No vocabulário político do estado de Pernambuco a palavra "futuro" significa eleição. Dizer "construir o futuro", "fazer o futuro" é o mesmo que afirmar: estamos construindo a nossa estratégia política e eleitoral para 2014, ano das eleições proporcionais e majoritárias (para presidência da República).
Naturalmente, a melhor propaganda de um gestor ou governante para a reeleição ou a eleição para outro mandato eletivo é o nível de satisfação alcançado pela gestão junto à população, que vota e paga os impostos. Quando maior for o grau de efetividade, eficiência e eficácia das ações governamentais perante os eleitores, mais chance terá o candidato de se eleger ou eleger os seus patrocinados.
Infelizmente, entre nós o referido índice é obtido através do nível (alto) da propaganda e do marketing político contratado pelo governante. Não se ouve ou se apura o grau de satisfação do cidadão-cliente ou usuário das políticas públicas governamentais e não-governamentais (como as do IMIP). Se ouve e su divulga aquilo que é previamente solicitado ao instituto de pesquisa para que seja feito ou apurado. Queremos tanto de aprovação, queremos tanto de satisfação. E, aí, pago, o cliente tem a imagem pública que desejar diante do espelho de suas conveniências eleitorais e políticas.
Qual o risco dessa operação "refletiva"? - O auto-engano, a auto-ilusão. Se a estratégia não foi concebida para engabelar a intenção dos votos dos indecisos e convencer aliados recalcitrantes ou possíveis doadores de fundos para a campanha eleitoral, essa estratégia é o caminho mais curto para a perdição ou a derrota.
Mas pode ser que a estratégia corresponda a outro cálculo político: posso não ganhar a eleição; mas posso eleger uma grande bancada, e como presidente do meu partido, me credencio a ser o chefe da oposição nacional. E aí, me credencio para disputar as eleições seguintes. No Brasil, se diz que há apenas dois partidos: o da situação e o da oposição. Os partidos do centro são geralmente agregação de interesses que buscam se maximizar procurando alianças com o possível vencedor.
Para isto, as pesquisas têm alguma serventia. Como instantâneos eleitorais de cada momento da campanha, elas vão sinalizando para onde tende a manada dos indecisos, dos "maria-vai-com-as-outras" ou dos interesseiros. Os partidos que vencem as eleições não são necessariamente os melhores. São os que oferecem ao eleitor a miragem da maior satisfação de seus interesses ou necessidades. Num mercado de ilusões como esse, a chamada virtude cívica ou mesmo o conceito aristotélico de política (o bom e justo governo da cidade) passam longe. Não têm nada a ver.
Não defendo nem louvo esse modelo clientelístico de fazer política (também chamado de "escolha racional"). Mas sou obrigado a constatar que tanto os eleitores (indecisos) quanto os partidos que disputam o voto desses eleitoreis se comportam como negociantes num mercado político, não num fórum. E esse modelo nada tem de republicano. Que o diga uma das grandes pensadoras liberais do século passado, Hannah Arendt, que comparando a democracia grega com a democracia moderna, afirmou que os nossos parlamentos não passam de casas de negócios.
Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
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