sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ciro diz a Lula que é candidato ao Planalto

Vera Rosa, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Em jantar, presidente afirmou que quer deputado na corrida paulista

A possibilidade de candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) ao Palácio do Planalto pelo Partido Verde (PV), em 2010, fortaleceu o desejo do PSB de lançar o deputado Ciro Gomes (CE) à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em jantar que reuniu dirigentes do PSB e do PT, na quarta-feira, Ciro disse a Lula que sua prioridade é concorrer à Presidência, e não ao governo de São Paulo. Afirmou ainda que o projeto governista corre risco de derrota se a eleição for um "plebiscito" entre petistas e tucanos.

"Acho um grave erro apostar todas as fichas numa única candidatura da base aliada", argumentou Ciro, numa referência à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a preferida por Lula para a disputa de 2010. O presidente, porém, não escondeu que, se dependesse dele, Ciro deveria concorrer à cadeira do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

O Planalto mostra preocupação com a entrada de Marina no páreo presidencial. Ex-ministra do Meio Ambiente e petista histórica, a senadora está de malas prontas para o PV. Além disso, ela coleciona divergências com o governo e rusgas com a própria Dilma. No diagnóstico do Planalto, Marina pode não ter tantos votos, mas fatalmente empurrará a eleição para o segundo turno, jogará água no moinho dos tucanos e será uma candidatura de contestação ao atual modelo de desenvolvimento. Na prática, um contraponto feminino a Dilma feito por quem conhece o governo e o PT.

O racha na base aliada foi um dos principais assuntos do jantar, no Palácio da Alvorada. Anfitrião do encontro, Lula garantiu que não tentará demover Marina de sair do PT nem de entrar na corrida ao Planalto. "Em nenhum momento eu pediria a Marina para não ser candidata. A minha história foi construída com muitas candidaturas", afirmou ele, de acordo com relato dos convidados.

Dilma também participou do jantar, que varou a madrugada, e conversou bastante com Ciro e com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos."Dissemos ao presidente Lula e à ministra Dilma que, se a tática de lançar vários candidatos puser em risco o projeto governista, reavaliaremos nossa posição", contou Campos, que preside o PSB.

Ficou combinado que o PSB fará nova rodada de pesquisas, até 15 de setembro, para medir o potencial de Ciro em São Paulo e no País. É provável que o deputado transfira o domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo, mas isso não significa, necessariamente, que será candidato ao Bandeirantes.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirmou que o partido tem simpatia pela candidatura de Ciro em São Paulo. Não é bem assim, pois Lula gosta de Ciro, mas ele sofre resistências na seara petista. O PT e o PSB também vivem às turras no Paraná e no Espírito Santo, além dos problemas enfrentados em São Paulo.

Diante do impasse, o presidente voltou a dizer que o deputado Antonio Palocci (PT-SP), ex-ministro da Fazenda, pode concorrer à vaga de Serra. Palocci está animado com essa possibilidade. Acusado de violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, em 2006, o ex-ministro só aguarda o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e tem certeza de sua absolvição.

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