domingo, 11 de outubro de 2009

Newtão, agora aliado exigente do PT

Fábio Fabrini
DEU EM O GLOBO

Ele se diz traído por petistas e defende de novo aliança, mas com PMDB na cabeça

BELO HORIZONTE. Aos 71 anos, o ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso (PMDB) é hoje uma sombra do poder que acumulou nos anos 80. Sem cargo desde o fim de 2002, quando perdeu as eleições para o governo do estado, é acusado em inúmeros processos de corrupção.

Terá de disputar votos para a Câmara dos Deputados com a ex-mulher, a deputada Maria Lúcia Cardoso (PMDB), na região de Contagem, cidade da qual foi prefeito três vezes. Depois de se aliar ao PT e perder a campanha para o Senado em 2006, se diz traído pelo presidente Lula e seus aliados. Mas, ao mesmo tempo, conta com a aliança petista em 2010 para se reeguer e ainda faz exigências.

Para afiançar a composição do PMDB com o PT para o Palácio da Liberdade em 2010, quer que seu partido tenha o ministro das Comunicações, Hélio Costa, na cabeça de chapa — o que significaria, para o PT, abrir mão das pré-candidaturas do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e do ex-prefeito de BH Fernando Pimentel.

Diz que é preciso retardar a entrada de seu partido na chapa da ministra Dilma Rousseff à Presidência até que o PT assegure espaço para os peemedebistas nos estados.

— Fui usado pelo PT aqui em Minas, inclusive pelo Lula, que me prometeu mundos e fundos e não cumpriu. Não queria sair para senador, e a primeira coisa que fizeram foi retirar o apoio a mim. Fiquei sozinho.

O polêmico Newtão voltou recentemente de encontros com Orestes Quércia (PMDB), aliado do tucano José Serra em São Paulo, e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), que tenta viabilizar sua candidatura ao governo da Bahia.

— Não aceito composição minoritária.

Se o PMDB for mais uma vez caudatário do PT em Minas, acabou-se o partido — afirma, acrescentando que o Planalto não pode “querer tudo”.

Houve tempo em os recados de Newtão causavam estrondo entre os peemedebistas de Minas.

Ele era o “dono” do partido no estado. Hoje até aliados questionam sua influência.

— É um cacique, mas nem todo mundo escuta mais o apito.

Sua imagem se desgastou e o partido quer se renovar — diz um ex-prefeito do PMDB.

A trajetória política de Newtão começou aos 19 de idade, quando se filiou ao Partido Republicano (PR) — extinto pela ditadura militar. No PR, Newtão militou no movimento estudantil, mas no MDB começou a disputar cargos eletivos.

Além de governador (19871991), foi três vezes prefeito de Contagem (1973-1977, 1983-1986 e 1997-1998), segunda maior cidade de Minas, duas vezes deputado federal (1979-1983 e 1995-1996) e uma vez vice-governador do estado (1999-2003).

Ainda é alvo de investigações de corrupção por cargos que ocupou há mais de 20 anos.

O mais recente inquérito aberto pelo Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) está prestes a ser concluído e enviado à Justiça. Apura esquema de pagamento de propina a Newtão em seu segundo governo em Contagem. Segundo os promotores, empresários de ônibus repassavam cheques a ele, em troca de decretos autorizando a prestação de serviços. Ele teria recebido pelo menos um milhão de cruzeiros (valor não atualizado) para sua campanha vitoriosa ao governo de Minas.

No comando do Palácio da Liberdade, sofreu pelo menos dois pedidos de impeachment na Assembleia Legislativa por desvios em obras, bens não declarados e outras irregularidades.

Uma comissão para apurar as denúncias foi aberta, mas as apurações não avançaram.

— Na época, o PMDB tinha maioria no Legislativo. O presidente da comissão, José Laviola (falecido), abriu os trabalhos agradecendo ao governador pela indicação — lembra o ex-deputado e atual vice-prefeito de BH, Roberto Carvalho (PT).

Newtão foi acusado pela oposição de sumir com lustres do Palácio da Liberdade e presentear secretárias da prefeitura de Contagem com ouro comprado com dinheiro público. As denúncias foram arquivadas.

Ação civil pública pede a devolução de R$ 120 milhões e o bloqueio dos bens do ex-governador e seu antecessor, Hélio Garcia, por abandonarem a obra do Cardiominas — um hospital da capital mineira — só finalizada há dois anos. Não houve julgamento.

Em outro processo, Newtão foi condenado a restituir os cofres públicos por viajar às suas fazendas em helicóptero do estado, quando vice-governador.

Recorreu.

Promotores apuram prejuízos na obra de um sistema de trólebus (ônibus elétrico) em BH. Ela começou com Hélio Garcia, mas Newtão desistiu da ideia para implantar o VLT (veículo leve sobre trilhos). Dois veículos foram comprados e parte da infraestrutura instalada, mas nenhum passageiro foi transportado.

A Justiça de Contagem analisa mais dois casos por uso de servidores da prefeitura em proveito particular.

— Se tivesse cometido erro, não estaria de pé até hoje — responde ele. Sobre as obras paradas, diz que não teve responsabilidade.

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