façam isso em meio à negociação com o governo pelo IPI", disse.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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