ARMÊNIO GUEDES
Por Gilvan Cavalcanti de Melo
Reencontros, redescobrimentos. Muitos abraços, entrelaçamentos. Emocionante. Foi assim a festa dos 90 anos de Armênio Guedes, no último domingo, aqui no Rio de Janeiro. O bairro das Laranjeiras transformou-se no centro de grande parte do país democrático, da esquerda desarmada Era comum ouvir-se nomes tais como Marcos, Armando, Júlio. Eram seus nomes conhecidos na dura clandestinidade, do exílio no Chile e na França.
Foi o momento privilegiado de revisitar os grandes debates e os caminhos que a esquerda tomou, no combate à ditadura militar e no período da transição para a democracia.
Lá estiveram muitos atores políticos e culturais: deputados federais Luiz Paulo Velloso, Fernando Gabeira, ex-deputado Marcelo Cerqueira, o ex-senador Roberto Freire, o cineasta Zelito Viana, o poeta Ferreira Gullar,o filosofo Leandro Konder, os cientistas políticos Werneck Vianna e Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sérgio Henriques, Raimundo Santos, Alberto Aggio, os jornalistas Wilson Figueiredo, Merval Pereira, Milton Temer, Sérgio Cabral, o secretário de saúde da cidade, Jacob Kligemam, Vereadores Aspásia Camargo e Stpan Nercessian. Além de outras dezenas de velhos e novos amigos que não teria espaço e memória para citá-los. A lista é enorme. A começar por um grande número de membros da direção nacional do PPS.
Por quê tanta festa? É um reconhecimento tardio a quem pensou a questão democrática desde os idos de 1957/58. É dele a idéia formulada na declaração de 1970 da Direção Estadual do PCB/GB:
“Cabe aqui, finalmente, uma observação especial sobre a situação das esquerdas dentro da oposição. Para essas forças, a pior conseqüência da inflexão do movimento de massas foi o rápido incremento das posições radicais. Não foram poucos os grupos revolucionários pequeno-burgueses que não souberam recuar ante o avanço da contra-revolução, passando do radicalismo verbal às posições de desespero e aventura. Iniciaram essas correntes uma série de atos que se explicam, antes de tudo, pela sua incapacidade para enfrentar a tarefa de reestruturar o movimento de massas nas condições difíceis criadas pelo avanço da repressão fascista. Os assaltos a bancos, os golpes de mão e outras formas de ação postas em prática por pequenos grupos desligados das massas, enfim, o emprego indiscriminado da violência, embora compondo objetivamente o quadro da oposição, não deixam, apesar de seu suposto caráter revolucionário, de desservir à resistência e de dificultar a organização da frente única de massas contra a ditadura. Em uma palavra, enfraquecem a oposição”.
Nada mais justo a homenagem àquele que com análise da realidade concreta nos idos de 1970 previa o fim do regime militar não pela via das armas. Pelo contrário, sua visão tranqüila, serena estava assim expressa:“- (...) ou através da desagregação interna do Poder, sob o impacto do movimento de massas e depois de crises sucessivas, forçando uma parte do governo a facilitar a abertura democrática”;
A história lhe deu razão. Conclusão: não é simples casualidade o entrelaçamento de tanta gente para abraçá-lo. Armênio sempre foi um agregador na luta pela democracia.
Finalizo, relembrando a ironia de Graciliano Ramos quando em um bairro distante de Maceió, lá pelos anos de 1936, viu num muro pichado: “Índios Uni-vos!” E pensou: aqui não tem índio e se houvesse não saberiam ler. Hoje gostaria de ler nos muros modernos a palavra de ordem: Democratas, uni-vos!
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