domingo, 2 de dezembro de 2018

O ajuste no BB e na CEF precisa ser o último: Editorial | O Globo

Com extensa história de uso pelos políticos, os bancos públicos têm enfim de ser bem administrados

Fundado por Dom João VI ao chegar em 1808 com a família real ao Brasil, em fuga das tropas de Napoleão, o Banco do Brasil quebraria, pela primeira vez, em 1821, quando o rei fez o caminho de volta com o dinheiro do BB nos porões. O banco público jamais deixou de ser usado pelos poderosos de ocasião até novas falências — ou precisar ser resgatado pelo Tesouro, sinônimo de contribuinte, antes de quebrar.

Com o governo de Jair Bolsonaro vai-se tentar não repetir o script tantas vezes seguido de manipulação do BB e também da Caixa Econômica, não tão antiga quanto o banco comercial, mesmo centenária, com idêntico papel relevante no fortalecimento da economia, porém manipulada em projetos de poder de políticos inescrupulosos, sem qualquer preocupação com acionistas e pagadores de impostos. Como o Banco do Brasil. O sentido figurado do saque feito no BB por Dom João ocorreria diversas vezes, também na República, inclusive em outros bancos públicos, porém de formas mais sutis: por meio de créditos subsidiados e concessão descuidada de financiamentos a amigos do poder, por exemplo.

O futuro superministro da Economia, Paulo Guedes, escalou para o BB e a CEF os economistas Rubem Novaes e Pedro Guimarães, com a tarefa de enxugar os bancos, pela privatização de subsidiárias e ajuste nos custos, incluindo pessoal. É um bom caminho. Reconheça-se que algo já foi feito nesta direção no governo Temer.

Com a inflação baixa para os padrões brasileiros, bancos paquidérmicos e ineficientes não resistem. Mesmo privados, como aconteceu no lançamento do Plano Real, a partir de 1994. Foi preciso criar o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o Proer. Traduzindo: para liquidar bancos privados inviabilizados pelo fim da superinflação, salvar ativos, negociá-los no mercado e não deixar sem ônus acionistas controladores.

A queda da inflação também desestabilizou os bancos estatais. A CEF, esvaziada pelo coquetel de incentivos insustentáveis ao crédito imobiliário; o BB, usado como sempre por oligarquias do campo e das cidades e obrigado, na ditadura militar, a financiar delírios como a fabricação do “computador brasileiro”.

Os 13 anos de poder do lulopetismo também foram ruinosos para as instituições financeiras públicas, porque, assim como a direita no poder na ditadura militar, a esquerda brasileira foi dirigista — ex-capitão do Exército, Jair Bolsonaro, enfrenta, entre outros, o desafio de provar que os tempos são outros.

Banco do Brasil e Caixa foram usados de forma irresponsável para baixar juros de mercado, pelo voluntarismo de Dilma Rousseff, e entrar em negócios insustentáveis na área do petróleo, por determinação de Lula, cujo objetivo, mostram os autos da Lava-Jato, era financiar o projeto de poder do PT. Sem considerar desvios personalizados.

A torcida é para que histórias tão extensas de desmandos e desrespeito com as finanças públicas cheguem de fato ao fim.

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