segunda-feira, 29 de julho de 2013

As verdades, as mentiras e as meia-verdades de Dilma Rousseff – Alberto Goldman

“Propus cinco pactos. Eu tenho um sexto: é o pacto com a verdade”,disse Dilma na entrevista à jornalista Mônica Bergamo na Folha.

Vou aceitar esse jogo da verdade. Vamos lá às verdades:

“Lula e eu somos indissociáveis...o Lula não vai voltar porque ele não foi”. De fato, Dilma é criatura de Lula, o autor e personagem principal. A maioria da população brasileira pensou que estava elegendo uma mulher de personalidade própria. Enganou-se. É o Lula que exerce seu terceiro mandato e agora quer o quarto.

“Quando a gente, nesses dez anos (de governo do PT) cria condições para milhões de brasileiros ascenderem, eles (o povo) vão exigir mais. Essa aceleração (da inclusão) não se deu na qualidade dos serviços públicos”. Milhões também não ascenderam antes de Lula? E quanto à má qualidade dos serviços, todos dizíamos isso, só ela não sabia?

“Nós não somos uma ilha...você não está com aquele vento a favor que estava, não”. Se isso é verdade, e é, porque creditou tudo de bom que houve nesses últimos anos à competência de seus governos? Quando tudo eram flores, foi o governo que fez, agora que são espinhos a culpa é da situação internacional.

“O gigante despertou”. É verdade, despertou. Não adianta mais enrolar.

Vamos agora às mentiras:

“Não estou cogitando isso (enxugamento de ministérios)...vão querer cortar os de direitos humanos, igualdade racial, política para as mulheres...não acho que reduza custos”. Não só se reduziriam custos mas, o mais importante, poderia dar mais eficiência e eficácia à gestão governamental. Por exemplo, o Ministério da Justiça teria uma visão mais abrangente para fazer justiça sem discriminações, o Ministério dos Transportes integraria melhor toda a logística de transportes aglutinando transportes terrestres, hidroviários, os aeroportos e os portos.

“Tudo o que sobe desce, e tudo o que desce sobe”. Não é não! Nas pesquisas, as quais ela se refere, descer é fácil, subir é difícil. Desfeita a credibilidade pelo fato do povo se dar conta da realidade, reconstruí-la é, via de regra, impossível.

“Uma coisa é certa: eu, com médico, me viro. Sem médico, eu não me viro”, se referindo ao programa Mais Médicos. Não se vira, não! Só médico para tratar, sem os instrumentos necessários para trabalhar, não se cuida da saúde da população. O médico, só, não se vira.

“A dívida bruta (do país) está caindo...nunca foi tão baixa”. A dívida bruta está, hoje, em seu ponto mais alto: 60% do PIB. Caiu até 2010 e, a partir daí, vem subindo sistematicamente.

“A inflação é cadente...o tomate está custando 4,50 o kilo”. Não é, já faz tempo, a inflação vem subindo e atingiu mais de 6,5% ao ano, e o tomate, antes da subida, custava muito menos.

Vamos agora às meia-verdades:

“Sabe em quantos anos o Fernando Henrique não cumpriu a meta"? É verdade, em alguns anos do período de FHC a meta não foi cumprida. Mas ele foi o responsável pelo plano real que derrubou a inflação galopante em que o país vivia e permitiu que nos anos seguintes, inclusive no governo Lula, ela pudesse ser controlada. Por que negar esse fato?

“Temos que aumentar a taxa de investimento no Brasil...tanto que tomamos as medidas fundamentais para que isso ocorra. Reduzimos os juros”. Tomaram, sim, lá atrás, depois de manterem por anos juros estratosféricos. Agora estão aumentando, a cada reunião do BC.

“Quero falar do futuro...de agosto até o início do ano que vem, faremos concessões, rodovias, ferrovias....para a ampliação dos investimentos e melhorar a competitividade da economia”. Só agora? Depois de mais de dez anos de estripulias? Isso já ouvimos muitas vezes.

Assim é a Dilma. E assim é o Lula.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo

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