segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Bruno Carazza* - As pistas do uso do Fundão nas eleições 2022

Valor Econômico

Distribuição de recursos indica prioridades dos partidos

As eleições de 2014 foram as mais caras da história. Num tempo em que as doações de empresas eram permitidas, grandes grupos como JBS, as construtoras Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, UTC e Odebrecht, os bancos Bradesco e BTG e mais as cervejarias Ambev e Petrópolis (para ficar apenas nos top ten) investiram pesado no financiamento de candidatos e partidos.

O custo final das eleições de 2014 foi de R$ 4,4 bilhões - ou R$ 7 bilhões em dinheiro de hoje, corrigido pelo IPCA.

Este ano ficará muito próximo daquele recorde. As doações de empresas foram proibidas, mas a classe política tratou de manter os cofres dos partidos irrigados, só que com dinheiro público. Para este ano são R$ 4,962 bilhões de fundão eleitoral e mais R$ 984 milhões de fundo partidário. Com praticamente R$ 6 bi assegurados, o que vier de doação privada será lucro.

Cada partido teve um quinhão diferente na distribuição desses quase R$ 6 bilhões de recursos públicos para financiar a campanha deste ano, em função do seu desempenho nas eleições passadas.

No modelo brasileiro de financiamento público de campanhas há uma grande liberdade para as legendas distribuírem os recursos recebidos entre seus candidatos. Com as exceções da reserva de 30% para candidaturas femininas e do respeito à composição racial de sua nominata, os partidos ficam livres para aplicar o dinheiro nos cargos, Estados e candidatos que considerarem com mais chances de serem eleitos.

Estamos a 20 dias do primeiro turno e os partidos, até agora, já alocaram 63,2% do total recebido pelos fundos partidário e eleitoral. Mergulhar nos dados sobre essa distribuição é um exercício interessante para identificar as estratégias e prioridades de cada agremiação.

O primeiro ponto é o ritmo. Percebe-se que os partidos da base de Jair Bolsonaro foram os mais ágeis na destinação do dinheiro entre seus candidatos. Seu partido, o PL, já distribuiu 97,3% dos recursos recebidos dos fundos eleitoral e partidário. PP (com 92,7%) e Republicanos (88,7%) vêm logo atrás.

Os partidos que compõem a federação de Lula estão bem mais lentos: PT, PCdoB e PV são, respectivamente, o 10º, 11 º e 12º colocados no despacho do dinheiro para seus candidatos (média de 62,5% do dinheiro recebido).

Uma hipótese para velocidades tão diferenciadas pode estar na necessidade de cada bloco. Enquanto a coligação de Bolsonaro precisava reduzir a desvantagem nas pesquisas e, assim, foi forçada a ser mais eficiente na entrega dos recursos, o time de Lula pode ter guardado um saldo considerável para ser despejado na reta final da campanha.

Por falar em estratégias das candidaturas presidenciais, chama a atenção como o PT tem apostado alto na vitória de Lula. Até aqui, a direção da sigla já destinou R$ 86 milhões para o custeio da campanha do ex-presidente, o que representa 24% do total distribuído a todos os candidatos do partido.

Em termos comparativos, a segunda campanha presidencial mais cara até aqui, de Simone Tebet, consumiu R$ 33,25 milhões, o equivalente a 10,6% do caixa do MDB utilizado até agora. A campanha de Bolsonaro, por sua vez, custou até agora R$ 10,09 milhões - apenas 3,2% do orçamento gasto pelo PL.

A estratégia dos petistas de priorizar Lula pode acabar canibalizando recursos que poderiam ser utilizados para impulsionar candidaturas a deputado federal e senador.

Como pode ser visto no gráfico, a maioria dos partidos tem priorizado a disputa para o Legislativo federal, seja para fins de atendimento à cláusula de barreira, para garantir um naco maior dos fundos partidário e eleitoral nos próximos quatro anos ou para ter grande influência na nova legislatura.

A média de investimento dos partidos nos cargos de deputado federal e de senador é de, respectivamente, 55,6% e 6,2% do total. No caso do PT os percentuais são bem menores (42,5% e 4,6%), o que pode impactar os planos do partido de constituir uma boa bancada no Congresso em 2023.

Vale a pena também atentar para as prioridades de cada partido nos Estados. Até o momento as campanhas mais caras para governador são: Fernando Haddad (PT-SP, R$ 24 milhões), Rodrigo Garcia (PSDB-SP, R$ 19 milhões), Alexandre Kalil (PSD-MG, R$ 16 milhões), Anderson Ferreira (PL-PE, R$ 11,3 milhões), Danilo Cabral (PSB-PE, R$ 10,4 milhões), Marcelo Freixo (PSB-RJ, R$ 9,5 milhões) e Tarcísio Freitas (Republicanos-SP, R$ 9,3 milhões).

A ver quem vai conseguir dobrar as apostas e se sair vencedor nas três próximas semanas.

*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.

2 comentários:

Anônimo disse...

A campanha oficial de Bolsonaro custou tão pouco porque todos os gastos de Bolsonaro e sua comitiva nos deslocamentos são pagos pelo Governo Federal. Uma parte muito significativa dos gastos eleitorais é com transportes e estadia dos candidatos, assessores e direções partidárias, que Bolsonaro debita nos ombros do povo.

Anônimo disse...

É o Pix que é o IOF com imposto aumentado em caráter obrigatório, está esquecendo isto? Um negócio tão rendoso que mesmo o Estados Unidos dizendo não, o insaciável Paulo Guedes conseguiu através dele o seu desejável CPFM . Decidido na surdina do Congresso com ajuda do incorrigível Centrão, tá louco. O Guedes sabe que os Estados Unidos não aceitará e que condicionou a entrada ao OMCD com a extinção desse imposto que acabou com o turismo dos brasileiros, cartão de crédito 6% de IOF. Tudo nesse governo tem face dupla, é um governo baseado no fingimento, hipocrisia e a destruição das Leis. Enfim, o Guedes concordou em extingui-lo em 2029. Certamente pensando que a eleição seria ganha. No papo dos papagaios, sim, nos votos vamos ver….