O Estado de S. Paulo
Liberaram oferta agressiva – e então correm para tipificar potenciais dependentes e lhes tutelar os gastos
O Congresso aprovou o projeto de legalização
das apostas esportivas cantado pela promessa inflada dos dinheiros fáceis, sob
a sempre ardilosa miragem do olho grande, tocado pelo lobby vendedor de uma Las
Vegas para cada Estado e de receitas bilionárias para os tesouros.
A Fazenda também se encantou, a
regulamentação do bicho concebida todinha tendo as possibilidades de
arrecadação como norte. Haddad e seus raspadores de tacho de olhos crescidos
para aquelas projeções tremendas – os bilhões que viriam compor para lhe fechar
a farsa da meta fiscal.
A gula subestimou a complexidade do mundo real. Que se impõe. E de repente todos preocupados com as consequências dos estímulos ao consumo de apostas sobre a vida das gentes.
O Congresso aprovou o troço empilhando
votações simbólicas, apressadamente. Governo e Parlamento ignoraram o impacto
do vício sobre a saúde da população e no endividamento das famílias. E agora
vem o ministro falar em controle de CPF e “sistema de alerta sobre pessoas que
revelarem dependência do jogo” – conceito decerto a ser formulado sob o uso
extremado do Direito Xandônico.
Liberaram uma oferta agressiva – e então
correm para tipificar potenciais dependentes e lhes tutelar os gastos.
Sonhando com os bilhões em impostos que
bicheiros, milicianos e traficantes pagarão em suas porções empreendedoras do
entretenimento, o Estado brasileiro já garantiu, na prática, a abertura de
janela para a corrida de lavação das granas sujas – conforme ilustra a
multiplicação dessas bets entre nós. Proliferação cuja conta não fecha; não
para fins de um negócio lucrativo.
O negócio é outro. Mas talvez tenhamos a
nossa Las Vegas – quem sabe várias.
Nessas horas, ante o chamado inapelável do
futuro em que nossa vocação turística se expressará, nunca se reflete sobre
quem seriam os proprietários dessas Las Vegas – a serem erguidas em solo que
não é deserto, tendo o jogo uma história de sangue neste país.
A legalização do jogo acabará com o jogo
ilegal? Ou prestará serviços à ilegalidade?
O Congresso aprovou o projeto de legalização
das apostas esportivas embutindo no texto o contrabando dos cassinos virtuais –
porque é a legalização completa do jogo o que se pretende afinal. Aprovada essa
lei como se inexistisse o mundo real e o jogo – porque é de jogo que se trata –
não tivesse dono no Brasil.
Tem. E, na prática, o Congresso aprovou a
legalização de terreno sobre o qual o crime organizado se expandirá. Aprovou a
ampliação da superfície sobre a qual o crime organizado se lavará. Esse mercado
tem senhores. Assim continuará, por dentro e por fora. Mas teremos a nossa Las
Vegas.
2 comentários:
Já somos uma Las Vegas sem CSI.
Carácoles!
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