sexta-feira, 1 de junho de 2018

Sob Alckmin, ricos perdem e Nordeste ganha, afirma coordenador de programa

Para Luiz Felipe D'Avila, Bolsonaro é voo de galinha e tucano deve enfrentar candidato ungido por Lula

Fábio Zanini, Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Coordenador do programa de governo da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) na eleição presidencial, o cientista político Luiz Felipe D’Avila diz esperar um segundo turno contra um candidato ungido por Lula. “O grande adversário do PSDB continua sendo o PT”, afirma.

Os dois partidos estão desgastados com a Lava Jato, mas D’Avila vê diferença. “Um criou o maior sistema de roubo para a perpetuação no poder. Caixa dois é outra história. Sempre teve e a gente como sociedade tem que reconhecer a nossa hipocrisia.”

Alckmin é acusado de ter recebido caixa dois da Odebrecht e a CCR —ambas citam seu cunhado Adhemar Ribeiro como o operador. Eles negam.

D’Avila questiona o “açodamento e pressa” da Lava Jato e a credibilidade de delatores: “Então a planilha de um escroque é mais importante que a história de uma pessoa?”.

• O que preparam para programas sociais? 

A conta que a gente procura fazer é qual é o retorno social de cada real gasto. Bolsa Família é o melhor retorno sobre investimento. Estudamos suspender o benefício enquanto a pessoa estiver empregada, mas volta a receber imediatamente se perder o posto. É um jeito de ajudar a formalização do trabalho.

• Qual programa dá pouco retorno?

As isenções fiscais, os benefícios. Isso é para ajudar a aumentar lucro de empresa.

• A privatização da Caixa tem custo político alto. Já está fora do plano de governo?
Não acho que vai ser tão alto porque, para quem é cliente da Caixa, não muda nada, passaria para o Banco do Brasil. O que o Persio [Arida, coordenador de economia da campanha] diz é que não vamos permitir que os bancos que estão no Brasil a comprem, tem que ser de fora, para aumentar a concorrência.

• Quem é o Alckmin de 2018 comparado ao de 2006? Ainda vestiria a jaqueta com marcas de estatais?

Ele vem com uma agenda muito reformista e falando a verdade. Inclusive porque mudou o contexto, estamos na mais grave crise política e econômica. Precisamos aproveitar a janela para fazer as reformas.

• Esse plano de governo seria aplaudido na Faria Lima, mas terá aderência no Norte e Nordeste?

Se a gente está pensando em Estado eficiente, quem vai mais perder é a Faria Lima, porque se beneficiam com isenções. Com abertura, quem vai se dar melhor é o Norte e o Nordeste, porque não têm tanta indústria, vão comprar insumo mais barato.

• Alckmin perde votos antipetistas para Jair Bolsonaro e Alvaro Dias. Por que está tão difícil?

Essa eleição é atípica. Em geral, quem disputa a reeleição tem vantagem tremenda. Desta vez, o candidato do governo tem 1%. Isso fez com que muitos se lançassem. O centro precisa se unir.

• O MDB não se aliará? 

Vai lançar candidato próprio, [o presidente Michel] Temer quer alguém para defender o seu legado, e ninguém quer fazer aliança para carregar legado. Defender reforma é uma coisa, mas legado é outra. A campanha do Meirelles é para valer. A grande questão que não está dada, o nosso maior adversário ainda não apareceu, o PT. Lula vai ungir alguém.

• Depois de tudo, o maior adversário do PSDB é o PT?

Qualquer pessoa que o Lula ungir vai ter 15 ou 16 pontos. Ainda acho que o segundo turno vai ser o clássico PT e PSDB.

• Bolsonaro é um voo de galinha? 

Eu acho que Bolsonaro é um voo de galinha. Hoje ninguém está preocupado com eleição a não ser político e jornalista. Quando chega agosto, cai a ficha. Aventureiros não ficarão em pé.

• Então por que Alckmin acena para seu eleitorado como ao sugerir liberar arma no campo? 

