domingo, 9 de setembro de 2012

Em Recife, Sérgio Guerra: “Nunca cogitamos a polarização PT/PSB”

Manoel Guimarães

Presidente nacional do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra descreveu como “esperada” a subida de seu candidato, Daniel Coelho (PSDB), nas pesquisas de intenções de voto no Recife. “Nunca previ uma polarização entre PT e PSB. Isso não tem a ver com as questões reais da cidade”, coloca. Nessa entrevista ao JC, o dirigente também admitiu a possibilidade de, caso Daniel não chegue ao segundo turno, o PSDB apoiar os socialistas. “Não temos dificuldade nenhuma de apoiar um candidato do PSB, muito menos um candidato como Geraldo Julio. Mas temos o nosso candidato”, pondera Sérgio Guerra.

JORNAL DO COMMERCIO - Antes da campanha, era esperada uma polarização entre PT e PSB, que até vem ocorrendo, mas Daniel está encostando. Ele pode quebrar essa polarização?

SÉRGIO GUERRA - Eu nunca previ polarização entre PT e PSB. Acho que essa polarização não tem nada a ver com as questões reais da cidade. O que está em discussão não é um partido ou outro, é a cidade, as perspectivas, as necessidades a serem enfrentadas. Acho que o candidato bom para isso é Daniel. Nós entendemos que há um espaço para um candidato novo, que tenha um discurso coerente e uma vida limpa nessa eleição. E fosse politicamente correto e equilibrado. No meio dessa confusão, alguém tinha que se definir pelo seu próprio brilho, pelo talento, pelo conjunto de suas propostas. Nós apostamos que esse alguém seria Daniel, e acho que será Daniel, hoje, amanhã e depois. Acho que ele consegue passar todos.

JC - Em quanto tempo?

GUERRA - Não posso afirmar. Não trabalho com futurologia, mas pelo menos é lógico que passe. As campanhas são muito curtas, o candidato que lidera é mais do que recente, e o quadro é de clara mudança de atitude. Penso que Daniel tem todas as características dessa mudança. Não posso prever se ele vai ou não ser o vencedor, mas ele tem grandes chances.

JC - Tem se questionado a questão de Daniel utilizar a cor verde numa candidatura pelo PSDB, que sempre foi marcado pelo azul e amarelo. Como vê essa questão?

GUERRA - Mais do que ninguém, Daniel pode sustentar o verde aqui no Recife. O PSDB não se define dessa forma, através de cores. Nosso partido é democrático, aberto, novo. Não duvidem disso, que vão se dar mal.

JC - Comenta-se que num segundo turno entre PT e PSB, o PSDB apoiaria Geraldo Julio. Essa é a linha?

GUERRA - Nós não temos dificuldade nenhuma de apoiar um candidato do PSB em Pernambuco ou em qualquer lugar, muito menos um candidato como Geraldo Julio. Agora, nós temos o nosso candidato. Vamos apoiar o nosso e vamos ganhar com ele. Que candidato é esse que apoia logo uma segunda opção? (risos)

JC - Não haveria constrangimento em subir no palanque onde já está o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB)?

GUERRA - Não teria constrangimento de ter uma aliança com o PSB. Tanto que já fizemos no Brasil inteiro. Temos alianças fortes como Curitiba e Belo Horizonte. Sobre Jarbas, tudo o que eu tinha que falar já falei. Jarbas não nos impede a coisa nenhuma.

JC - Então existe uma possibilidade de o PSDB ir para a base de Eduardo ao fim desta eleição...

GUERRA - Jeito há, mas nunca fomos colocados para isso, nem nunca propusemos isso. E não estamos interessados em discutir sobre isso.

JC - Essa eleição municipal pode alterar a configuração nacional entre PSB e PSDB?

