O Estado de S. Paulo
Quase metade das estimativas é de uma derradeira alta de 0,25 ponto da Selic, para 15%
Muita coisa mudou desde a última reunião do
Copom, em maio, quando boa parte dos analistas interpretou que a sinalização
dada pelo Banco Central era de que o ciclo de aperto monetário havia se
encerrado com a taxa Selic a 14,75%. Tanto mudou que o mercado chega dividido
para a decisão de hoje: quase metade das apostas é de uma derradeira alta de
0,25 ponto porcentual dos juros, para 15%.
O principal motivo foi a melhora no cenário externo, com a distensão da disputa tarifária entre EUA e China – ambos países anunciaram uma significativa redução das alíquotas de importação recordes no auge da crise. O dólar cedeu para menos de R$ 5,50, em comparação com o patamar de R$ 5,70 na última reunião do Copom. As Bolsas de Valores americanas subiram e voltaram a rondar níveis recordes.
Com isso, a avaliação agora é de que o
balanço de riscos da inflação no Brasil voltou a ficar mais assimétrico, isto
é, com risco altista maior. A tensão externa na reunião passada fez o Copom
eliminar o termo “assimétrico” para qualificar o balanço de risco. A percepção
era de que o Brasil podia importar uma desinflação vinda de fora, com um
impacto negativo das tarifas sobre o crescimento global. Com o recuo da disputa
comercial, esse fator de risco ficou menos relevante.
É verdade, por outro lado, que os últimos
índices de inflação vêm surpreendendo para baixo no Brasil, mas as principais
métricas de preços subjacentes, que apontam a dinâmica da inflação adiante,
ainda estão muito acima da meta do BC. Já as expectativas de inflação pararam
de piorar, mas se estabilizaram num patamar desconfortável.
Para 2026, horizonte relevante para o Copom,
a projeção do mercado é de uma inflação de 4,50%, enquanto a previsão do BC é
bem mais baixa, de 3,6%. Sem falar que a economia está mais aquecida do que se
esperava, com um mercado de trabalho bastante robusto.
Quando se pondera a avaliação de todos os
riscos hoje versus 45 dias atrás, no último Copom, parece bem menos óbvio que o
ciclo acabou com a Selic em 14,75%. Uma opção seria o BC parar e afirmar que
vai manter esse patamar dos juros por um período muito longo. Mas os modelos
sugerem que a esse nível a Selic não leva a inflação de volta à meta de 3%.
Para fazer o mercado acreditar que esse é o seu compromisso firme, o Copom teria de subir os juros para 15% e ainda deixar em aberto a sua decisão em julho. Seria um desfecho mais duro da reunião, mas o ganho de credibilidade levaria à apreciação adicional do câmbio e à queda das expectativas de inflação.
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