Blog do Noblat / Metrópoles
O Brasil precisa de Forças Armadas
respeitadas, competentes, que sejam e passem a imagem de respeito às
instituições democráticas nas urnas
De tanto elas terem servido para reprimir práticas democráticas internas, sem guerras externas, começa a surgir na juventude um sentimento contra as Forças Armadas, especialmente o Exército. Este sentimento não é bom para o Brasil, pelo menos antes que surja uma desmilitarização de toda a América Latina e da África Atlântica, além de uma pacificação mundial, que permitam deslocar os gastos militares para outras prioridades, tais como erradicação da pobreza, educação, saúde, segurança interna. Difícil disto ocorrer, e se ocorrer, será quando a ciência e a tecnologia fizerem as armas obsoletas e a moral fizer a consciência humana superar conflitos. Até lá, o Brasil precisa de Forças Armadas respeitadas, competentes, que sejam e passem a imagem de respeito às instituições democráticas nas urnas. Por isto, precisamos ajudar os militares nesta direção.
Corporativamente, eles não encontrarão este
caminho: a formação, a história e o atavismo da mente militar brasileira,
diferente de outros países, fazem com que nossos soldados desconfiem de que os
políticos civis são corruptos, incompetentes, pouco patriotas e comunistas,
embora não se saiba mais exatamente o que isto significa. Até certo ponto, os
militares têm razão. Por isto, a primeira maneira de ajudar os militares a ter
prestígio junto à população é mudar o comportamento dos políticos: partidos com
causas voltadas para construir um país eficiente, justo, soberano, sustentável;
eleitos idôneos que coloquem o interesse público na frente dos interesses
pessoais. Se querem que os militares respeitem à Constituição, os políticos
civis também devem defendê-la e não manipulá-la em benefício próprio.
Precisamos ajudar os militares a mudar a
formação de seus cadetes na academia: mostrando-lhes que, no longo prazo,
apesar dos erros dos políticos, o Brasil será um país melhor se a participação
democrática for mantida, expelindo os maus políticos pelo voto, não por golpes.
Fazê-los ver que a maior insegurança do Brasil está na desigualdade social, que
decorre da desigualdade como a educação de base é oferecida conforme a renda e
o endereço dos pais. Entenderem que cada criança que abandona a escola é um patrimônio
nacional perdido.
É preciso ajudar os militares a perceberem
o patriotismo por trás dos discursos que propõem reformas para superar a
pobreza, distribuir renda, para ter um sistema de educação com a máxima
qualidade para todos os brasileiros, independente da renda e do endereço da
família, seu CPF e seu CEP. Também ajudará os militares, dar-lhes a percepção
de que os civis democratas zelam e usam com respeito os símbolos nacionais.
Os militares precisam ser ajudados a
perceberem os riscos trágicos da catástrofe anunciada do armamento de civis,
levando obviamente a uma guerra civil de grandes proporções em algum momento
futuro. Precisam entender que arma deve ser usada por profissionais: soldados e
policiais.
Devem ser ajudados a ver que o desejo de civis
por armas é resultado da desconfiança de que polícia e exército são
incompetentes para garantir segurança e defesa. E distribui-las aumenta esta
desconfiança. Quando muitos tiverem armas, não faltará quem defenda que a
Polícia e o Exército são desnecessários. Dirão até que no lugar de gastar
bilhões com tanques, melhor o governo distribuir armas para cada pessoa. É
preciso ajudar as FFAA a recuperarem o papel de defensoras da soberania e não
de políticas subversivas de armamento da população. Uma política que ameaça a
instituição militar, da mesma maneira que a recusa ao resultado das urnas
ameaça as instituições democráticas.
Os militares precisam ser ajudados a
perceberem que a Amazônia não é apenas um território: é a maior floresta e
reserva de biodiversidade planetária que ainda existe, porque os outros países
já destruíram as suas.
Enquanto a humanidade não jogar as armas
para os museus, nós precisamos das FFAA, por isto precisamos ajudar os
militares a serem aceitos e respeitados por se transformarem em instituição do
Estado a serviço da Nação, e não mais o braço armado do partido e do presidente
do momento.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
3 comentários:
Brilhante artigo do Cristovam! Mas, o que fazer quando o presidente (péssimo ex-militar expulso) e ministros e generais (militares da ativa ou da reserva) agem como MILICIANOS e não como verdadeiros militares?
O equilíbrio e a ponderação do Senador Cristovam Buarque deveria ser observado com atenção por nossas Forças Armadas. Não podem perder o rumo e a legitimidade.
Muito bom o artigo.
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