Estava eu na antesala de um canal de TV, esperando a minha hora de participar em um debate, quando ouvi uma confissão preciosa de um dos donos de um instituto de pesquisas de opinião em Pernambuco. Dizia ele com extrema franqueza que sabia da existência de vários institutos que vendiam pontos de avaliação das candidaturas, de acordo com o gosto e as posses do freguês.
Dessa forma, seria possível fazer o plano amostral, colher as respostas e produzir resultados de acordo com a vontade expressa do contrante e o pagamento da pesquisa. Mas ressalvava ele, o seu instituto não fazia isso, porque o maior capital de uma empresa de pesquisa era sua credibilidade junto á opinião pública.
Ora, todo esse preâmbulo foi só para comentar os resultados de uma pesquisa recentemente publicada em jornal da cidade, dando conta da aprovação por parte de 70% dos entrevistados a gestão do "perfeito" Geraldo Júlio. Quando vi a publicação do resultado dessa pesquisa de opinião, me lembrei imediatamente da cândida confissão do empresário das pesquisas. A pesquisa encomendada por um gestor ou seu partido, para ser publicizada em jornais diários, é semelhante a uma manobra publicitária: ou ela mascara a realidade, produzindo o resultado desejado (mediante pagamento) ou ela é uma visão parcial, momentânea do estado de espirito dos entrevistados. Jamais será fruto de uma análise criteriosa do conjunto do plano de gestão.
Porque se fosse, o resultado seria totalmente diferente. A palavra de ordem dessa administração "cripto-eduardista" é imobilidade conjugada com especulação imobiliária. Nunca um gestor produziu um resultado tão contrário ao que prometeu em campanha eleitoral, como o atual-quase-virtual prefeito do Recife.
Prometendo, com o apoio do governador e da presidente da república, construir maravilhosas avenidas do futuro, que partiriam de não se sabe da onde até o centro da cidade, em via expressa, rápida, barata e confortável, o gerente do governador nos deu o inferno, não de Dante, mais dos pobres usuários que necessitam se locomover pelos principais corredores de trânsito da cidade , hoje todos atravancados com entulhos, cavaletes, canaletas etc. Um homem que veio da pasta do planejamento, nunca ouviu falar na necessidade de planejar as obras viárias da capital, para não imobilizá-la de vez, fazendo as pessoas perderem 2,3,4 horas num trânsito abarrotado de carros particulares, com um único passageiro (o motorista)?
Outro ponto grave, gravíssimo é a liberdade absoluta para os negócios da especulação imobiliária no Recife. Ou a chamada "urbanização vertical". Cadê o planejamento urbano, o disciplinamento da ocupação do solo urbano, a proibição da invasão das Zeis e Prezeis ou áreas de interesse social ou público? Não existe mais?
Está "liberado geral" para os empresários da construção civil, aju dados pelas PPP da vida, pela renúncia fiscal e a autorização para destruir áreas de mangue ou de preservação ambiental? - E o impacto sócio-ambiental desse modelo? - O acúmulo dos resíduos sólidos gerados pelos aglomerados urbanos desses empreendimentos imobiliários? A poluição sonora? A quantidade carros particulares por apartamento?
É por essas e outras, que essa pesquisa deve ter sido realizada em Marte ou em Júpiter, não com certeza no calderação rodoviário e imobiliário do Recife.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco
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