Aldo Amaral – Presidente da Força Sindical de Pernambuco
Desde o final da década de 70 escuto falar do porto de Suape. O desenvolvimento de Pernambuco será alavancado pelo crescimento e consolidação do Porto de Suape. Se o desenvolvimento chegar, a desigualdade social será amenizada. Oportunidades profissionais surgirão. Investimento em infraestrutura ocorrerá. Os serviços públicos sofrerão processo de ampliação e qualificação. Estas eram as consequências provenientes da construção do Porto de Suape que eram auscultadas por mim.
O Porto de Suape não é apenas um porto. O porto é a célula embrionária. Dela surgiram variadas moléculas. Estas são representadas pelas cidades que cresceram economicamente, mas não necessariamente socialmente. As cidades sofreram aumento populacional. Passaram a ser espaços públicos que recebem diariamente trabalhadores advindos de todos os estados do Brasil. Os problemas surgiram.
Não é necessário inserir neste texto dados socioeconômicos para explicar a realidade de Suape. A minha observação diária é suficiente. Suape cresceu. E ao crescer criou demandas para os municípios em seu entorno. Tais demandas não estão sendo atendidas de modo satisfatório pelo poder público. Não observo na região uma revolução educacional. No caso, construção de mais escolas técnicas, creches, qualificação do ensino básico. Existem tentativas. Mas insuficientes para os desafios existentes.
A infraestrutura do caminho de Suape é capenga. Engarrafamentos são costumeiros. O deslocamento de ir e vir das pessoas que trabalham em Suape é tarefa árdua. Variados trabalhadores acordam às quatro da manhã. Mas o início da jornada laboral só inicia as sete da matina. Porém, o percurso entre Recife e Suape, que deveria durar, no máximo, quarenta minutos, pode chegar a ser de duas horas. O sacrifício desses trabalhadores é diário.
As greves são corriqueiras no Porto de Suape. Elas ocorrem em virtude de que diversas empresas não cumprem com as obrigações trabalhistas para com os trabalhadores. A representação sindical da categoria procura dialogar com as empresas. Intermedeia os interesses dos funcionários junto às empresas. Mas, por vezes, o diálogo não é suficiente. Por consequência, paralisações ocorrem. Interrupções de vias públicas acontecem.
Os investimentos públicos contribuíram para a criação de empregos no Porto de Suape. Contudo, se eles diminuírem, a oferta de emprego amainará. Com isto, desemprego. Deste modo, indago: o que farão os trabalhadores que ficarem desempregados? Eles podem ir para outras partes do estado, como Goiana. E lá conquistarem outra ocupação. Mas se assim ocorrer, as cidades no entorno de Suape ficarão vazias, perderão, certamente, arrecadação e capacidade de investimento. E o que ocorrerá com os desempregados que ficarão? Neste caso, precisarão de novas oportunidades. Estarão ansiosos pela qualificação profissional e à espera de um novo emprego. Mas o poder público terá capacidade e interesse de investir na qualificação profissional destes trabalhadores?
O desenvolvimento socioeconômico planejado contribui para o bem-estar social. Contudo, quando ele ocorre sem planejamento, malefícios são criados para a sociedade e desafios são postos para o poder público. Suape não é apenas a refinaria Abreu e Lima e demais empresas que lá estão. Suape é mais do que isto. Suape foi construído por milhões de trabalhadores. E precisamos olhar para o futuro deles.
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