Não foi um aceno. Estamos estudando. Existe um projeto no Congresso que flexibiliza o porte de arma dentro da propriedade, pontual.

• Pesa contra Alckmin a marca da Lava Jato.

Primeira coisa que eu acho é separar Geraldo dos escândalos do partido.

• Como separar Alckmin do PSDB, se é o presidente do partido, sempre foi aliado do Aécio, Serra, Azeredo?

Tem enorme diferença. Se tem uma pessoa com total lisura é o Geraldo. Que tem problemas no partido tem, a gente tem de ser rigoroso. A maior punição para uma pessoa na vida política é não ser eleito. Aécio quase foi eleito presidente do Brasil, hoje no máximo vai tentar conseguir vaga para ser deputado federal. Tem coisa pior? É horrível.

• A acusação contra o cunhado diz respeito diretamente a Alckmin.

O que tem de comprovado em relação ao cunhado é zero e principalmente de ganho pessoal para o Geraldo. E não vai ter porque não aconteceu. O grande desserviço que Janot prestou ao Brasil foi jogar todo mundo no mesmo liquidificador e agora todo mundo é corrupto. A demonização da política é um desastre para o país.

• No caso do cunhado, ninguém fala em enriquecimento, mas em caixa dois, que é grave também.

Se houve acusação de caixa dois, vai ser discutida na Justiça Eleitoral. Às vezes a gente toma como verdade o que os canalhas falam mais do que o que a gente fala. Pô, corrupto de empreiteira fala que tinha tabelinha em que deu 100 para o candidato. Deu 10 e botou 90 no bolso. Então, a planilha de um escroque é mais importante que a história de uma pessoa? Tem que ter bom senso.

• A citação foi feita por duas grandes empresas.

A relação da CCR com o governo Alckmin é conflituosa do começo ao fim. Não é estranho que a empresa que tem o maior conflito é a que dá verba?

• A CCR está mentindo?

Questiono a plausibilidade da história. Paulo Preto [Paulo Vieira de Souza, tido como operador do PSDB], quem começou a investigação [na Dersa] foi o governo Alckmin. A Odebrecht dá um monte de dinheiro para o PT, faz sítio, faz casa, é outra coisa.

• Não fica difícil tentar dizer que o PSDB é fundamentalmente diferente do PT? 

É muito diferente. No sentido que um criou o maior sistema de roubo e corrupção para um projeto de perpetuação no poder. Caixa dois é outra história. Sempre teve e a gente como sociedade tem que reconhecer a nossa hipocrisia. Vocês cobrem eleição há tantos anos, todo mundo sabia.

• A Lava Jato cometeu excessos?
Sim. Houve açodamento, pressa, falta de rigor jurídico. Essa espetacularização da Justiça no sentido de perseguir pessoas é muito ruim. Ninguém mais acredita na Justiça, pô. É muito sério você algemar alguém, enfiar no camburão e depois dispensar porque não deu em nada. Como você explica para os amigos do seu filho na escola? Na sua sociedade? No seu mundo empresarial? Não é assim, pô.

• João Doria se gaba de não ser citado na Lava Jato.

Todo mundo que se diz limpo na Lava Jato é porque entrou na política recentemente. Porque caixa dois tinha em todas as eleições. Doria [substituir Alckmin na eleição nacional] é pura especulação. Doria tem que vencer em São Paulo. A vitória do PSDB é fundamental para a gente garantir os 10, 11 milhões de votos de que o Geraldo precisa. A gente precisa ser pragmático, precisa ganhar no Centro-Oeste, Minas e São Paulo. Com isso e mais o que ganharmos no Sul, estamos no segundo turno.

• Como resolver o problema do Alvaro Dias?

Quando o centro se consolidar, a tendência dele é começar a derreter.

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RAIO-X
Luiz Felipe D’Avila é cientista político e mestre em administração pública pela Universidade Harvard. É fundador do Centro de Liderança Pública (CLP) e, neste ano, disputou a candidatura tucana ao governo paulista, perdendo para João Doria

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