sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Arns se desfilia e diz que infiel foi o PT

Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

Dom Paulo Evaristo Arns, tio do senador, manda carta parabenizando sobrinho

BRASÍLIA. Atacado por excompanheiros da cúpula do PT e do governo desde que decidiu sair do partido denunciando traição à ética por causa do apoio ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o senador Flávio Arns (sem partidoPR) se desfiliou oficialmente da legenda. Do plenário do Senado, Arns leu a carta encaminhada ao diretório municipal do PT em Curitiba. Coube ao senador Pedro Simon (PMDBRS) a leitura de um telegrama de apoio do tio de Arns, o arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.

O cardeal parabeniza a atitude coerente do sobrinho, “diante da corrupção inacreditável do Senado”. No texto, Dom Paulo Evaristo Arns ainda transmite o apoio à senadora Marina Silva (sem partido-AC), ao próprio Simon, além dos “demais colegas que defendem a ética e o decoro dos chamados Pais da Pátria”.

Num longo discurso, Arns voltou a repetir que não tem medo de perder o mandato, mas que está disposto a um debate jurídico sobre sua decisão. Argumentou que o mandato serve para estar em sintonia com a sociedade e para que o parlamentar possa fazer o correto.

— Se houver um debate judicial na sequência, vamos enfrentar com a maior tranquilidade e segurança, inclusive para que o Brasil possa ter uma jurisprudência que diga que fidelidade tem de ser de mão dupla: minha com o partido, e do partido com seu ideário, filosofia, história, programa.

Não fui eu infiel, mas sim o partido foi infiel à sua história e ao seu programa — argumentou Flávio Arns.

Simon aproveitou a leitura do telegrama do cardeal para criticar o PT: — No momento em que, para ficar do lado do senhor Sarney, perdem homens que nem V. Excelência e recebem mensagens que nem a do Dom Evaristo, eu, sinceramente, não consigo entender.

Ao enumerar na carta as razões pela sua desfiliação ao PT, Arns reforçou que a atitude do PT de orientar os senadores do partido a votarem pelo arquivamento das representações contra Sarney no Conselho de Ética ignorou o documento assinado por todos os integrantes da bancada que defendiam a apuração e investigação das denúncias encaminhadas.

— Apesar de haver esta nota por escrito, os três votos do Partido dos Trabalhadores naquela reunião foram a favor do arquivamento do processo e não do esclarecimento, apesar de todos os senadores terem participado da elaboração e com assinatura daquele documento — discursou Arns.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) classificou de ousado o gesto de Arns: — Não o gesto de quem sai por interesses eleitorais ou por um arranjo qualquer, mas de quem sai para continuar fiel.

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