terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Discurso afinado em um clique

A oito meses da escolha de prefeitos e vereadores, sites de consultoria política proliferam, com ofertas de serviços que vão de conselhos à preparação de textos para os candidatos

Juliana Cipriani

Falar bem – e conquistar votos pela palavra – é uma arte que nem sempre os candidatos dominam, mas isso está longe de ser um problema. Na internet, em sites de consultoria política, é só preencher formulários e receber pronto o material feito por especialistas da área. O serviço pode custar de R$ 200 a R$ 3 mil. O mercado das campanhas eleitorais para candidatos a vereador e prefeito em outubro já se movimenta. Aliás, "já" não é o termo ideal neste caso. A filosofia ensinada é que quem quer conquistar uma cadeira no Executivo ou no Legislativo já está é atrasado para começar a trabalhar sua imagem.

Promessas de bons resultados estão ao alcance de todos. "Solicite um discurso clicando aqui", diz um site. Os especialistas ensinam palavras-chave e dão dicas de roupas para fazer corpo a corpo. Tudo precisamente calculado para garantir o seu voto. Um discurso simples e uma linguagem metafórica. É a dica do especialista em marketing político Luiz Roberto Dalpiaz Rech, de Porto Alegre, há 28 anos no ramo. "Está aí o maior comunicador do mundo, que foi Jesus Cristo, para comprovar. Ele falava por parábolas. O ex-presidente Lula usava metáforas. As pessoas entendem mais fácil", disse.

Mas a sugestão é genérica. Para elaborar um discurso mesmo, segundo Roberto, é preciso encaixar as palavras ao perfil do pretenso político. Como regras básicas, ele indica adotar uma fala positiva. "Jamais fazer discursos depressivos e deve-se evitar a palavra não, que geralmente é ignorada pelo inconsciente no meio da fala". Agora, prestou atenção? Então, "agora" é uma palavra indicada para trazer de volta a atenção do eleitor distraído. Roberto aconselha o candidato a não falar mal de concorrentes, mas, se o fizer, que use o "mas" e destile o veneno depois de dizer algo positivo. Isso anulará tudo de bom que falou antes.

Para estimular a participação do seu interlocutor, o político deve trabalhar canais sensoriais para três tipos de espectadores. Use o verbo "veja", para atrair pessoas mais focadas no visual, "ouça" para os auditivos e "sinta" para os sinestésicos. O consultor fala ainda em "âncoras", que são palavras, cheiros ou características que podem se tornar marcas dos candidatos. Toda a consultoria é virtual. "Tem candidato que assessorei sem nunca apertar sua mão", diz Roberto. O interessado diz o assunto que deseja abordar e preenche um formulário de duas páginas com várias perguntas antes de receber o discurso pronto.

Uma assessoria política para campanha de vereador fica, em média, em R$ 8 mil . Mas o ideal, segundo os marqueteiros, é planejar até dois anos antes, o que dobra os custos. Um discurso pela internet, segundo Roberto, pode custar de R$ 300 a R$ 1,5 mil. A reportagem achou preço menor. Em uma outra consultoria, o publicitário Sullyvan Andrade cobra R$ 199,99 por lauda. Em seu site, ele ensina que deve haver introdução, desenvolvimento com problemas e soluções e o resgate da autoestima do eleitor. Também é preciso demonstrar fé e sentimento de localidade. Segundo as dicas, o nome do candidato, o slogan e o número devem ser repetidos três vezes.

Parentes e amigos

Outro especialista em assessoria política, Marco Iten também diz que uma campanha bem organizada para vereador deve começar cedo. É conversar com vizinhos, parentes, amigos e conhecidos. Há 30 anos no mercado, ele aconselha: "Em um ambiente de mais disputa e uma certa resistência ao político, chegar na frente é importante". Não há padrão de preços, segundo ele. Em Belo Horizonte, por exemplo, a preparação de um candidato a vereador pode custar de R$ 50 mil a R$ 100 mil. Uma campanha inteira estaria na cifra dos milhões. Mas depende do perfil do candidato. Enquanto uns podem precisar de fonoaudiólogo e media training, outros podem agregar segmentos importantes e, com isso, obter multiplicadores de graça.

O discurso também depende do candidato e do eleitor. É preciso conhecer o problema da localidade aonde se vai e tocar no assunto prometendo resultado. Postura e vestimenta adequadas contam tanto quanto as palavras e entonação. Se estiver falando com um público da terceira idade, por exemplo, Marco Iten ensina que se deve evitar falar em futuro.

"Assuntos mais ligados à família, realização, bem-estar e saúde são ideais, além de escutar mais do que falar." Para os jovens, discursos rápidos e linguagem próxima. Se puder mostrar intimidade com tecnologias e coisas próximas ao universo deles, melhor. Termos como juventude, trabalho, família e um toque de bom humor são indicados. A profissão do candidato também norteia o trabalho. Um jornalista, por exemplo, pode falar em conhecimento para transformar. Já um médico usaria palavras como vida, tratar e cuidar do eleitor.

FONTE: ESTADO DE MINAS

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