terça-feira, 9 de julho de 2024

Hélio Schwartsman - Cordão sanitário

Folha de S. Paulo

Aliança entre esquerdistas e centristas na França barra ainda que momentaneamente avanço da ultradireita

O "cordon sanitaire" funcionou mais uma vez. O partido de ultradireita francês Reunião Nacional (RN), que saíra à frente no primeiro turno das eleições legislativas, foi bloqueado por uma aliança de esquerdistas e centristas e acabou ficando em terceiro lugar. Nos distritos em que a disputa se dava entre três ou mais candidatos (no sistema francês, todos os que obtêm mais de 12,5% dos votos passam para o segundo turno), aqueles que estavam em pior situação abandonaram a corrida, facilitando a escolha do eleitor que desejava barrar a RN.

Era com esse efeito que o presidente Emmanuel Macron contava quando, no mês passado, decidiu convocar eleições legislativas antecipadas. Só que ele veio com atraso e beneficiando a esquerda e não o centro, como ocorrera nas duas eleições presidenciais vencidas por Macron.

O 7 de julho até vem com sabor de derrota para a RN, que na semana passada chegou a sonhar com uma vitória maciça que lhe rendesse maioria absoluta na Assembleia e o direito de fazer um premiê, mas, objetivamente, quem perdeu foi Macron. Antes da decisão de antecipar o pleito, sua coalizão tinha maioria relativa de 250 das 577 cadeiras da assembleia; agora ficou com 168. O bloco de esquerda viu sua representação saltar de 150 para 182 assentos. Está ainda longe dos 289 assentos que lhe garantiriam a maioria absoluta. Não está claro como a França poderá ser governada daqui em diante.

Ainda em termos objetivos, a RN cresceu. E cresceu bastante. Passou de 89 deputados para 143 e sentiu o cheiro do poder. Marine Le Pen, a líder do partido, deve disputar mais uma vez a Presidência em 2027 e, embora não se possa descartar a materialização de mais um cordão sanitário, suas chances são maiores do que nunca.

A cada pleito, a RN se torna mais normal aos olhos do eleitor, tanto por participar do processo como por se afastar estrategicamente de posições mais extremadas.

 

2 comentários:

Mais um amador disse...

" A cada pleito, a RN se torna mais normal aos olhos do eleitor, tanto por participar do processo como por se afastar estrategicamente de posições mais extremadas. "

Foi também o caminho tomado pelos partidos mais extremados à esquerda, que, no decorrer do século anterior, também tiveram que abandonar estratégias revolucionárias e adaptar-se ao jogo das disputas eleitorais para conquista dos Executivos e Legislativos. Se e como isso ocorrerá com a extrema direita, só o tempo dirá. Que o modelo liberal-democrático prevaleça por bom tempo.

ADEMAR AMANCIO disse...

Verdade.