domingo, 27 de janeiro de 2013

Dilma elevou tom para evitar prejuízo eleitoral

Marcelo de Moraes

O tom mais duro adotado pela presidente Dilma Rousseff no pronunciamento feito para anunciar a queda do valor da conta de luz não foi casual. Ele foi resultado da avaliação feita dentro do Palácio do Planalto que identificou um risco para a imagem do governo e da própria Dilma e potencial prejuízo político que poderia se refletir até nas eleições de 2014.

Segundo essa análise, estava se formando uma espécie de "caldo de cultura" junto à opinião pública de que o governo está emperrado, sem conseguir fazer a economia alavancar, com problemas de gestão, sob risco da volta da inflação e de apagão ou racionamento de energia. O fato de integrantes da oposição e até de partidos aliados insistirem no tema também reforçou a impressão de que o assunto tinha tamanho suficiente para virar bandeira de campanha eleitoral e fragilizar o governo.

Por causa disso, segundo interlocutores próximos da presidente, Dilma quis falar de forma mais veemente para não apenas conter as críticas da oposição, mas também para mostrar que o governo está trabalhando. A redução na conta de energia foi considerada a ação ideal para exibir um movimento pró-ativo do governo e de impacto imediato.

Marqueteiro

Como em todos os seus pronunciamentos oficiais, a presidente Dilma discutiu a maneira de falar diretamente com o marqueteiro João Santana e saiu convencida que era estratégico negar a possibilidade de falta de energia no País.

Além de poder mostrar imediatamente uma ação de seu governo - a queda na conta da luz -, Dilma e seus principais auxiliares também sabem que o tema energia é extremamente delicado. Em 2001, o PT ganhou muito espaço no seu discurso de oposição por causa do apagão ocorrido durante o governo Fernando Henrique Cardoso e que provocou racionamento de energia no País. Os petistas aproveitaram a situação e conseguiram um desgaste expressivo na imagem do governo tucano por esse problema. O assunto acabou sendo um ponto importante na campanha presidencial do ano seguinte, vencida pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva.

No caso de Dilma, o tema é mais importante ainda já que seu nome começou a ganhar destaque no cenário político justamente por sua gestão eficiente como secretaria estadual de Minas e Energia do governo do Rio Grande do Sul no período do apagão. Essa atuação fez com que Lula a escolhesse para ocupar o Ministério de Minas e Energia, em 2003, abrindo o caminho para sua trajetória vitoriosa até a eleição presidencial de 2010.

Disposição

O pronunciamento mais forte de Dilma apontou ainda para sua disposição de concorrer à reeleição em 2014. O embate acirrado em torno da questão de energia e as críticas feitas aos adversários foi interpretado por integrantes da oposição como sinal de disposição da presidente em tentar um novo mandato presidencial. Tanto que o PSDB soltou uma nota oficial logo em seguida para criticar a presidente por aproveitar o espaço de cadeia nacional de televisão e rádio para fazer campanha política e antecipar a disputa eleitoral.

O governo prevê que a oposição vá insistir no tema, mas interlocutores diretos da presidente avaliam que o assunto poderá esfriar assim que o desconto na conta de luz comece a ser sentido no bolso dos consumidores brasileiros. Com isso, esperam que a crise de energia deixe de ser um ponto de fragilidade para o governo federal.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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