• Equipe de Dilma define eventual disputa com ex-senadora como "zona nebulosa"
• Petistas acreditam que candidata do PSB pode superar tucano já nas primeiras pesquisas; PSDB revê estratégias
Andréia Sadi, Daniela Lima – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, SÃO PAULO - Com a entrada de Marina Silva no lugar de Eduardo Campos na chapa liderada pelo PSB, interlocutores do comitê da candidatura petista e do Palácio do Planalto preveem dificuldades no tom do discurso que a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) à reeleição adotará contra a ex-senadora.
Para manter a linha do "nós contra eles"", que vem sendo usada pela petista desde o início da corrida presidencial, aliados de Dilma ouvidos pela Folha admitem preferir enfrentar Aécio Neves (PSDB) em um eventual 2º turno a encarar uma "zona nebulosa e imprevisível"", como definem o enfrentamento com Marina.
Antes do acidente aéreo que matou Campos na última quarta (13), petistas tentavam circunscrever a disputa entre "esquerda e direita", polarizando com o PSDB e isolando o PSB, terceiro lugar nas pesquisas. Aécio era o segundo colocado, atrás de Dilma.
No primeiro turno de 2010, Marina surpreendeu o PT ao conseguir quase 20 milhões de votos. Neste ano, para dilmistas, a ex-senadora se apropriará dos eleitores que se identificaram com a pauta da onda de protestos de junho do ano passado, o que pode ampliar sua votação.
Na avaliação dos aliados da presidente, Marina atrairá parte dos votos brancos e nulos, que registraram altos índices nas últimas pesquisas de intenção de voto.
Esses eleitores, segundo o comitê petista, seriam "órfãos"" da ex-senadora. Além disso, há a crença de que as primeiras pesquisas mostrarão Marina com patamar próximo ou superior ao de Aécio.
Mudança de rumo
A mesma suspeita levou os estrategistas do tucano a refletirem sobre as estratégias que tinham traçado para enfrentar Dilma e Campos.
Apesar de acreditarem que a entrada de Marina no cenário obrigatoriamente levará a uma disputa em dois turnos, aliados de Aécio sabem que o desempenho dela pode tirar o tucano da reta final.
Para minimizar esse risco, a campanha do PSDB passou a estudar qual seria a melhor maneira de combater o crescimento de Marina.
Entre os principais estrategistas do tucano, a avaliação corrente é que ele deve fortalecer o discurso de que é o único capaz de reajustar a economia e promover um "choque de gestão" no país.
Apesar do capital político de Marina, dizem, ainda existem dúvidas sobre a capacidade dela de realinhar o país no momento em que ele vive uma "crise de expectativa".
Aliados de Aécio acreditam ainda que setores importantes da economia, como o agronegócio, resistirão à candidatura da ex-senadora, o que abriria espaço para o tucano navegar sozinho no campo da oposição a Dilma.
Fragilidades
Uma das apostas dos tucanos é que Marina terá dificuldades para manter o fôlego de sua campanha até o fim, uma vez que o PSB não é um partido grande e parte dos palanques regionais foi costurado com empenho pessoal de Campos e a contragosto de sua então candidata a vice.
A expectativa é que protagonistas das alianças fechadas em alguns Estados tendam a abandonar a ex-senadora. A mesma avaliação é feita no comitê de Dilma.
Para alguns assessores da presidente, Marina enfrentará também dificuldades dentro do próprio PSB.
Petistas veem ainda como fragilidades algumas posições históricas dela, classificadas por eles como "conservadorismo comportamental".
Como exemplo, citam que Marina é contra o aborto e já disse ser favorável ao ensino religioso nas escolas, embora admitam que um embate nesse campo corre o risco de resultar em um "déjà vu".
Na eleição passada, Dilma enfrentou resistência entre religiosos após uma polêmica em torno de sua posição sobre o aborto, desgaste apontado como um dos motivos da ida da disputa ao 2º turno.
Dirigentes do PT preveem também que, caso as pesquisas mostrem Marina à frente de Aécio e superando Dilma em um segundo turno, o movimento "volta, Lula" --que pede a substituição da presidente por seu antecessor na chapa-- ficará incontrolável.
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