Com votação menor que a esperada, oposição aguardará decisão do STF
Júnia Gama, Maria Lima e Fernanda Krakovics
BRASÍLIA - O bloco de oposição que se formou no Senado para se opor à candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) não deu os 25 votos esperados para Pedro Taques (PDT-MT) - ele obteve 18 votos - e manteve postura comedida na sessão. Os discursos mais críticos ao favorito ficaram restritos àqueles que tradicionalmente se opõem ao grupo Renan-Sarney, como Pedro Simon (PMDB-RS) e João Capiberibe (PSB-AP). Parlamentares de PSDB, PSB, PSOL e PDT, partidos que lançaram a candidatura de Taques, evitaram ataques mais pesados. O discurso de Taques, antes da votação, foi entendido por alguns como carta branca para traição no seu próprio grupo, quando sugeriu que a eleição de Renan se daria em meio ao "silêncio dos covardes".
Com discurso pela ética, Taques se colocou como a candidatura da esperança, mas já admitindo a derrota, e por vezes citou nominalmente vários colegas ao afirmar que era a opção daqueles que não aceitam a continuidade e que defendem a Ficha Limpa:
- Sou o titular da perda anunciada, do que não acontecerá. Pois existem vitórias que elevam o gênero humano e outras que o rebaixam. Vitórias da esperança e vitórias do desalento. E, tantas vezes, é entre os derrotados, os que perderam, os que não conseguiram, que o espírito humano mais se mostra elevado, que a política renasce - discursou. - Peço o voto de cada senador. Ouçam esse silêncio. É o silêncio do covarde, de quem tem medo. Sintam esse silêncio. Esse é o silêncio de quem aceita, de quem não resiste. Expresso a vossa excelência, senador Renan, meus respeitos pessoais.
Simon relembra renúncia
Taques questionou se seu oponente teria a mesma postura, de "impugnar exageros" do Executivo no Congresso:
- O passado não precisa necessariamente voltar, há modos novos e melhores de fazer política. Esta Casa não é um apêndice, um puxadinho do Executivo. Chega do Senado-perdigueiro, do Senado-sabujo, somos senadores, não leva e traz do Executivo! - exclamou: - Posso ser um perdedor, mas para mim, a lisura, a transparência são predicados inegociáveis de um presidente do Senado. Será que os vencedores também poderão dizê-lo?
Antes de Taques, Simon relembrou a renúncia de Renan em 2007, e o aconselhou a desistir da disputa para não trazer de volta os fatos negativos. O senador gaúcho alegou que Renan sofrerá, inevitavelmente, novo processo na Comissão de Ética da Casa, caso o Supremo decida receber a denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel:
- Ele se elege hoje, e quarta ou quinta-feira o Supremo aceita a representação, e inicia-se um processo lá. E, iniciando um processo lá, vai iniciar um aqui. É evidente que se vai mandar para a Comissão de Ética um debate sobre essa matéria. Vão repetir o filme que já aconteceu.
O senador João Capiberibe (PSB-AP), inimigo político de José Sarney (PMDB-AP), padrinho da candidatura de Renan, também disparou:
- A decisão está em nossas mãos. Reflitam companheiros. Temos dois candidatos: um velho, desgastado e com telhado de vidro, e outro que representa o novo, a oxigenação do Senado.
Outros senadores que costumam fazer oposição mais ferrenha, como Álvaro Dias (PSDB-PR) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), preferiram discursos contidos. Ambos optaram por uma defesa do candidato de oposição, Pedro Taques (PDT-MT), em vez de críticas a Renan.
- O PSDB confia na capacidade e sobretudo na postura ética do senador Taques, para verbalizar nossas aspirações, que queremos sejam também as do povo na direção de um novo tempo, com a postura republicana que se exige de quem preside esta Casa - afirmou Dias.
- A candidatura que apresentei, há alguns dias, foi como forma de reagir, para dizer que não concordamos com este falso consenso. A candidatura a que renunciei, ontem (anteontem), foi também como forma de reação, porque tenho muito orgulho de ter renunciado à candidatura para um dos melhores homens, que tem valores republicanos, neste plenário, que é o senador Taques - pontuou Randolfe.
Logo após o anúncio da derrota, Taques afirmou que aguarda decisão do STF para avaliar se o grupo independente vai apresentar denúncia contra Renan no Conselho de Ética.
- Isso será analisado pelos senadores depois do carnaval, e vai depender do recebimento ou não da denúncia pelo STF. Isso (processo no Supremo) é o Judiciário que vai decidir, o Judiciário tem que dar uma resposta à sociedade brasileira. Confio no Judiciário do Brasil, o exemplo é o mensalão. Temos quadrilheiros e corruptos que este ano dormirão em um local que não seja sua casa - afirmou Taques, destacando que o PGR ofertou denúncia "seríssima" contra Renan.
Em tom combativo, Taques também classificou como "covardes" os senadores que votaram nulo ou em branco. Ao todo, dois votaram em branco e outros dois anularam seus votos.
Fonte: O Globo
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