Ex-secretário-geral do partido sentiu o cheiro de queimado, teve sorte e escapou da lâmina do mensalão
Em 2003, Silvio Pereira, secretário de Organização do PT, tornou-se um dos homens mais poderosos do país. Centralizou os registros de candidatos a cargos no governo e, depois da posse de Lula, comandou o Grupo de Trabalhos Eleitorais. Ele foi um dos primeiros petistas a ver em Marcos Valério um gênio das finanças. Quando ia ao Planalto, despachava numa sala próxima à do comissário José Dirceu. Tinha 42 anos e viera de Osasco, onde trabalhara na lanchonete da família, a Cebolinha. Tornou-se uma estrela promissora da nova ordem.
O PT tinha dois propinodutos. Um ficou conhecido como mensalão, o outro, apelidado de "gibi", remunerava companheiros a cargos que pareciam mal remunerados. Conta a lenda que "Silvinho" jogou no lixo as 150 cadernetas de anotações de seus primeiros tempos de poder.
Em 2005 explodiu o escândalo do mensalão e ele foi acusado de formar um triunvirato com José Dirceu e Delúbio. Meses depois, apanharam-no com uma Land Rover de R$ 74 mil, presenteada por um empreiteiro. Deixou o cargo e o partido. Em maio de 2006 deu uma entrevista à repórter Soraya Aggege com a mais detalhada narrativa petista do mensalão. Temia até mesmo ser assassinado. Foi dado por louco. Seus advogados informavam que ele passava por "visível transtorno de adaptação à realidade". Era o contrário, o governo é que transtornava a realidade, como se viu no Supremo.
Silvio Pereira foi um homem de sorte. Não teve cargo público nem há registro de que tenha tocado em dinheiro do Banco Rural. Com isso, o Supremo excluiu-o da denúncia por peculato e corrupção ativa. Sobrou-lhe uma acusação de formação de quadrilha, mas ele foi clarividente: fez um acordo com o Ministério Público e aceitou uma pena de 750 horas de serviços comunitários.
Silvinho protegeu o arquivo de sua memória. Fez um curso de gastronomia e, em julho passado, planejava o cardápio do restaurante de sua irmã, ao lado da sua lanchonete, a Tia Lela, próxima à Prefeitura de Osasco.
PANAMERICANO
Há alguns meses surgiu a possi-bilidade de uma colaboração dos diretores do Banco PanAmericano com a Viúva. Não andou muito. Com 22 indiciados e o destino da cúpula do Banco Rural, a conversa poderá ser retomada em outros termos.
IDC
Pelo andar da carruagem do julgamento do mensalão, grandes empresas, bancos, partidos políticos e órgãos públicos deveriam criar uma nova função: o IDC.
Seria um funcionário (não precisa ser diretor) encarregado de dizer uma só frase: "Isso dá cadeia".
JUSTIÇA
Quem acusava Nosso Guia de ter aparelhado o Supremo deve reconhecer que nenhum presidente nomeou tantos ministros que passassem a lâmina em seus companheiros. Foi Lula quem nomeou Joaquim Barbosa, Cezar Peluso e Ayres Britto, todos sob a relativa influência do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. E foi Dilma quem nomeou Rosa Weber e Luiz Fux. Somam cinco votos. Ricardo Lewandowski e José Antonio Dias Toffoli somam dois.
OBAMA
Se discurso de convenção pesa em resultado eleitoral, Barack Obama precisará rolar na lama para conseguir mais quatro anos na Casa Branca. Depois de uma apresentação fabulosa de Bill Clinton, o companheiro patinou em platitudes patrióticas.
LULA JOGA TUDO
Com sua kriptonita enfraquecida pelo Supremo, SuperLula deverá jogar tudo para que Fernando Haddad vá ao segundo turno em São Paulo. Em tempo: Celso Russomanno nada tem a ver com oposição ao PT.
AVISO AMIGO
O repórter Rafael Gomide teve acesso ao relatório de 28 páginas sobre as condições de segurança da Biblioteca Nacional.
Nele listam-se casos de hidrantes bloqueados, escadas obstruídas, portas de escape magneticamente fechadas e gambiarras no sistema elétrico.
A Biblioteca Nacional fica perto do Museu de Arte Moderna, onde, em 1978, um incêndio provocou o maior desastre cultural da história do país.
O fogo levou 90% do acervo, inclusive uma retrospectiva do artista uruguaio Joaquín Torres Garcia, quase toda de madeira. À época a direção do museu disse que ele era seguro, pois o eletricista "não deixava fios desencapados".
A Biblioteca Nacional informa que investiu R$ 1,2 milhão num Sistema de Detecção de Alarme. Em 2011 os doutores gastaram cerca de R$ 1 milhão na organização de exposições e eventos.
MADAME NATASHA
Madame Natasha adora o termo "periguete", encantou-se por Suelen e agradece ao Padre Eterno porque o julgamento do mensalão e "Avenida Brasil" são transmitidos em horários diferentes.
Ela acredita que o ministro Luiz Fux enriqueceu o vocabulário político nacional ao criar o conceito de "gestão tenebrosa".
A senhora horroriza-se quando ouve a expressão "operadores do Direito". Seu medo é que a chamem de operadora do idioma.
PRONADA
Nos próximos quatro domingos o signatário implementará um projeto-piloto do PAC, o Pronada, iniciativa destinada a incentivar o ócio.
Será a única obra do PAC plenamente concluída em apenas um mês.
SUBSÍDIOS PARA O CÁLCULO DE PENAS
O provável desfecho do julgamento do mensalão poderá abrir uma nova época nos procedimentos judiciais de Pindorama. Todos os réus apresentaram-se ao Supremo defendendo a própria pele, como se o conjunto da obra tivesse acontecido na Austrália. O ministro Joaquim Barbosa reconstruiu a trama e deu-se a encalacrada geral. É possível que futuros réus entendam ser melhor negócio colaborar com as investigações. ("Delação premiada" é uma expressão infame, pois não se trata de delação, muito menos de prêmio.) Olhado pelo retrovisor, o caso de Silvinho mostra que o melhor serviço que ele poderia prestar à comunidade seria aprofundar sua famosa entrevista.
Em 1990 a juíza americana Kimba Wood sentenciou o bilionário Michael Milken a dez anos de prisão por fraudes no mercado financeiro. Quatro anos antes ele faturara US$ 550 milhões.
Ao condená-lo a pena tão alta, Wood deu três razões:
1) O senhor não precisava de tanto dinheiro.
2) O senhor permitiu que o apresentassem como um exemplo para a comunidade.
3) O senhor não quis colaborar com a Promotoria.
Milken mudou de ideia, ajudou o Ministério Público, teve a pena reduzida para dois anos e tornou-se filantropo.
Em 1993 a juíza esteve a um passo de ser nomeada procuradora-geral dos Estados Unidos. Seu nome saiu da lista quando se descobriu que tivera uma imigrante sem documentação como diarista. À época em que contratara a moça isso não era ilegal, mas Kimba Wood caíra no item 2 de seu raciocínio.
Serviço: a preciosa sentença da juíza está na rede.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário