O duro e impopular exercício da crítica, num contexto de baixa socialização política, faz com que muitas opiniões e juízos políticos sobre pessoas, situações e fatos sejam tomadas como uma agressão gratuita e mau humorada. Entendo que nem sempre as pessoas distinguam com clareza a linha tênue entre o argumento, a impressão e a mera desqualificação. Uns, pela paixão; outros pelo interesse. De todo jeito, é difícil contentar a uns e outros. Cada um tem o direito de acreditar e escolher o caminho ou a opção política que achar melhor. Vivemos naquilo que os autores de direito constitucional chamam "Estado de Direito Democrático", com exceção - é claro - no carnaval. É desagradável também ouvir o que nos contraria, o que enxerga defeitos e vícios nos modelos que escolhemos para admirar. Esses críticos são rejeitados em limine, segundo o método de Oswald de Andrade: não li, não gostei...
De toda maneira, enquanto o editor e a polícia permitirem vamos externando por aqui o que pensamos da conjuntura política do Pernambuco e do Brasil. Acreditamos que vamos marchar eleitoralmente para uma polarização, a nivel nacional, que deve contrariar muitas alianças,a nivel local. Que o diga o "embroglio" de São Paulo: o chefe tende a apoiar a candidatura psdebista; mas a aliada de chapa, não. A polarização é o aspecto plebiscitário das eleições nacionais. E, como numa partida de futebol, cada um torce pelo seu time ou pelo seu partido e candidato. Naturalmente, esta torçida contribue muito para a irracionalidade do voto. Porque aí se vota no amigo ou no inimigo, não há meio termo, ou possibilidade de crítica ou de uma avaliação mais ponderada do voto.
Mas é nossa humilde opinião que quanto mais as colunas dos jornais e dos blogs aceitem o contraditório e o pluralismo de opiniões, elas contribuem para uma formação democrática da vontade política do eleitor, obrigando-0 a refletir sobre os argumentos apresentados e a contradizê-los ou aceitá-los. A moralidade da democracia é o processo racional da formação da vontade política. Sem isso, é a pseudo-unanimidade em torno do vitorioso de turno, a partir da manipulação das pessoas. Por isso, continuaremos criticando e apelando para o senso crítico dos leitores. Com paciência, a catequese e a evangelização produzirão os frutos da democracia.
Michel Zaidan Filho, sociólogo, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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