• Ganham força previsões de que um racionamento de eletricidade será inevitável, o que multiplica dúvidas sobre os rumos da economia
Não bastassem as incertezas nascidas do tumulto na política e nas contas do governo Dilma Rousseff (PT), a economia nacional enfrenta também o espectro da insegurança energética. Se a escassez de eletricidade não derrubar ainda mais o PIB de 2015, é provável que faça tropeçar o de 2016.
Cresce entre especialistas a expectativa de que o Planalto se veja forçado a decretar um racionamento. Consultorias ouvidas por esta Folha situam entre 60% e 95% o risco de um corte no fornecimento de ao menos 5% ao longo de 2015.
O nível dos reservatórios de hidrelétricas no Sudeste e no Centro-Oeste, que geram mais de 70% da energia do país, iniciou março na marca de 20,6%, abaixo da média histórica. De 2009 a 2014, a quantidade de água estocada esteve entre 35% e 80% nesta altura do ano.
A apreensão existe porque abril faz a transição do período úmido para o seco, que segue até outubro. Algumas projeções indicam que o sistema chegará a novembro abaixo do nível de segurança de 10%.
O cálculo político leva a presidente Dilma a se apegar a cenários menos sombrios e a postergar a decisão traumática e impopular de racionar energia. Um corte de ao menos 10% no abastecimento, como pede Luiz Pinguelli Rosa, presidente da Eletrobras no governo Lula, pode abater 0,5 a 1,5 ponto percentual do PIB de 2015, que já seria mesmo negativo.
O Poder Executivo parece confiar nas chuvas de março e na própria retração da economia para evitar a medida drástica. É uma aposta perigosa, pois implica empurrar o risco para 2016, quando se espera que a atividade econômica comece a reagir (isso na hipótese otimista de que o ajuste recessivo ora iniciado não venha na dose errada, para mais ou para menos).
O Brasil, afinal, vive um paradoxo. O PIB encolheu 0,15% em 2014, segundo prévia do Banco Central, mas o consumo de energia subiu 2,2%, em média. Ele só diminuiu no setor industrial; no comércio e nos domicílios, permaneceu em alta, e com taxas superiores a 4%.
Se já tinha motivos suficientes para adiar investimentos, o empresariado encara a perspectiva incerta de um racionamento --quando? de que tamanho?-- como incentivo adicional para encurtar as rédeas.
Dilma não pode fazer chover, por certo. Mas pode evitar o comportamento temerário de governadores como o paulista Geraldo Alckmin (PSDB), que levaram o abastecimento de água à beira do colapso.
Sua obrigação é, no mínimo, dar previsibilidade aos agentes econômicos. A presidente precisa definir desde já, sem margem para ambiguidade, com qual nível dos reservatórios no início da estiagem terá de decretar um racionamento.
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