sábado, 29 de outubro de 2022

Ascânio Seleme - O que você vai escolher amanhã?

O Globo

Amanhã é um dia de escolhas. Inúmeras escolhas. Não pense que votando no 13 ou no 22 você estará apenas elegendo Bolsonaro ou Lula. Não mesmo. O número que você digitar amanhã na urna eletrônica vai representar mais do que seria possível resumir em uma lista que coubesse nos quatro mil toques do abre desta coluna. Mas, talvez respondendo a algumas questões, se possa entender tudo o que está em disputa nesta eleição. E qual o melhor caminho a seguir.

O que você vai eleger amanhã, o respeito às leis e à Constituição ou o desrespeito total e a permanente ameaça de interferir e destruir as instituições?

Na transparência ou nos cem anos de sigilo, sobretudo para malfeitos políticos ou familiares, em qual você votará?

Como terá de optar, você vai escolher a educação com recursos e dignidade ou escolas malcuidadas e meninos sem merenda?

Ao votar, você dirá quer um país culturalmente pujante e múltiplo, com incentivos fiscais a quem produz, ou uma nação de sertanejos que se recusa a fomentar uma indústria que gera 6,6 milhões de empregos e representa quase 3% do PIB?

Sua escolha de amanhã será em favor dos pregadores da paz e da esperança ou dos defensores do armamento generalizado da população? Você é Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) ou um cidadão que prefere ficar longe de armas?

Você que é cristão e acredita na redenção final, vai votar em quem defende pastores que trocam o amor de Deus por sacolas de dinheiro e barras de ouro ou em quem apoia religiosos que distribuem o pouco que têm com os que mais precisam?

Entre Jesus na goiabeira ou Jesus no coração, qual será a sua opção amanhã?

Você votará pelo fechamento do STF ou defenderá o Tribunal como garantia democrática?

Qual será a sua escolha: a liberdade, compreendendo que se trata de garantia de direitos e não de usurpação de direitos, ou o autoritarismo?

Se na urna estiver escrito de um lado “fake news” e do outro “verdade”, qual o botão que você vai apertar?

Você vai eleger quem combate à fome e a miséria ou quem acha que pobre só serve na hora de votar?

De que lado você estará na hora de votar, das mulheres ou dos misóginos? Das crianças ou dos pedófilos? Dos respeitadores ou dos assediadores?

Sua posição nas urnas será intransigentemente a favor da igualdade racial ou igual a dos que acham que a questão é apenas um “mimimi”?

E os indígenas? Você os defenderá e às suas terras ou vai votar em quem autoriza e incentiva garimpeiros e madeireiros a invadir e destruir suas reservas?

Da mesma forma, caro eleitor, se lhe for dado escolher você abraçará a Amazônia ou deixará que a invadam, desmatem e queimem?

Na hora do voto, você vai apoiar a causa LGBTQIA+ ou dirá que gay merecesse mesmo é levar porrada para endireitar?

Com seu voto você poderá defender a Ciência em todos os seus campos ou negar a ela seu apoio e transformar-se num negacionista. O que você vai preferir?

Você dirá que é terraplanista ou reafirmará que a Terra é redonda?

Se depender do seu voto, o Brasil será reinserido na economia e no debate global ou permanecerá um pária internacional?

Entre a democracia e a ditadura, com qual você ficará? Você prefere morar num país com três Poderes ou um só?

O que você vai eleger amanhã, o amor ou o ódio?

Tentativa de golpe

O mais recente atentado de Jair Bolsonaro contra a democracia foi provocado por dois aloprados, Fábio Faria e Fabio Wajngarten. Não podia dar outra. Fracassou por ser uma tese esdrúxula, frágil, inconsistente e mal-intencionada, uma fraude criminosa. O candidato, este também um aloprado de carteirinha, convocou uma entrevista para referendar o blefe horroroso, mal cheiroso, típico do bolsonarismo mais atrasado. E ainda acusou o adversário e o TSE de estarem por trás de uma hipotética operação nas rádios contra a sua candidatura. O tribunal, que rejeitou a ação por inepta, denunciou a candidatura ao Ministério Público por possível crime eleitoral cometido com a tentativa de tumultuar a eleição. Mais um crime, que já somam quase 50, para ser cobrado de Bolsonaro logo adiante.

