quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Faxina de Dilma poupa PT e degola siglas aliadas

Levantamento do "Estado" mostra que PR e PMDB foram os mais atingidos por demissões

João Domingos

BRASÍLIA - Traduzida em números, a faxina no governo revela que a intervenção da presidente Dilma Rousseff na Esplanada se aproxima de uma coleta seletiva: recicla mais os quadros ligados ao PMDB, PR, PC do B e PP, conforme levantamento feito pelo Estado nas edições do Diário Oficial da União de 8 de junho - data da substituição do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) por Gleisi Hoffmann - até ontem.

Da área de influência do PR, a faxina da presidente atingiu 30 pessoas, sendo 7 filiados à sigla; do PMDB, 19, sendo 11 da legenda. Os não filiados foram contabilizados porque estão nas órbitas dos partidos. Do PT, só foram afastados Palocci e Hideraldo Luiz Caron, que ocupava um cargo na diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte Terrestre (Dnit).

Ontem, o PMDB teve mais uma baixa. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Francisco Sérgio Jardim, foi afastado de suas funções por ato da ministra Gleisi. Jardim era um dos últimos remanescentes da equipe do ex-ministro Wagner Rossi, que deixou o ministério por suspeita de envolvimento em irregularidades.

A queda de Jardim já vinha sendo anunciada pelo governo, embora o PMDB fizesse pressão para evitar que ele fosse tirado do cargo. Outro nome ligado ao PMDB que pode deixar a função que ocupa é Fábio Cleto, hoje diretor de Fundos de Governo e Loterias da Caixa Econômica Federal. De acordo com informações de bastidores do governo, o afastamento dele já foi decidido por Dilma e só não foi concretizado porque a presidente quer evitar uma revolta maior do PMDB na véspera da votação do projeto que cria o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos (Funpresp). A proposta deverá ser votada depois do Carnaval.

Quando denúncias de envolvimento em irregularidades atingiram o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), do círculo íntimo da presidente, Dilma teve uma atuação muito diferente das anteriores. Ela mesma saiu em defesa do auxiliar.

No PMDB, os comentários de bastidores são de que o partido terminou o ano com raiva do governo e iniciou 2012 com ódio. Daí, a grande preocupação do governo com a votação do projeto que cria o fundo de previdência do servidor. O PMDB, partido do vice-presidente da República, Michel Temer, já perdeu dois ministros no rastro das denúncias: Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo). Este, do grupo do presidente do Senado, José Sarney (AP); aquele, um forte aliado de Temer.

Etapas. A faxina de Dilma está sendo feita em duas etapas. A primeira foi encerrada com a queda do então ministro Carlos Lupi (Trabalho), em dezembro. A segunda começou em janeiro, pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), um reduto peemedebista. De uma vez só, o partido perdeu Elias Fernandes (diretor-geral), Albert Gradvhol (diretor de Administração) e Rennys Aguiar Frota (diretor de produção da autarquia).

Por causa da demissão dos três, houve um princípio de rebelião no PMDB, liderada pelo deputado Danilo Forte (CE) e pelo líder Henrique Eduardo Alves (RN). Padrinho de Elias Fernandes, Henrique Alves, chegou a ameaçar o governo. Mas recuou diante da promessa de que poderá nomear o novo diretor-geral do Dnocs. Enquadrado, Henrique Alves está aguardando a hora de apresentar o candidato ao cargo: "Está combinado que indicarei um nome do partido, e esse será do Rio Grande do Norte".

PR. A maior faxina da presidente Dilma ocorreu no setor de transportes. Atingiu tanto o ministério quanto as autarquias a ele ligadas - Dnit e Valec, a estatal que toca as ferrovias. A limpeza atingiu 30 dirigentes e assessores do setor, entre eles Alfredo Nascimento, que era ministro; Luiz Antonio Pagot (diretor-geral do Dnit); e José Francisco das Neves, presidente da Valec.

Desde então, o PR deixou a base do governo e adotou uma posição de independência. Na última terça-feira, o partido não mandou representante para a reunião do Conselho Político. A volta do PR ao governo está condicionada à substituição do ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Embora filiado ao partido, a cúpula do PR não se considera representada pelo ministro, que conta com a simpatia da presidente.

O PR tem oito senadores, o que significa 10% da Casa. A presidente encarregou a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) de tentar atrair o PR de volta. O alvo das conversas de Ideli é o senador Blairo Maggi (MT), que mais se afastou do governo. Ele ficou magoado com a demissão de Pagot do Dnit.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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