Aumento dos preços deve chegar a 7,4%, contra apenas 3,5% no ano passado
A disparada do dólar, que acumula alta de 15% este ano, está atingindo em cheio o bolso dos brasileiros. Os preços no comércio varejista vão subir 7,4% em 2013, segundo a Confederação Nacional do Comércio, o dobro dos 3,5% do ano passado, informa Cristiane Bonfanti. Entre os setores mais afetados pelo câmbio estão os de eletrodomésticos e móveis. No caso de alimentos, bebidas e artigos farmacêuticos, as altas serão de quase 8%, influenciadas também pela queda de safra e pelo aumento da renda no país.
Alta do dólar pesa no bolso
Preços do comércio devem subir 7,4% este ano, contra apenas 3,5% em 2012, diz a CNC
Cristiane Bonfanti
BRASÍLIA - A alta do dólar, que de janeiro até a última sexta-feira já acumulava quase 15%, atingirá em cheio o bolso dos consumidores este ano. Projeção da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que os preços no comércio varejista vão subir 7,4% em 2013, sendo que em alguns setores, como de bens duráveis, serão fortemente afetados pela variação do câmbio. A inflação projetada para o varejo é mais do que o dobro da alta registrada no ano passado, de 3,5%. E acima da média da inflação projetada para este ano, de 6%.
No caso dos bens duráveis, a alta média dos preços projetada é de 3,6%, contra uma deflação de 1,2% no ano passado. O economista da CNC Fábio Bentes explicou que, no intervalo de um ano, 40% da alteração dos preços dos bens duráveis podem ser atribuídos à variação cambial.
Já os bens não duráveis, como alimentos, bebidas e artigos farmacêuticos, devem subir 7,9% no ano, contra 3,9% em 2012. Nesse caso, outros fatores também terão impacto na variação dos preços, como a quebra de safras e as pressões na demanda decorrentes do aumento da renda.
Os reajustes no segmento de móveis e eletrodomésticos deverão chegar a 3,1%. A inflação dos artigos de uso pessoal e doméstico, que englobam os eletroeletrônicos, deverá ficar em 6,2% - no ano passado, foi de apenas 2,5%. Já no terceiro componente de bens duráveis da pesquisa, artigos de informática e comunicação, os preços deverão registrar uma queda este ano, mas bem abaixo da verificada no ano passado. A redução passará de 6,7% para 3,3%. Os dados foram projetados com base na Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.
Os brasileiros também sentirão o impacto do câmbio nos itens que vão à mesa. Estimativa da Associação Paulista de Supermercados (Apas) indica que, se o dólar se mantiver entre R$ 2,35 e R$ 2,40, haverá um aumento de até 5% nos preços dos alimentos importados no fechamento do ano. No caso de produtos que vão compor a ceia de Natal, como vinho, azeite e frutas secas, a elevação pode chegar a 10%.
- Como a alta do dólar não tinha se configurado de forma permanente, havia uma negociação entre indústria e varejo para segurar os preços. Mas, agora, não será mais possível sustentar esses valores - afirmou Rodrigo Mariano, gerente de Economia e Pesquisa da Apas.
Desde o início do ano, a advogada Tatiane Becker Amaral, de 36 anos, vem observando um reajuste na maioria dos preços nos supermercados. Os gastos com as compras semanais, para uma família com cinco pessoas, saltaram de R$ 400 para R$ 600. No caso do vinho sul-africano que a gaúcha costuma levar para casa, o aumento também foi expressivo: o preço da garrafa subiu de R$ 20 para R$ 28 desde a semana passada. Tatiane diz que não pretende trocar a bebida, mas, se a escalada de preços continuar, a alternativa será mudar as marcas de outros importados.
- Toda semana os preços sobem. Já tenho trocado a marca de alguns produtos e, no fim do ano, posso mudar o cardápio também - disse.
Importado: "tive de pagar fatura alta"
A dona de casa Maria Auxiliadora Bandeira, de 70 anos, tem sempre em casa azeite português e compra vinho importado, chileno ou argentino, a cada dois meses. Ela ainda não verificou mudança nos preços, mas, se a alta se confirmar, disse que o melhor caminho é pesquisar.
- Sempre vou a mais de um supermercado. Em alguns casos, o preço do alimento chega a dobrar - disse.
Já a nutricionista Isabela Borges, de 35 anos, afirmou que, no dia a dia, prioriza os produtos naturais e nacionais. Nas festas de fim de ano, mesmo com os reajustes, deve manter no cardápio os importados. Mas, em outras compras, ela já amargou a alta do dólar:
- Eu sempre peço para meu irmão trazer produtos do exterior, como roupas, e agora tive de pagar uma fatura alta - lamentou.
No caso de materiais escolares, itens de decoração e produtos de cama, mesa e banho, o aumento no preço ao consumidor deverá ser de, pelo menos, 15% no início de 2014, nas contas do presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior.
- O reajuste será de, no mínimo, o dobro da inflação (oficial) em virtude dessa desvalorização do real. O impacto mais imediato, da alta desta semana, será sentido em 30 ou 60 dias, quando os produtos importados e insumos negociados agora começam a chegar - previu Pellizaro Junior.
Repasse de preços
Segundo ele, deverá haver uma variação também nos preços de alimentos, devido ao trigo, e de eletroeletrônicos, por causa do elevado número de peças importadas. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, disse que a indústria já sentiu o impacto da alta do dólar e que, no máximo, em 45 dias, começará a repassar reajustes para o varejo. Ele observou que, no caso da linha marrom, que reúne artigos como televisores, o índice de importação de peças chega a 70%.
- As fábricas podem ter estoque, mas, em algum momento, terão de repassar o custo. Em alguns casos, ainda em agosto. Aí é uma negociação entre os associados e o varejo - explicou Kiçula.
Em nota, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) informou que as grandes redes de varejo estão se esforçando para não transferir os aumentos de custos aos consumidores, mas observou que "as margens estão bastante comprimidas".
Nas contas da analista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, se o dólar se estabilizar no patamar de R$ 2,40, a projeção que a empresa faz para a inflação medida pelo IPCA passará dos atuais 5,70% para 5,95%. Isso sem contar uma possível elevação no preço da gasolina.
Fonte: O Globo
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