GUERRA - É uma bobagem nacionalizar campanhas municipais. Eleições municipais têm a ver com as vocações, as personalidades, as conjunturas locais. Não têm muito a ver com as eleições gerais. Mas esta eleição vai ter impacto sobre o quadro nacional. Com os resultados, a gente sentará de novo para pensar. É absolutamente precoce e precário estabelecer projeções agora. Projeções para esta eleição de agora estão dando errado, imagine para daqui a dois anos. Estas eleições vão mostrar um PT enfraquecido. O PT hoje só é favorito em Goiânia, entre as capitais. Fora isso, o PT não tem chance. Está provavelmente derrotado em Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Belo Horizonte e tantos outros.

JC - Isso complica a situação para a sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT)?

GUERRA - Dilma tem um problema para resolver. A base não gosta dela e ela não gosta da base que tem. Então, há uma grande contradição entre Dilma e sua base. Outro problema é que as ideias que ela defende e os pontos de vista que ela sustenta não têm muito a ver com a prática do governo dela. Muito autoritarismo e quase nenhuma solução. Acho que o PT cumpriu um ciclo no Brasil, que a economia não vai bem, nem irá bem. O governo vai mal, as ações do governo não acontecem. Esse apelo recente à privatização não é sincero, nem acredito que vá dar certo. O PT está em maus lençóis, apesar de ter um governo muito aprovado. Dilma tem um discurso adequado e uma prática equivocada. E claro que isso faz diferença numa eleição. Acho que a próxima eleição brasileira vai nos mostrar um novo Brasil. E não há reserva de mercado para ninguém, nem para o PSDB, nem para o PT, nem para nenhum outro partido.

JC - PSDB e PT polarizam as eleições presidenciais desde 1994. Acredita que essa situação se manterá em 2014?

GUERRA - Há uma liderança muito forte do passado, que é Lula (PT), que seguramente representou e representa o seu partido. Mas ele não disputará eleições. Então, é provável que a próxima eleição se desenvolva na perspectiva do novo Brasil, o País que vamos discutir para o futuro. Não confio nesse bloqueio PSDB-PT, não aposto nele. A votação que Marina Silva (ex-PV) teve em 2010 demonstra que esse bloqueio está saturado. Eduardo Campos (PSB) é um nome majoritário viável para as eleições brasileiras. Hoje, amanhã ou depois de amanhã.

JC - Com o apoio do PSDB em 2014?

GUERRA - O PSDB tem candidato. Nosso candidato provavelmente será o senador Aécio Neves (MG). É muito cedo para falar nisso. Primeiro temos que atravessar as eleições municipais. Fazer elas corretamente, e vamos fazer. Neste momento, nós lideramos as eleições em Manaus, Teresina, São Luís, João Pessoa, Campina Grande e Maceió. Só para falarmos no Norte e Nordeste. O PSDB vai bem nesta campanha. Sofreu alguns danos lá pelo Centro-Oeste, por conta dessa discussão de Carlinhos Cachoeira. Em São Paulo, há uma crise na nossa campanha, mas esperamos que José Serra recupere a liderança e também ganhe a eleição. No geral, o partido vai muito bem, deve sair muito bem desta eleição. E posso garantir que as nossas divisões hoje são muito menores do que antes.

JC - Então Eduardo teria que se lançar candidato à Presidência fora de uma aliança com PSDB?

GUERRA - Não tenho como especular sobre a possível candidatura dele. Acho que ele tem envergadura necessária para disputar um cargo majoritário nacional, e isso o credencia a pensar numa eleição para presidente ou vice. Não me atrevo a pensar em nada além disso.

JC - Se perder no Recife, o PT vai para a oposição em Pernambuco?

GUERRA - O PT já gastou o que tinha de oposição, no tempo que foi oposição ao PSDB (risos). Não vão para oposição nenhuma. Vão se acomodar. O PSDB continuará na sua trilha, independente e afirmativa, defendendo seus pontos de vista e seus compromissos.

JC - Qual a meta do PSDB nacional para estas eleições?

GUERRA - Em 2008 elegemos 780 prefeitos. Agora, gostaríamos de eleger mil. Seria um excelente resultado. Acho que faremos entre 800 e mil prefeitos. Isso segura um pedaço grande da oposição. Mas outros partidos que não estão no campo do governo também devem ter resultados expressivos. O DEM deve eleger pelo menos dois prefeitos de Capital – Salvador e Aracaju.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

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