- Folha de S. Paulo
Que meus correligionários atentem para o autoritarismo encabeçado por Bolsonaro
Num mundo em que versões prevalecem sobre fatos, criou-se a ideia de que a comunidade judaica brasileira em bloco apoia Jair Bolsonaro. A tese não procede. Como qualquer grupo razoavelmente heterogêneo, os judeus se dividiram em relação à candidatura do capitão reformado. Não existem pesquisas que permitam estimar números, mas é certo que a cisão foi acrimoniosa. Para dar uma medida do grau de polarização, basta lembrar que a direção da Confederação Israelita do Brasil praticamente entrou em guerra com o embaixador de Israel, que se tornou recentemente "amigo de infância" de Bolsonaro.
A ideia de que judeus estão com o presidente não surgiu, porém, do nada. Em sua origem está o apoio de primeira hora de alguns empresários judeus como Meyer Nigri (Tecnisa) e Elie Horn (Cyrella). O fato de Bolsonaro ter escolhido o hospital da comunidade, o Albert Einstein, para se tratar da facada que levou ajudou a criar a imagem de afinidade, que foi consolidada pela aproximação do já presidente com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e pela indicação de nomes com ascendência judaica para compor o primeiro escalão do governo.
É fato que, numa democracia, qualquer cidadão é livre para associar-se ao grupo político que preferir, sem precisar justificar-se. Isso dito, e na condição de membro relapso da comunidade judaica (não fiz bar-mitzvá e não acredito em Deus), confesso-me intrigado ao ver judeus apoiarem um político extremista, em especial um que minimiza a importância dos direitos humanos e de minorias e faz pouco das garantias do Estado de Direito. Até por razões epigenéticas, judeus deveriam manter-se tão longe quanto possível desse gênero de dirigente, situe-se ele à direita ou à esquerda.
Espero que a patacoada criptonazista encenada por Roberto Alvim sirva para lembrar meus correligionários da natureza autoritária do movimento político encabeçado por Jair Bolsonaro.
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