quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A restauração peemedebista

Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


A leitura atenta da pesquisa divulgada pela CNT-Sensus mostra que uma avenida se abriu para a cúpula do PMDB chegar ao centro do poder

A grande incógnita da sucessão de 2010 é o jogo do PMDB, que acabou de empalmar o comando do Congresso, para o qual elegeu José Sarney (AP), no Senado, e Michel Temer (SP), na Câmara. Ninguém sabe quem será o candidato da legenda na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, o que embaralha o jogo.

O déjà vu

Nas colunas de cartas de leitores nos jornais, a volta do PMDB ao comando do Congresso é vista pela maioria da pessoas como uma espécie de déjà vu. A expressão francesa significa um reação psicológica a lugares, pessoas e situações que parecem se repetir. Literalmente, é o “já visto”, aquilo que não acrescenta nada de novo. Na História, o grande déjà vu foi a restauração da monarquia na França, em 1851, como se fosse reverter historicamente a Revolução Francesa (1789-1799). Em pleno capitalismo, a volta às velhas relações feudais era uma missão impossível para a aristocracia francesa.

Marx escreveu sobre isso num livro famoso, sua única obra dedicada à análise do processo político real: O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte. É desse livro a afirmação que me vem à cabeça quando tento entender o desfecho das relações do governo Lula com o PMDB depois de seis anos de poder: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxilio os espíritos do passado”.

As ganas

Por causa da crise mundial, as ações do governo Lula apontam para uma guinada à esquerda, no rumo de uma espécie de novo “capitalismo de Estado” nacional-desenvolvimentista. Porém, a estabilidade política do governo e o projeto eleitoral encarnado pela candidatura de Dilma Rousseff foram confiados ao ex-presidente Sarney, o mais veterano dos caciques políticos em atividade, e a Temer, cristão-novo na base governista, que darão as cartas no PMDB. Ambos são políticos moderados, de formação liberal, sem nenhum alinhamento às concepções socialistas da ministra-chefe da Casa Civil. A conversa mais fácil de Sarney é com o governador mineiro Aécio Neves; a de Temer, com o governador paulista José Serra. Ambos são do PSDB, mas um deles está sobrando na luta pela vaga de candidato tucano.

A cúpula do PMDB realizou com sucesso exemplar o “aggiornamento” do partido em direção ao governo. Mesmo assim, para a maioria dos analistas, está irremediavelmente dividida, não tem projeto nacional, faz valer sua hegemonia no parlamento apenas para participar com ganas do condomínio de poder. Será mesmo isso? Não está escrito nas estrelas que a única alternativa do partido é se dividir entre dilmistas e serristas. Se o grupo de Sarney convergir em direção ao de Temer, com apoio dos governadores e das bancadas, pode surgir uma candidatura própria do PMDB, que sempre foi um projeto derrotado na luta interna da legenda, seja pela falta de um candidato que empolgasse realmente as bases do partido, seja em razão das conveniências regionais de seus caciques. A leitura atenta da pesquisa divulgada pela CNT-Sensus mostra que uma avenida se abriu para a cúpula do PMDB chegar ao centro do poder. O presidente Lula aparece mais forte do que nunca, no alto dos seus 84% de aprovação pessoal. Serra continua na frente. Dilma se consolidou. Mas Aécio é um candidato competitivo, seu problema é conseguir uma legenda confiável. Ou seja, o PMDB tem três alternativas pela frente, mas precisa marchar como monobloco em torno de um candidato para a História não se repetir como farsa.

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