Valor Econômico
Dia da pátria marcará o início da escalada
de ameaças para aumentar abstenção entre eleitores de Lula
O presidente Jair Bolsonaro cavalgará o
bicentenário da independência para fazer da efeméride o grande palanque da reta
final de sua campanha. A caça ao voto, porém, não está no toque marcial ou na
esquadrilha da fumaça, mas na escalada das ameaças. Que nunca foram militares.
A farda promove o fausto e o artifício, mas é coadjuvante no teatro de horrores
armado pelo presidente da República. O golpe pretendido é o do medo.
Como, nem sob tortura, as projeções indicam
a reeleição presidencial como cenário mais provável, a saída é impedir que o
eleitor do candidato que lidera as pesquisas vote. Como? Pelo medo. De que? De
tudo, mas especialmente da insegurança que se pretende fazer imperar nas ruas.
Taí um quesito no qual o bolsonarismo é imbatível.
De imediato tem a meta de ampliar a abstenção, tradicionalmente mais alta entre os mais pobres, majoritariamente eleitores do líder das pesquisas, para evitar uma derrota no primeiro turno, cenário ainda não completamente descartado.
Da Secretaria Especial de Comunicação
Social da Presidência da República saíram mensagens para difusão por whatsapp
das “ameaças comunistas” ao longo dos 200 anos da independência brasileira; do
deputado Eduardo Bolsonaro veio o convite para que os eleitores do pai, se
armados, adiram ao exército de “voluntários” da campanha presidencial; e do
candidato à reeleição voltaram a proliferar ameaças contra os ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), além de nova tentativa de forçar as barreiras
policiais do Distrito Federal na véspera do desfile de hoje.
Na traficância das ameaças o que não faltam
são aviõezinhos, como o pastor Silas Malafaia, que chegou a pedir que as urnas
fiquem paralisadas no dia das eleições, ou a fabricante de armas (Taurus), que resolveu
dar desconto em fuzil para quem comprar seus produtos. E apareceu até um
neonazista tentando matar Cristina Kirchner a mostrar o que acontece quando um
vizinho dá as costas à direita. Vale tudo para que sobre 2 de outubro pairem
temores de que qualquer coisa pode acontecer. E a partida para isso é o 7 de
setembro.
O TSE farejou longe. A reunião mais longa e
com o maior número de participantes da Corte eleitoral na temporada aconteceu
na última semana de agosto entre seu presidente e os comandantes da Polícia
Militar nos Estados. Primeiro pelo ineditismo do formato. Ministros do Supremo
se reúnem com governadores e, no limite, com secretários de Estado. Alexandre
de Moraes cortou caminho e foi direto em quem comanda.
Esperavam-se dez. Foram os 27. Começou às
9h, com previsão para durar 2 horas, mas avançou sobre a hora do almoço dos
participantes. Não houve um depoimento que não fosse de continência às ordens
do ex-secretário de segurança de São Paulo, hoje na presidência do TSE. Até o
comandante da PM do Rio tocou de ouvido com o ministro. Seu maior teste
acontecerá na diligência do comando da PM do Distrito Federal em conter a
entrada de caminhões na Esplanada ao longo do dia.
São os policiais militares que, no dia das
eleições, serão chamados a dar conta das situações mais comuns. Do eleitor que
desafiar a proibição de entrar na cabine com o celular aos detentores de porte
de arma que ignorarem a suspensão dos decretos presidenciais que o
liberalizaram. As tropas do Exército requeridas para a operação de “Garantia da
Apuração e Votação”, 20% superiores às das últimas eleições, não permanecem no
perímetro dos 100 metros dos locais de votação. O território é das PMs.
Os comandantes foram consultados não apenas
sobre o engajamento político de seus subordinados – apenas em São Paulo, 80
policiais militares se afastaram para disputar as eleições – como sobre a
decisão, que acabaria sendo tomada pelo TSE, de proibir a circulação de armas
no perímetro de 100 metros dos locais de votação.
Que efeito surtirá sobre o comparecimento
eleitoral esse embate que inicia sua escalada no dia da pátria? Nas eleições de
2014 e 2018, a abstenção variou entre 19% e 20%. Do levantamento minuncioso de
Orjan Olsen sobre o histórico da abstenção, depreende-se que os mais velhos e
mais pobres são os que mais se abstêm. O maior comparecimento é daqueles entre
35 e 59 anos. A maior abstenção é no Sudeste, onde 14 milhões deixaram de votar
no primeiro turno de 2018.
Trata-se de um perfil que recomenda cautela à estratégia de afugentar o eleitor. Entre os amedrontados pode estar também o eleitor bolsonarista que, neste 7 de setembro, foi atraído às ruas por uma ilusão. No bicentenário da independência festeja-se o compartilhamento de território, língua, leis, instituições e valores que mantiveram o país unido e renova-se o compromisso de incluir aqueles que ficaram à margem da história. É esta nação que Bolsonaro, ao se apropriar da efeméride, ameaça rasgar ao meio.
3 comentários:
Não desejo mal ao Capeta, mas se Bolsonaro for morar permanentemente com ele, eles que se entendam, já que se parecem tanto...
Quanto mais eu penso não vejo nenhuma possibilidade de outro mandato desse sujeito, o povo não aguenta mais, só se for a força e semelhança ao Hitler. Esse se impôs criando um império de malvadezas inimagináveis igual ao dito cujo. As mentes não poderiam ser mais compatíveis, Maldades absolutas misturadas com o sadismo que os faz almas gêmeas
Hitler = Bolsonaro.
Concordo com o anônimo,Bolsonaro é o Hitler brasileiro.
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