sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Após dois anos, PMDB obtém o comando do Real Grandeza

Cláudia Schüffner e Janes Rocha, do Rio
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Depois de três tentativas frustradas de afastamento do atual comando da Fundação Real Grandeza (FRG) pelo grupo liderado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um acordo selou ontem a troca de executivos. A FRG é o fundo de pensão dos funcionários das estatais Furnas e Eletronuclear e seus gestores administram um patrimônio de R$ 8 bilhões.

PMDB consegue derrubar direção do Real Grandeza

Depois de três tentativas frustradas de afastamento do atual comando da Fundação Real Grandeza (FRG) pelo grupo liderado pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um acordo selou ontem a troca de executivos no fundo. A FRG é o fundo de pensão dos funcionários de Furnas e Eletronuclear e seus gestores administram patrimônio de R$ 8 bilhões.

O PMDB vinha pressionando pela troca dos dirigentes há dois anos. O governo federal resistia à pressão respaldando a atual direção. A troca se dá uma semana depois do acordo selado entre o partido e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com vistas a aliança eleitoral em 2010.

No Palácio do Planalto a troca dos dirigentes os assessores do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva negaram reiteradamente qualquer relação da troca dos dirigentes com o acordo entre Dilma e o PMDB.

Em Caracas, onde acompanhava Lula, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, em Caracas, disse a assessores do governo que a troca de dirigentes teria se dado em condições distintas das outras vezes em que foi tentada porque a atual direção estaria terminando o mandato e não poderia ser reconduzida. Ainda segundo o ministro, a substituição foi feita em comum acordo com os sindicalistas.

O Conselho Deliberativo da fundação escolheu por unanimidade Aristides Leite França, conhecido como "Garibe", para o cargo de diretor-presidente e Eduardo Henrique Garcia para a diretoria de Investimentos. Eles vão substituir, respectivamente, Sergio Wilson Fontes e Ricardo Nogueira. O mandato de Fontes, que poderia ser reconduzido, vence este mês e o de Nogueira em 2010.

Segundo nota oficial divulgada ontem pela FRG, os novos diretores tomam posse em 16 de novembro. França é administrador de empresas, funcionário de carreira desde 1975 e Garcia é economista, funcionário há 12 anos. Coincidentemente, em fevereiro, quando houve a terceira tentativa de troca dos dois dirigentes da FRG, Garcia foi indicado para acumular os dois cargos.

A escolha de França e Garcia marca o fim de uma disputa que envolveu funcionários ativos, aposentados e sindicalistas de um lado, e o comando de Furnas de outro. Há dois anos a direção de Furnas, hoje sob comando de Carlos Nadalutti Filho, indicado pelo PMDB do Rio, tentava tirar Wilson Fontes e Nogueira.

A queda de braço teve início em 2007, com a chegada do ex-prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, à presidência da geradora. No início deste ano o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a acusar a direção da FRG de "bandidagem".

Os sindicalistas sempre se uniram para rejeitar a pressão pela troca no comando da fundação. O Governo tentou acalmar os ânimos, sob intensa pressão do PMDB do Rio na Câmara, mas a situação ficou insustentável. Dois meses atrás foi nomeado como "apaziguador" o diretor de transmissão da Eletrobrás e presidente do conselho de administração de Furnas, Flavio Decat.

"A Real Grandeza é uma fundação patrocinada por Furnas e precisa ter uma relação minimamente profissional com a patrocinadora. A solução foi essa que está aí, novos dirigentes eleitos por unanimidade, o que significa que todos estavam de acordo", disse Decat ao Valor.

A resistência da base sindical do Rio começou a ser minada a partir da criação do Fórum em Defesa da Fundação Real Grandeza, reunindo 19 entidades entre sindicatos e associações de aposentados de várias tendências. O Fórum defendia a recondução de Fontes para um segundo mandato (2010-2014), porque o consideravam um bom gestor, que resolveu os problemas financeiros da FRG. No entanto, nos últimos dias, as entidades mudaram de ideia e aceitaram uma proposta patronal que insistia na saída dos dirigentes.

"Nós achamos que a gestão de Fontes foi estupenda, mas a direção de Furnas tinha outra avaliação", disse Carlucio Gomes de Oliveira, diretor do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU-DF) e coordenador do Fórum. "Concluímos que, dentro do processo, era possível aceitar outros nomes", afirmou Oliveira, reiterando que as entidades não aceitariam um nome indicado por qualquer partido político.

Segundo os sindicalistas, a aceitação do acordo se baseou em uma proposta apresentada pelo conselho deliberativo da Fundação. A proposta, oficializada através de um documento intitulado "Projeto de Sustentabilidade da Nova Gestão da Fundação Real Grandeza", consistia no compromisso de Furnas com a concretização de uma série de medidas que estavam "engavetadas" por causa do conflito com a direção do fundo. Todas as medidas vão representar um desembolso adicional de recursos ou a renúncia, em favor dos participantes, de economia que faria com a redução de contribuição à FRG. O vice- presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Fundos de Pensão Rodrigo Campelo, calculou que estas medidas vão representar um desembolso de R$ 1,3 bilhões para Furnas.

A interpretação de sindicalistas é de que Furnas estava promovendo um boicote e se negando a cumprir compromissos que acabaram sendo usados como "chantagem" para trocar os dois cargos mais importantes. Demonstração disso é o item 4 do "Projeto de Sustentabilidade" prevê, explicitamente, que o projeto "constituirá a pedra para integração das patrocinadoras com a Real Grandeza (....)" desde que as medidas fossem "em conjunto com a nomeação consensual" da nova direção.

"O Conselho capitulou. Quer um acordo de governança com Furnas e por isso entende que está encerrado o período político de Sergio Wilson e Ricardo Nogueira (os atuais)", afirma Rodrigo Campelo, do Sindicato dos Trabalhadores em Fundos de Pensão. "Esse Garcia foi um nome já colocado por Furnas para substituir o Nogueira, por isso vejo com suspeição", disse Campelo referindo-se ao novo diretor de investimentos.(Colaborou Paulo de Tarso Lyra, de Brasília)

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