- O Globo
Bolsonaro quer um partido para chamar de seu. Como não conseguiu tomar o PSL, vai fundar outra sigla do zero. Assim nasce a Aliança, sujeita às vontades do presidente
É tentador comparar a Aliança pelo Brasil com a finada Aliança Renovadora Nacional. Jair Bolsonaro morre de saudades da ditadura. Ao fundar seu próprio partido, escolheu um nome que remete à legenda de sustentação do regime.
As semelhanças, no entanto, parecem parar por aí. A velha Arena foi fundada em 1966, depois que os militares impuseram o bipartidarismo. Enquanto existiu, teve ampla maioria no Congresso, nos governos estaduais e nas prefeituras. Chegou a se intitular o “maior partido do Ocidente” — sem lembrar, claro, que a criação de outras siglas estava proibida.
A Aliança nascerá com porte médio, num ambiente marcado pela fragmentação partidária. Aliados do presidente projetam atrair até 30 deputados para a nova sigla. Se isso se confirmar, ela terá a sétima bancada na Câmara, com menos de 6% das cadeiras. É pouco para um governo que até hoje não conseguiu formar uma base estável.
Bolsonaro quer um partido para chamar de seu. Como não conseguiu tomar o PSL de Luciano Bivar, resolveu fundar outra sigla do zero. Disso deve surgir uma legenda altamente personalista, organizada em torno das vontades do grande líder.
Em dez meses de governo, o capitão se recusou a aceitar críticas e dividir poder.
Apoiadores de primeira hora, como os deputados Joice Hasselmann e Alexandre Frota, caíram em desgraça ao contrariar os filhos do chefe. Na Aliança, a margem para dissidências tende a ser mínima. Quem discordar do Planalto se arriscará a ser punido com a geladeira ou a expulsão sumária.
O cientista político Jairo Nicolau aponta outros desafios para o novo partido de extrema direita. Os parlamentares que toparem a mudança perderão o dinheiro do fundo partidário e o acesso ao tempo de TV. Para se reeleger, a tropa dependerá de uma nova onda bolsonarista em 2022.
“Será que o Hélio Negão vai repetir os 345 mil votos do ano passado? A meu ver, esta é uma hipótese remota”, diz o professor da UFRJ.
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