O Globo
Presidente enfrentará extrema direita
organizada e Congresso mais hostil; ministério indica disposição de devolver
país ao século XXI
Quando subir a rampa do Planalto pela
terceira vez, na tarde deste domingo, Lula concluirá mais um capítulo de uma
biografia marcada pelo improvável. Mas a volta ao poder, depois de 580 dias na
cadeia, será apenas o ponto de partida para novos desafios.
O petista já reconheceu que herdará um país
mais pobre e mais dividido do que em 2003. Aliados acrescentam que o período de
lua de mel, que costuma facilitar o início de todo governo, deve durar menos
que o habitual.
Além de enfrentar uma extrema direita
organizada, Lula terá que lidar com um Congresso mais hostil — além de
contrariado com o fim do orçamento secreto. Nesse cenário, a aposta na
distribuição de ministérios pode não surtir os mesmos efeitos do passado.
Políticos próximos ao presidente alertam que a luta pela governabilidade não será travada só na Câmara e no Senado. Lula precisará cuidar da popularidade e cultivar o clima de frente ampla que impulsionou sua vitória no segundo turno. Para isso, a promessa de “união e reconstrução” não poderá se limitar a um slogan publicitário.
A montagem do novo governo indicou a
disposição de devolver o país ao século XXI. O Ministério da Cultura,
demonizado e extinto pelo bolsonarismo, voltará a existir. As pastas da
Educação e da Saúde deixarão de servir como playground para extremistas. No
Meio Ambiente, Marina Silva reassumirá uma cadeira usurpada por inimigos da
floresta.
As escolhas da ativista Anielle Franco, da
líder indígena Sonia Guajajara e do professor Sílvio Almeida sinalizam
preocupação com a diversidade e o pensamento crítico, duas mercadorias
desvalorizadas pela gestão que terminou ontem.
As últimas nomeações de Lula foram menos
animadoras. A pretexto de garantir o apoio do União Brasil, o petista entregou
o Ministério da Integração a Waldez Góes, que já foi condenado por peculato e
está pendurado numa liminar do Supremo. A pasta das Comunicações acabou com um
certo Juscelino Filho, da mesma sigla. Um deputado tão desconhecido que chegou
a ser barrado por seguranças em seu próprio anúncio.
Com o tempo, outras contradições deverão
emergir. Lula terá que administrar conflitos entre Marina e o ruralista Carlos
Fávaro, agraciado com o Ministério da Agricultura. Escolhidos para a Fazenda e
o Planejamento, Fernando Haddad e Simone Tebet também tendem a disputar espaço
e protagonismo.
Ao anunciar que não concorrerá à reeleição
em 2026, o petista montou outra armadilha para si próprio: será um presidente
cercado por presidenciáveis. Só na área econômica, a lista inclui Haddad, Tebet
e o vice Geraldo Alckmin. “Mas só quem não conhece o Lula acredita que ele não
vai ser candidato de novo”, ironiza um dirigente do PT.
* * *
Fuga para Orlando
Ao requisitar um avião da FAB e abandonar o
país a dois dias do fim do mandato, Jair Bolsonaro cometeu o último de muitos
atos de indignidade na Presidência. Que aproveite as férias na terra do Pateta
antes de voltar para acertar contas com a Justiça.
Um comentário:
Pois é...
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