Só diretório paulista admite disputa por candidatura presidencial tucana
Entrada de Serra no páreo não sensibiliza dirigentes estaduais, que temem divisão da sigla com consulta
Breno Costa, Gabriela Guerreiro e Ranier Bragon
BRASÍLIA - O atual cenário político interno no PSDB não respalda, nem remotamente, a pretensão declarada pelo ex-governador de São Paulo José Serra de disputar com o senador e presidente tucano, Aécio Neves (MG), o posto de candidato do partido à Presidência nas próximas eleições.
A Folha conversou nos últimos dias com 23 dos 27 presidentes de diretórios estaduais do PSDB.
Nenhum disse considerar Serra o melhor candidato para o partido, e apenas o deputado federal Duarte Nogueira, que dirige a seção paulista da sigla, defendeu claramente a necessidade de realização de prévias no partido para essa definição.
Eduardo Jorge Caldas Pereira, do diretório do DF, e Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro e um dos mais próximos aliados de Aécio, optaram por não responder. Eles entendem que o debate de prévias "inexiste" no partido e defendem o nome do mineiro como consolidado na corrida pelo Planalto.
Tabu
O sistema nunca foi adotado entre os tucanos, embora tenha sido defendido justamente por Aécio em 2009 --sem sucesso, assim como acabou derrotada a candidatura Serra na eleição presidencial do ano seguinte.
"As prévias só dividem o partido", diz o ex-senador Expedito Júnior, presidente do diretório de Rondônia.
Outros três (Bahia, Pará e Paraíba) consideram a realização de prévias apenas na hipótese de Serra lançar formalmente sua postulação à condição de pré-candidato -- o que ainda não aconteceu.
Serra continua em tratativas com o PPS como plano B para o que seria sua terceira corrida presidencial --ele disputou o cargo em 2002 e 2010.
A interlocutores, Aécio descarta as prévias, embora as admita em público para não melindrar Serra, dando a ele expediente para deixar a legenda.
Diante do aceno, Serra cobrou "igualdade de condições", o que eventualmente implicaria a saída do senador da presidência do PSDB.
Sobre essa possibilidade, Marcus Pestana (MG) chegou a se irritar. "Isso é uma mistura de miopia política com autismo político", disse.
Antecessor de Aécio na presidência do partido, o deputado federal Sérgio Guerra, do diretório pernambucano, foi na mesma linha.
"Um (Aécio) já é candidato de todo o partido. O outro é candidato de nenhum. Como é que vai ter condições iguais?", afirma Guerra.
O que serristas desejam é uma ampliação do colégio eleitoral da disputa, com a hipótese de consulta a toda a base de filiados.
Ampulheta
A decisão de Serra sobre sua permanência no PSDB precisa ser tomada até outubro, prazo legal para que mude de partido a tempo de disputar as eleições.
Na consulta aos presidentes de diretórios tucanos, o que se ouviu foi uma valorização do papel já desempenhado por Serra, mas, ao mesmo tempo, um incômodo com o surgimento do debate.
"O Serra tem que entender que o partido precisa desse novo momento", diz o deputado Nilson Leitão, presidente do diretório de Mato Grosso. "O PSDB precisa ter candidato na rua ontem. Não podemos mais brincar com isso dentro do partido."
"Respeito muito o Serra, ele tem uma belíssima história, mas a fila anda", resumiu Artur Bisneto, presidente do PSDB do Amazonas.
"Falando no campo das hipóteses, e se houver uma prévia e o Serra sai arrasado, com 10% dos votos? Ninguém deseja isso, eu não desejo, o Aécio não deseja", diz o deputado federal Luiz Carlos, do Amapá.
Fonte: Folha de S. Paulo
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