Cúpula partidária inclui em cálculo pós-Temer estratégia usada durante colégio eleitoral no final da ditadura
Ricardo Galhardo, Igor Gadelha, Caio Junqueira e Vera Rosa | O Estado de S.Paulo
Maior partido da oposição e segundo maior do Congresso, o PT discute repetir a estratégia lançada nas eleições indiretas de 1985 e não participar do colégio eleitoral, caso deputados e senadores tenham de escolher um substituto para o presidente Michel Temer. A corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) pretende que o partido feche questão e impeça que os parlamentares do partido participem de uma eleição indireta no 6.º Congresso Nacional do PT, a ser realizado entre 1.º e 3 de junho, em Brasília.
Naquele pleito, o PT se absteve na disputa entre Paulo Maluf (então do PSD, hoje PP) e Tancredo Neves (Aliança Democrática), que venceu por 480 votos a 180.
“Pelo amor de Deus, não entrem nessa (eleição indireta). É eleição direta, direta e ponto”, disse Lula, na manhã desta quinta-feira, 25, em reunião com lideranças das principais correntes internas do PT.
“Em 1985 pagamos um preço muito alto. Mas valeu a pena”, disse Lula, conforme relatos. Naquele ano, o partido havia participado ativamente da campanha pelas "Diretas-Já", no ano anterior, e considerava ilegítima a escolha do primeiro presidente civil, depois de 21 anos de ditadura militar, de forma indireta. Três dos oitos deputados da bancada petista (Bete Mendes, José Eudes e Airton Soares) contrariaram a orientação partidária e foram expulsos do partido.
Lula e a ampla maioria do PT avaliam que, se o partido participar de uma eventual eleição indireta para a sucessão de Temer, teria muito pouco a ganhar e muito a perder, pois a base da legenda defende eleições diretas. Consideram ainda que, seja quem for o escolhido para suceder Temer, será pressionado a dar continuidade às reformas trabalhista e da Previdência e, assim, o PT estaria indiretamente dando suporte às reformas. De acordo com interlocutores de Lula, o raciocínio vale também para Nelson Jobim, amigo de Lula e ex-ministro da Defesa nos governos petistas que surge como possibilidade entre os nomes na disputa indireta.
“A tendência é não participar do processo. A pequena possibilidade de participar da eleição seria ter uma candidatura com chances de ganhar e com proposta de suspender as reformas e jogá-las para 2019. Não temos disposição de participar de um colégio eleitoral restrito que não tenha nenhum avanço nesse sentido”, disse ao Estado o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).
Segundo ele, nenhum dos perfis colocados no momento é consensual. “A posição do Rodrigo Maia (presidente da Câmara) é de apoiar as reformas. Com essa plataforma, não tem acordo com ele. (O ex-ministro Nelson) Jobim, embora seja um perfil interessante, não sabemos o que está pensando. (O senador) Tasso (Jereissati) também representa a continuidade das reformas”, declarou. Setores do PT que contestam a ideia do boicote às eleições, porém, têm defendido nas negociações internas o apoio a Jobim. "Seria um nome de acordo nacional. É difícil o Lula falar mal dele", disse o deputado Vicente Cândido (SP), vice-líder do PT na Câmara.
A posição dos petistas tende a dividir as forças de oposição no colégio eleitoral e fazer se dissiparem os 99 votos da oposição no Congresso, hoje divididos entre PT (67), PDT (21), PCdoB (13), PSOL (6) e Rede (5). Desses, apenas o PSOL pretende acompanhar os petistas no boicote.
Documento. Na segunda-feira, 22, integrantes da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) defenderam o encaminhamento ao 6.º Congresso Nacional do PT de um projeto de resolução que feche questão pelo boicote à possível eleição indireta, proibindo parlamentares do partido de votar em um eventual novo Colégio Eleitoral. “Sou a favor disso. Nós não devemos participar desse processo”, disse o presidente do diretório estadual do PT de São Paulo, Emídio de Souza, um dos líderes da CNB.
Maia. Há petistas, no entanto, que aceitam negociar adesão à eventual candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). É, na prática, o mesmo grupo do PT que apoiou Maia para comandar a Casa tanto na última disputa, em fevereiro, como em julho do ano passado. Se Temer renunciar, Maia assume a Presidência por 30 dias. Depois desse prazo é realizada uma eleição indireta.
Aliados do presidente da Câmara dizem que ele já virou o nome preferido do baixo clero para um eventual pós-Temer. No PT, porém, a simpatia por Maia só é confirmada longe dos holofotes. “Podemos até concordar com eleição indireta, para apaziguar os ânimos no período de transição, mas o candidato deve aceitar retirar da pauta a agenda contrária aos trabalhadores e investir nas reformas política e tributária”, afirmou um senador do PT, sob a condição de anonimato.
Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), a proposta é “absurda” e não tem chance de ser aprovada no 6.º Congresso do partido, em Brasília. “A bandeira das eleições diretas representa o reencontro do PT com a sociedade, que não vai aceitar acordos por cima”, afirmou Lindbergh. “Quem participar de um acordão desses estará dando continuidade ao golpe e terá muita dificuldade até para se reeleger.”
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