Até a última hora

Pau que nasce torto morre torto. O procurador Augusto Aras tentou impedir que o STF aprovasse decisão do TSE de obrigar redes sociais a retirar prontamente do ar conteúdos falsos no período eleitoral. Os argumentos de Aras são tão rasos que teve o amparo de apenas dois ministros do Supremo, justamente os dois indicados por Bolsonaro, o maior produtor e beneficiário de fake news da campanha. André Mendonça, Nunes Marques e Aras pelo menos provaram que são tão leais quanto cães domésticos.

Sem ônibus

A tentativa de Aras em não permitir que se tire do ar fake news tem paralelo em decisão de governadores, como Zema, que disse ser contra o transporte gratuito de eleitor no dia 30. E, por que é contra? Porque facilita a vida do eleitor. Sem ônibus, a abstenção pode aumentar e Bolsonaro ganharia com isso. Da mesma forma que ganharia com a liberação de conteúdos mentirosos nas redes.

Vertigem

Romeu Zema, que ganhou com certa facilidade a eleição para governador no primeiro turno, corre sério risco de perder o segundo com Bolsonaro. Ele foi com muita sede ao pote, achando que conseguiria reverter a vantagem de Lula. Em Minas, já estão dizendo que ele sofre o que o jornalista Humberto Werneck chama de “vertigem de sobreloja”. O cara ainda nem subiu um andar e já está se sentindo nas alturas.

Guedes mente

O ministro Paulo Guedes, que causou um dos maiores desgastes na campanha de Jair Bolsonaro ao anunciar projeto de congelamento de salário mínimo, benefícios e pensões previdenciárias, produziu na quinta-feira uma frase antológica: “Nós roubamos menos”, disse ele comparando o atual governo com os petistas. Depois tentou se corrigir, mas a mentira já estava no ar.

Depoimento contundente

O presidente do Brasil disse numa entrevista que não viu “nenhum depoimento mais contundente” das mulheres que foram vítimas de assédio sexual e moral de Pedro Guimarães enquanto presidente da Caixa. Passar o pano sobre crimes bizarros é especialidade de Bolsonaro. No episódio dos tiros de Roberto Jefferson contra policiais federais, ele tentou a mesma manobra, mas se deu mal e recuou. No caso do abuso de Guimarães, talvez ele entenda que contundente seja apenas estupro.

Como o Rio vota

O Rio vai às urnas dividido, como se a eleição fosse para presidente do estado. De um lado, o governador Cláudio Castro apoia Bolsonaro. Do outro, o prefeito Eduardo Paes vai de Lula. Castro pode até ganhar, como apontam as pesquisas, mas perde porque é e deve continuar sendo tratado pela família presidencial como se ainda fosse apenas um vice-governador. Paes pode perder, mas na quinta-feira ganhou ao responder com dignidade e compostura as ofensas de baixo nível gritadas contra ele pelo candidato à reeleição.

Segundo assassinato

Segundo Frei Betto, o PTB acaba de ser assassinado mais uma vez a tiros. Sua primeira morte ocorreu quando Getulio Vargas atirou em si mesmo, em agosto de 1954. O partido ressuscitou em 1981 para tornar a morrer agora, com os disparos de Roberto Jefferson contra agentes da Polícia Federal. A morte desta vez parece ser definitiva.

Focinheira

O autor do atentado fatal ao PTB também atirou para matar quatro agentes federais que foram prendê-lo. Diante dessa agressividade miliciana, Jefferson recebeu tratamento especial da polícia. Nem algemado foi. Quem tem boa memória vai se lembrar como o ex-governador Sérgio Cabral apareceu para depor pela primeira vez depois de preso. Ele estava com algemas nos punhos e correntes nos tornozelos. E Cabral não atirou em ninguém. Jefferson merecia isso tudo mais focinheira.

