sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

'Dilma veio com carteira aberta e olhos fechados'

Blogueira cubana critica visita de Dilma

Segundo Yoani Sánchez, nas ruas do país comenta-se que presidente veio "com a carteira aberta e os olhos fechados"

HAVANA e BRASÍLIA. Ainda à espera da autorização do governo cubano para viajar ao Brasil, a blogueira Yoani Sánchez escreveu ontem em sua conta no Twitter que nas ruas de Havana os cubanos comentam que "Dilma veio a Cuba com a carteira aberta e os olhos fechados". O comentário refere-se às parcerias fechadas entre os dois governos, com medidas de estímulo ao desenvolvimento econômico do regime dos irmãos Castro durante a visita, mas sem menções aos abusos e violações de direitos humanos cometidos na ilha e sem a abertura de espaço na agenda para aceitar os convites de dissidentes que pediram um encontro com a mandatária.

Enquanto aguarda o aval do governo para participar da exibição do documentário "Conexão Cuba-Honduras" em Jequié, na Bahia, do cineasta Dado Galvão, Yoani realizou uma enquete nas redes sociais. Para 56% dos participantes, ela conseguirá a aprovação do regime para viajar.

Apesar da expectativa favorável em relação ao governo, que interfere em direitos como a liberdade de entrar e sair do país, ontem até mesmo o presidente da União de Jornalistas de Cuba (Upec), Tubal Páez, que representa a imprensa oficial no país, se queixou de problemas enfrentados para informar a população, em entrevista à AFP.

"Apesar dos documentos estabelecidos que respaldam a função jornalística, não se conseguiu em todas as instâncias administrativas a compreensão sobre o direito dos meios de informação de levar a verdade ao povo", disse Páez.

O presidente da Upec se reuniu com um grupo de jornalistas que pedem uma maior abertura das fontes oficiais para realizar seu trabalho em Cienfuegos, localizada a 250Km ao leste de Havana. As principais queixas referem-se à demora nas respostas e o silêncio de organismos e empresas em relação às queixas enviadas pelos leitores.

A imprensa cubana é comumente acusada pela população de mentir ou silenciar diante dos problemas que preocupam o povo. Na I Conferência Nacional do Partido Comunista, uma das propostas aprovadas era justamente o estímulo a um jornalismo objetivo e de investigação, que permita banir a autocensura, a linguagem burocrática, a retórica e a banalidade.

Para ministro, crítica seria "comportamento imperial"

Antes da reunião do Partido, o vice-ministro da Cultura, Fernando Rojas, já havia dito em uma entrevista a um jornal universitário que Cuba precisa de uma imprensa revolucionária não oficial que permita um olhar crítico e possa enfatizar os erros e problemas.

A insatisfação com o bloqueio a informações já foi alvo de queixas até mesmo do "Granma", o jornal oficial do governo. Em julho, os jornalistas reclamaram do bloqueio de dados feito por funcionários estatais.

No Brasil, após a repercussão internacional dos comentários da presidente Dilma Rousseff - que em Havana fez críticas aos direitos humanos na base americana de Guantánamo - o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defendeu a presidente. Para ele, a bandeira dos direitos humanos não deve servir de arma para atacar um ou outro país, assim como não cabe à presidente do Brasil ditar regras a outra nação, no momento em que a visita. Isso seria, segundo o ministro, um "comportamento imperial".

Para ele, existe um "silêncio cúmplice" sobre o que se passa em Guantánamo, onde o governo americano mantém suspeitos de terrorismo, mesmo sem acusações formais ou o devido processo legal.

- Ela não quis, com isso, se omitir. Foi uma questão de postura - disse.

Colaborou Demétrio Weber, de Brasília

FONTE: O GLOBO

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