O Globo
As duas pesquisas do Ibope divulgadas com a diferença de uma semana, realizadas praticamente no mesmo período de março, a de intenção de votos entre 13 e 20 e a de popularidade entre 14 e 17, mostram sem dúvida uma tendência de queda na aprovação do governo, mas mantém a presidente Dilma na dianteira da corrida presidencial graças a eleitores que apesar de avaliar seu governo como razoável, mesmo assim a preferem às opções existentes na oposição.
As pesquisas foram realizadas em cidades diferentes e por pesquisadores diferentes, uma para o próprio Ibope, que a divulgou através do jornal estado de S. Paulo, e a outra encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que há 20 anos realiza esse levantamento sem fazer pesquisa de intenção de voto, mas apenas de popularidade.
Ao todo, foram 4 mil entrevistas, o que dá uma boa visão do quadro atual. Nem a presidente está “se desmanchando”, como vê o ex-governador José Serra, nem a constante redução da popularidade, um bom sinal para a oposição, tem conseqüências práticas até o momento, pois seus representantes não conseguiram ainda trazer para si a insatisfação do eleitorado.
Embora a avaliação positiva da presidente fosse de 43%, o mesmo nível da sua intenção de voto, Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, diz que as duas medições têm relação entre si, mas não obrigatoriamente terão sempre os mesmo índices. Mas há coincidências interessantes: a avaliação positiva do governo caiu de 43% para 36% em relação a dezembro, uma queda de 7 pontos percentuais, enquanto o de ruim ou péssimo subiu os mesmos 7 pontos percentuais, indo de 20% para 27%.
Essa queda têm sido constante, pois em fevereiro outra pesquisa, do jornal Estado de S. Paulo, já mostrava queda de 3 pontos em relação à de dezembro. A resiliência que a candidatura da presidente Dilma demonstra ter nesses meses de queda de popularidade é um fator contra a oposição se imaginarmos que há um grupo grande de eleitores, cerca de 40% do total, que querem uma mudança inclusive da presidente, mas os candidatos oposicionistas só receberam até agora 25% dos votos nas pesquisas de opinião, aí computados os dos chamados candidatos nanicos.
A pesquisa do Ibope/CNI, no entanto, revela uma queda generalizada da avaliação do governo nas nove áreas pesquisadas. Na Educação, o total de quem desaprova a atuação de Dilma aumentou de 58% para 65%; na Saúde, passou de 72% para 77%; na Segurança Pública subiu de 70% para 76%, e no Meio Ambiente, a desaprovação aumentou de 47% para 54%. Até mesmo na área do governo mais bem avaliada, a de combate à fome e à pobreza, também registrou uma redução na aprovação, de 53% para 48%.
Foram, porém, as áreas relacionadas à economia que tiveram as maiores quedas, prenunciando maus momentos com os problemas que estão no foco do debate político, como os problemas da Petrobrás e o desarranjo nas contas públicas que ocasionou o rebaixamento do grau de investimento do país.
Até o combate ao desemprego, praticamente o carro-chefe do governo, teve a desaprovação aumentada, passando de 49% para 57%. Não são boas novas para o governo, e indicam um grau de insatisfação latente que pode se transferir para a oposição desde que seus candidatos consigam transmitir ao eleitorado a segurança de que têm projetos para o país.
Tudo indica que esta eleição será decidida a favor do candidato que leve ao cidadão comum a esperança de dias melhores, como aconteceu em 2002 quando o sentimento que prevalecia era o de mudança, como hoje. Se não houver uma mensagem forte nesse sentido, o poder incumbente se impõe pela inércia, auxiliado por uma máquina pública que trabalha sempre a favor de quem está no poder.
Essa foi, sem dúvida, a mensagem que o governador Eduardo Campos e a ex-senadora Marina Silva quiseram enviar no programa de ontem, identificando-se como “filhos da esperança”. Feito para grudar sua imagem à de Marina, na esperança de que o eleitorado da Rede identifique Campos como o seu candidato, o programa do PSB pode ter pecado por colocá-lo em plano muito igual ao de Marina.
Em meados de abril teremos dois eventos cruciais para a oposição: o programa nacional do PSDB estrelado pelo senador Aécio Neves, e o lançamento da chapa Campos-Marina. Mas o jogo começa mesmo em julho, depois da Copa e das convenções partidárias. A partir daí as pesquisas ganham relevância como informação. Hoje servem mais para especulação.
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