Manda quem pode

A ordem que um membro da campanha de Tarcísio de Freitas deu a um cinegrafista da Jovem Pan causou barulho mais pela tentativa de se manipular a questão de maneira a transformá-la numa “ameaça” ao candidato bolsonarista, do que num problema para a emissora. Afinal, a Jovem Pan tem a liberdade de obedecer a quem ela quiser. Como disse o filósofo, ex-general e senador eleito Eduardo Pazuello, uns mandam e outros obedecem.

Fugindo do capitão

Excelente apuração do GLOBO mostrou esta semana que 30% dos parlamentares eleitos pelo Centrão abandonaram a candidatura de Jair Bolsonaro. Não fazem campanha a seu favor e não citam o nome do presidente em suas redes. São chamados pelo jornal de “isentões do Centrão”. São parecidos com o ACM Neto, que se escondeu a mais de mil quilômetros de Bolsonaro na visita deste à Bahia. O que parece ser um desembarque da candidatura do presidente na reta final ocorre em todo o país, sobretudo no Nordeste.

Unha encravada

A declaração de Tarcísio de Freitas de que terá uma relação republicana com Lula caso o petista ganhe a eleição causou fúria na campanha de Bolsonaro. Para assessores e estrategistas, a fala do ex-ministro é pior do que o cano dado por ACM Neto na Bahia. Soa como uma rendição, diz um deles. Parece que está se jogando a toalha. Para uma campanha que trabalha com fake news e pesquisas manipuladas, nas quais o candidato à reeleição aparece sempre na frente, qualquer manifestação em sentido contrário “incomoda mais do que unha encravada”.

9 comentários:

Anônimo disse...

Não sou Caçador, Atirador ou Colecionador de armas, e nem aliado ou admirador do Roberto Jefferson! Então, votarei 13, contra o armamento indiscriminado da população e contra as milícias e os milicianos!

Anônimo disse...

O voto é secreto: XIII

Anônimo disse...

E tem mais! A propaganda situacionista está usando até inseto.
Ontem. no horário do debate, um Percevejo verde-amarelo entrou na
sala!
http://www.pragas.com.vc/wp-content/uploads/2021/01/IMG_4553-1280x1090.jpg

Anônimo disse...

"uma frase antológica (do paulo JEGUES): “Nós roubamos menos”

PQP (desculpem), q bando, q despreparados,nq farsantes ...!

Q nojo!

Anônimo disse...

"Mais um crime, que já somam quase 50, para ser cobrado de Bolsonaro logo adiante."

O genocida preso será! (Yoda Lula)

Anônimo disse...

"Jefferson merecia isso tudo mais focinheira.'

Mas o genocida o salvou.

Anônimo disse...

"Para uma campanha que trabalha com fake news e pesquisas manipuladas, nas quais o candidato à reeleição aparece sempre na frente, qualquer manifestação em sentido contrário “incomoda mais do que unha encravada”."

Verdade. O gado se nutre na e da mentira.

Anônimo disse...

Não sou CAC, e me revolta ver uma desqualificada como Carla Zambelli apontando arma para cidadãos no meio da rua ou duma lanchonete, COMO SE TIVESSE QUALQUER AUTORIDADE para AMEAÇAR PESSOAS DESARMADAS! Roberto Jefferson e Carla Zambelli são apenas alguns dos MILICIANOS BOLSONARISTAS ARMADOS E VIOLENTOS, CRIMINOSOS dispostos a usar o poder das armas SEM QUALQUER RAZÃO OU MOTIVO! E mais de UM MILHÃO de OUTROS CANALHAS como eles estão por aí PORTANDO ARMAS SEM A MÍNIMA CONDIÇÃO ou necessidade para isto! Votar 22 é apoiar estes BANDIDOS!

ADEMAR AMANCIO disse...

Morro de medo de arma de fogo.