O valentão encarnado por José Dirceu não foi às ruas mobilizar as massas; preferiu a casa da mãe em Passa Quatro, no interior de Minas, que é lugar quente e mais seguro ao abrigo de possíveis desagrados por parte de seus julgadores.
Atendendo aos conselhos de advogados e assessores, Dirceu fechou a boca e recolheu-se em copas a fim de adequar-se ao perfil de vítima de uma injusta perseguição.
O silêncio também é considerado pelos conselheiros do principal réu do mensalão como a melhor forma de não angariar antipatias e preparar o terreno para o retorno à vida política em caso de absolvição.
A partir da avaliação de que não ganha nada falando, arriscando-se ainda a perder a razão futura, Dirceu desistiu de participar no próximo sábado de um debate promovido pelo Movimento de Libertação Popular (Molipo), um dos expoentes da luta armada na ditadura.
Enquanto José Dirceu faz o silente, Roberto Jefferson, seu companheiro de infortúnio na cassação do mandato de deputado devido ao escândalo que gerou o processo, faz o falante.
Desenterrou uma história segundo a qual o hoje líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, ofereceu facilidades junto à Polícia Federal para que ficasse calado e não denunciasse a existência de um duto financiador para partidos a serem cooptados para integrar a base de apoio ao governo Lula.
O caso não altera em nada o julgamento, mas ajuda Jefferson a compor a figura do herói que denunciou tudo e por isso não merece ser condenado.
João Paulo Cunha foi buscar nova absolvição nas urnas que já o haviam levado de volta à Câmara e podem levá-lo agora à prefeitura de Osasco. Se, eleito, não for para a cadeia.
Do elenco linha de frente fazem parte ainda Delúbio Soares e Marcos Valério de Souza. O primeiro no papel de arauto da tese de que nada houve além de crime eleitoral cometido apenas por ele na condição de tesoureiro do PT sem o conhecimento de ninguém mais no partido.
O segundo desenha o personagem vítima dos políticos para quem reclama mais atenção do público, mas a respeito dos quais adianta que nada falará.
"Sou igual ao Delúbio, nunca endureci o dedo para ninguém." Certo, não é dedo-duro. Mas teria algo a dizer?
Outra esfera. A decisão do Tribunal de Contas da União que considerou legal o contrato da agência DNA com o Banco do Brasil não afetará as acusações contra Marcos Valério e Henrique Pizzolato no processo do mensalão.
O entendimento preponderante no Supremo coincide com a interpretação da Procuradoria-Geral da República: a sentença do TCU tem alcance administrativo e em nada influencia o julgamento sob a ótica penal.
Precedência. Se quiser antecipar seu voto a fim de se manifestar antes da aposentadoria em 3 de setembro, o ministro Cezar Peluso terá o apoio dos colegas.
Significa que não prosperarão questões de ordem das defesas exigindo o cumprimento da ordem de votação.
Para participar do julgamento, Peluso teria de votar até a sessão de 28 de agosto, na quarta-feira anterior à data limite.
Telão. Devido aos seus graves problemas de coluna, o ministro relator Joaquim Barbosa acompanhará boa parte do julgamento pela televisão na sala de vestir dos ministros, acomodado numa espécie de "chaise longue" apropriada ao necessário conforto.
Liturgia. Entre os ministros do Supremo não é considerado adequado pronunciar em público o termo "mensalão" porque soa a prejulgamento.
A expressão usada é "ação penal 470", conforme se referiu ao caso o presidente do STF, Carlos Ayres Britto, quando falou com a presidente Dilma Rousseff sobre o policiamento ostensivo na Praça dos Três Poderes durante o julgamento.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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