quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Bruno Boghossian - Um 7 de Setembro entediante

Folha de S. Paulo

Monotonia servirá bem ao feriado para reforçar obrigações da caserna com seus limites institucionais

Lula escolheu três adjetivos de dar sono para descrever sua expectativa para o Dia da Independência. "Acho que vai ser um 7 de Setembro bom, pacífico, normal", afirmou o presidente na antevéspera do feriado.

O petista mirou a data para marcar um capítulo necessário nas relações entre o poder civil e os militares. Depois de anos em que a aliança política de Jair Bolsonaro com as Forças Armadas explorou o 7 de Setembro para disparar ameaças, o governo tem a oportunidade de fazer uma solenidade entediante para reforçar as obrigações da caserna com seus limites institucionais.

A roupagem do primeiro Dia da Independência deste mandato de Lula parece apropriadamente burocrática. A ideia do governo é resgatar as cores verde e amarela como símbolos nacionais dissociados de correntes políticas. Já o slogan "democracia, soberania e união" teria o objetivo de enquadrar uma instituição que foi parceira do golpismo, se desviou de suas atribuições e serviu de veículo para o divisionismo.

Bolsonaro aproveitou o caráter militarista das solenidades para alimentar um projeto associado à autoridade das Forças Armadas. O então presidente plantou a semente em 2019, quando vinculou a data a uma luta por liberdade, ameaçada por adversários políticos. Nos anos seguintes, repetiu o roteiro ao anunciar a intenção de descumprir ordens judiciais, transformando o feriado numa exortação ao golpismo.

A ressaca bolsonarista veio pesada. O ex-presidente indicou a aliados que não pretende participar de nenhuma celebração pública no feriado. Valdemar Costa Neto, chefe do PL, disse à Jovem Pan que os apoiadores de Bolsonaro deveriam fazer o mesmo: "Vamos ficar em casa no dia 7 de Setembro, porque o que aconteceu com a gente no 7 de Setembro do ano passado foi muito triste".

Nenhum decreto seria capaz de tirar dos quartéis o elefante bolsonarista e nenhum desfile protocolar vai desfazer a corrupção institucional dos últimos anos, mas a monotonia servirá bem ao feriado.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade,falou pouco,mas falou bonito.