terça-feira, 14 de julho de 2009

Faltam 3 milhões de empregos

Jean Maninat
DEU EM O GLOBO

Nas ruas da América Latina a crise econômica se define sem ambiguidade: desemprego.

De fato, em 2009 a região deveria criar mais de 3 milhões de postos de trabalho somente para recuperar os níveis do ano anterior.

Mas isto não vai ocorrer.

O grande desafio das economias latinoamericanas frente à crise é produzir empregos. Trata-se de apagar os rastros mais profundos que esta recessão nos deixa, a que golpeia as pessoas e suas esperanças. Além disso, os postos de trabalho são cruciais para restabelecer o consumo e apoiar o círculo virtuoso da recuperação.

Agora que começaram a ser detectados sinais de que a crise poderia ter chegado ao fundo, ou que, ao menos, tenha amainado, esse desafio é ainda mais urgente: segundo estudos da OIT, as crises afetam de maneira instantânea o emprego, mas, quando a recuperação chega, isto demora muito a notarse nos mercados de trabalho. Poderíamos conviver com esta falta de oportunidades de trabalho por mais cinco anos, com ou sem crise.

Quem busca esses milhões de empregos na região? Já sabemos que um número importante de pessoas perdeu o trabalho devido à crise. Além disso, deve-se levar em conta que a cada ano entre 3 e 4 milhões de pessoas se incorporam aos mercados de trabalho regionais, principalmente jovens, para os quais esta crise traduzse em falta de expectativas.

A turbulência que vivemos agita o mundo dos indicadores. As retificações são frequentes. Em todo o caso, os últimos dados disponíveis nos falam de um crescimento negativo em torno de 1,7 por cento na região latino-americana.

Este é o final de um ciclo positivo de cinco anos de crescimento e de queda no desemprego cuja taxa (urbana) agora poderia subir dos 7,5% registrados em 2008 para algo entre 8,7% e 9,1% em 2009, de acordo com um cálculo realizado conjuntamente pela Cepal e pela OIT.

Isso significa que entre 2,8 e 3,9 milhões de pessoas poderiam somar-se às filas de desemprego, que no ano passado já afetava quase 16 milhões de latino-americanos.

Quando se fala de postos de trabalho, atrás dos números sempre há pessoas.

Neste caso, esses números são um insumo poderoso para justificar que as políticas econômicas desta região coloquem a geração e preservação de postos de trabalho como seu objetivo fundamental. Isso, que parece óbvio, nem sempre é assim. Durante anos os esforços se concentraram em outros indicadores, assumindo que o mercado de trabalho reagiria automaticamente, o que, com frequência, não aconteceu. No momento atual, já não existe espaço para essas experiências.

Enfrentar esta crise laboral é a meta fundamental do Pacto Mundial para o Emprego, aprovada por governos, empregadores e trabalhadores de todo o mundo na reunião anual da OIT em Genebra.

Este pacto é um compromisso de buscar o caminho mais adequado com o objetivo de gerar postos de trabalho, redirecionando investimentos, investindo recursos para estimular a economia real, pondo em prática políticas para que as empresas sejam sustentáveis, protegendo as populações mais vulneráveis, recorrendo ao diálogo social para obter acordos, entre outras recomendações.

Na América Latina existem vários países onde se começou a trilhar este caminho. Mas é fundamental não perder de vista o objetivo de gerar trabalho decente, de converter os planos em ações e não nos desviarmos do caminho. Se não tivermos êxito, os que buscam emprego se sentirão frustrados e decepcionados, o aumento da pobreza será notório, a saída da crise poderá ser imobilizada e tudo isto poderia afetar a governabilidade democrática.

Jean Maninat é diretor regional da Organização Internacional do Trabalho para a América Latina e o Caribe.

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