Wilson
Tosta / O Estado de S. Paulo
RIO -
Depois que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou as
condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
considerou a 13.ª Vara Federal em Curitiba incompetente para julgá-lo, o
cientista político Luiz
Werneck Vianna afirmou ao Estadão que a Lava Jato
"morreu de morte morrida". Para o professor da PUC-Rio, a ação
dos procuradores da força-tarefa e do então juiz Sérgio Moro tinha objetivo
"messiânico" – mudar o País pelo Código Penal –, durou demais e
deu errado. Vianna descartou ainda a possibilidade de Moro ser candidato à
Presidência, e disse que o combate à corrupção será tema
"lateral" em 2022.
Que
balanço faz desse processo, com a decisão de Fachin?
Mas tudo
que o STF está revendo foi aprovado pelo próprio STF. Por que a mudança agora?
Não
creio que tenha sido uma manobra conspiratória. A Lava Jato… ela durou demais.
Nasceu de uma concepção abstrusa, em que um pequeno núcleo de procuradores e
juízes assumiu um papel messiânico, de salvação da política. Querer fazer
política pelo Judiciário é um caminho ruim. E foi o que a “República de
Curitiba” tentou. Pelo processo formal, os processos não deveriam ser
vinculados a Curitiba, mas à Justiça Federal. Houve um erro humano.
Desqualificou-se a política, os partidos, e ficamos em um deserto. O legado da
“República da Lava Jato” é a desertificação da política.
Qual foi
o ponto de virada, no qual se notou que a Lava Jato estava indo além do que
poderia?
Foi um processo. Começa com a revisão da política da chamada condução coercitiva. Havia as prisões demoradas, a que eram submetidos os indiciados nas ações, ações cercadas de espetaculosidade. A mídia participou disso, de uma forma inteiramente franca e aberta. Não existiria "República de Curitiba" sem a mídia.
Essas
prisões prolongadas muitas vezes foram confirmadas pelo Supremo…
Mas de
outras vezes, não. A sociedade também não estava atenta ao que se passava, na
medida em que a luta contra a corrupção encontrou guarida na alma popular.
Encontrou legitimidade nos anseios escondidos, ocultos, da
sociedade.
Os
integrantes da Lava Jato atendiam a uma demanda social?
É, eles
foram levados à desgraça pelo sucesso. Foi um grande sucesso, não é? Chegou-se
até a especular uma candidatura de Moro a presidente da República.
Isso
está afastado?
Está.
Moro sai desse processo inteiramente desqualificado como juiz. Ele foi parcial.
Que
saldo fica?
O saldo
primeiro, para mim, é o de que não se deve combinar ação política com ação
judiciária. São duas dimensões: a política é uma coisa, a Justiça é outra.
Houve essa combinação esdrúxula, e deu no que deu.
Mas
isso, de certa forma, continua, não? Porque agora, com a decisão de Fachin, a
Justiça também interveio na política...
Ah,
continua. Isso agora faz parte do nosso DNA. A política se judicializou no
Brasil. Por falta de política, falta de partido. Não se veem medidas judiciais
interferindo na questão sanitária brasileira? Na compra de vacina? No lockdown?
Isso foi trazido para a política pelos erros da própria política. E agora
dificilmente sai.
Quais
são as consequências do retorno de Lula à política?
O fato é
que, para escapar da polarização extremada, Bolsonaro e Lula, seria preciso que
as forças do centro tivessem outra capacidade de interferir nos acontecimentos.
Mas o centro está fraco também!
Existe
centro na política, com chances de sucesso eleitoral?
Não sei
se o centro vai se reconstituir. Ele pode se reconstituir para ter um papel
marginal. Penso que, se o PT tiver maior lucidez, não vai ser o protagonista da
sucessão. Seria, nessa minha projeção utópica, o construtor de uma frente de
centro-esquerda. Ele participaria, evidentemente, ativamente. Agora, sem o
papel principal. É possível? Ele não tem história disso. Sempre procurou ser o protagonista.
E ficou claro, no discurso de Lula, que isso vai persistir.
Voltando
à Lava Jato: a postura messiânica do Ministério Público e da Justiça acabou?
A Lava
Jato está acabada. Morreu de morte morrida.
Não foi
de morte matada?
Não.
Não foi
o STF que matou?
Pode ter
sido um golpe de misericórdia, mas estava morta. Passou da conta. Foi um
projeto messiânico de salvação do Brasil pela reparação da criminalidade, pela
punição, pela extirpação do crime. Isso é uma proposta fora de sentido. Os
males do Brasil não são esses. Tem corrupção, sempre teve. É necessário que se
combata a corrupção de outra forma, não de uma forma que comprometa todo o
tecido político, como se fez. Queriam salvar o País por mecanismos judiciários,
pelo Código Penal. Não é por aí.
Em 2022,
um candidato com a bandeira do combate à corrupção seria então enfraquecido?
Olha, a bandeira da luta contra a corrupção não fará parte da próxima sucessão eleitoral de forma protagônica. Vai ser um tema adjetivo, lateral.
Um comentário:
Sempre tive em excelente conta a apreciação política do LWV. Neste caso ele perdeu totalmente o discernimento,dando vereditos genericos, totalmente estapafúrdios. Parece desconhecer até mesmo que a instância julgadora em questão, de Curitiba, compõe a Justiça Federal. Uma lástima!
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